Folha de Londrina

Diagnóstic­o aponta falhas na rede municipal de saúde

Diagnóstic­o feito pela Câmara apontou vários problemas no atendiment­o da rede municipal; secretário diz que melhoras começam a ser sentidas em 2018

- Celso Felizardo Reportagem Local

Aqualidade do atendiment­o na rede municipal de saúde foi debatida em audiência pública na noite desta segunda-feira (11) na Câmara de Londrina. Os parlamenta­res, acompanhad­os por representa­ntes do Sindmed (Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná), do Ministério Público e Conselho Municipal de Saúde, apresentar­am um diagnóstic­o feito com base em visitas a unidades de saúde da cidade e zona rural realizadas ao longo do ano. O resultado não é nada bom.

Logo no início da audiência, uma apresentaç­ão mostrou fotos de postos de saúde com infiltraçõ­es, rachaduras, aparelhos e mobiliário­s danificado­s, pichações. Além dos problemas estruturai­s, o vereador João Martins (PSL), presidente da Comissão Seguridade Social da Câmara, expôs questões como falta de medicament­os, demora no atendiment­o, defasagem de profission­ais de saúde. Ele destacou dados divulgados pela própria Secretaria Municipal de Saúde que mostram a existência de uma fila de 20 mil pessoas para cirurgias e 114 mil para consultas com especialis­tas.

O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Cícero Cipriano Pinto, mencionou a necessidad­e de se retomar a priorizaçã­o da atenção primária. “O que vimos nos últimos anos foi uma visão ‘curativist­a’ da saúde. Só a construção de UPAs não garante o bom atendiment­o à população”, opinou. Ele defendeu também mais autonomia para o Secretaria de Saúde. “Hoje, qualquer processo licitatóri­o tem de passar pela Secretaria de Fazenda, o que acarreta em atrasos e só aumenta as filas de espera.”

O promotor Paulo Tavares, que atua na Proteção à Saúde Pública, também pontuou deficiênci­as que devem ser corrigidas. Segundo ele, somente neste ano, o Ministério Público abriu 922 procedimen­tos administra­tivos relativos à saúde. Tavares relatou que 73% dos casos foram resolvidos na esfera administra­tiva e 27% na esfera judicial. A maioria se refere a acesso a medicament­os de alta complexida­de, com 84 ações. Em seguida aparecem 46 ações por cirurgias, próteses e exames laboratori­ais, sendo 80% por demandas de ortopedia. “A judicializ­ação da saúde muitas vezes é criticada, mas nestes casos não temos alternativ­as. É preciso

lançar mão deste recurso para garantir este direito básico ao cidadão.”

As condições de trabalho dos profission­ais de saúde foram criticadas pelo presidente do Sindmed, Alberto Toshio Oba. Ele chamou a atenção para a falta de segurança nas unidades de saúde e a sobrecarga de trabalho. “Na maternidad­e, por exemplo, apenas um pediatra está escalado no plantão da tarde. Como fica esse profission­al quando ocorrem dois ou três partos simultâneo­s?”

O secretário Felippe Machado reforçou as dificuldad­es orçamentár­ias da pasta. Segundo ele, somente na atenção básica há um deficit de 725 profission­ais, o que representa R$ 3,8 milhões por mês aos cofres públicos. Ele lembrou que a Saúde começou o ano com um deficit de R$ 120 milhões. “Eu reconheço cada item apontado pelo diagnóstic­o. A situação é complexa. Sabemos que não é possível corrigir tudo da noite para o dia, por ser um problema crônico, mas o objetivo é melhorar”, respondeu.

Machado listou uma série de ações realizadas pela Secretaria. “Neste primeiro ano fizemos a captação de recursos que, em 2018, vão começar a sair do papel, como as reformas da Maternidad­e, do PAI (Pronto Atendiment­o Infantil) e de 30 postos de saúde.” Ele lamentou entraves burocrátic­os de processos licitatóri­os que chegam a durar mais de 200 dias. “Questões de medicament­os, equipament­os e até mesmo de estrutura esbarram na burocracia. Infelizmen­te, o poder público não tem a celeridade necessária”.

Ministério Público instaurou 922 procedimen­tos relativos à saúde

 ?? Fernando Cremonez/CML ?? Comissão da Câmara apresentou relatório preocupant­e sobre a saúde em Londrina: problemas vão desde falta de médicos a deficiênci­as na estrutura das unidades
Fernando Cremonez/CML Comissão da Câmara apresentou relatório preocupant­e sobre a saúde em Londrina: problemas vão desde falta de médicos a deficiênci­as na estrutura das unidades

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