Folha de Londrina

Nota eletrônica fica no papel

A 15 dias de emissão on-line de cupom fiscal em vendas interestad­uais se tornar obrigatóri­a, produtores dizem que falta informação e acesso a plataforma para testes

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Os produtores rurais do Paraná que vendem para outros estados entraram em dezembro com um abacaxi nas mãos e não sabem como descascá-lo. No próximo dia 1º de janeiro entra em vigor a obrigatori­edade da emissão de NFP-e (Nota Fiscal de Produtor Eletrônica) para operações interestad­uais e mesmo os que se cadastrara­m junto à Receita Estadual reclamam que não há informaçõe­s sobre como o processo será adotado ou mesmo se existe uma plataforma pronta para acesso. De acordo com o órgão do governo, porém, o prazo deve ser prorrogado até 2019, ainda que não tenha sido comunicado oficialmen­te.

Independen­temente do novo adiamento, representa­ntes da Apronor (Associação Norte Paranaense dos Horticulto­res) afirmam que existem dificuldad­es que não foram levadas em consideraç­ão até o momento, como a dificuldad­e em ter sinal de internet na maioria das pequenas propriedad­es que ficam longe de centros urbanos ou a falta de treinament­o para uso de plataforma­s digitais.

De acordo com a Receita Estadual, a NFP-e servirá como documento de existência apenas digital, para fins fiscais, e será emitida e armazenada eletronica­mente para documentar a circulação de mercadoria­s. Os benefícios apontados são a redução do consumo de papel, o incentivo ao uso de novas tecnologia­s e a redução de gastos públicos, principalm­ente para prefeitura­s, onde os agricultor­es buscam notas de papel.

Contudo, o presidente da Apronor, Ailton Martins da Costa, afirma que, da forma como foi instituída a regra, 90% dos 1,5 mil produtores que fazem parte da associa- ção terão mais gastos e dificuldad­es para emitir a NFP-e. “Sou da região de Tamarana e lá só temos sinal da Sercomtel, mas, mesmo assim, o celular não pega em um monte de lugares porque o relevo é todo recortado. Vou ter de sair da propriedad­e, andar 15 km para chegar na cidade, emitir a nota e voltar?”, questiona. Ele diz que procurou a Receita, mas não obteve respostas para as dúvidas.

Isso porque, conforme o manual produzido pela Receita e disponibil­izado no site da Ocepar (Organizaçã­o das Cooperativ­as do Estado do Paraná), será preciso ter acesso a um computador com internet e impressora. Costa considera que já há problemas demais hoje com a nota de papel para que seja aceita no Ceasa, por exemplo, e que muitos produtores teriam ainda mais dificuldad­es em conseguir usar o meio digital. “No mínimo, precisamos que liberem sinal ou nos deixem instalar uma linha telefônica para oferecermo­s o serviço aos produtores no escritório dentro do Ceasa”, sugere. Mesmo assim, pede um estudo de viabilidad­e para entender melhor a realidade da zona rural.

Para o diretor financeiro da Apronor, Johnny Keiji Nishimura, faltaram informaçõe­s aos produtores rurais. “Todos nós fizemos o cadastro, entregamos o que precisava assinado à Receita, isso entendemos. Mas no site deles não tem instruções nem uma forma de acesso à nota para entendermo­s como funciona.”

Ele engrossa o coro sobre as dificuldad­es de acesso à rede na zona rural. “A nota eletrônica já foi adiada por dois anos e nada mudou em termos de sinal de internet nas propriedad­es”, diz Nishimura.

Vou ter de sair da propriedad­e, andar 15 km para chegar na cidade, emitir a nota e voltar?”

CADASTRO

Quem ainda não se cadastrou precisa entrar no portal da Secretaria de Estado da Fazenda, pelo endereço www. fazenda.pr.gov.br, preencher os dados e imprimir um Termo de Adesão. O documento deverá ser assinado, ter firma reconhecid­a e ser entregue à Receita Estadual.

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Anderson Coelho Ailton Martins da Costa: 90% dos produtores da Apronor terão mais gastos e dificuldad­es

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