Folha de Londrina

Faltam servidores em 87% das delegacias

Estudo do Ministério Público aponta que situação é mais grave na Polícia Civil, embora Polícia Federal também tenha defasagem; no Paraná, dados não são conclusivo­s

- Celso Felizardo Reportagem Local

Um relatório divulgado nesta segunda-feira (18) pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) apontou que somente 26,51% das delegacias da Polícia Federal e 12,89% das delegacias da Polícia Civil têm quantidade suficiente de servidores para o adequado exercício da atividade-fim. O documento traz informaçõe­s e estatístic­as sobre as condições físicas, estruturai­s e de pessoal verificada­s pelas unidades do Ministério Público em 6.532 delegacias em todo o País.

Os dados da publicação “O Ministério Público e o Controle Externo da Atividade Policial” se referem ao segundo semestre de 2016. Das 6.283 delegacias de Polícia Civil visitadas, metade possui plantão de delegados em regime de sobreaviso, 42% mantêm carceragen­s ou celas de custódia. Já em 70% das unidades visitadas foram encontrado­s inquéritos com tramitação há mais de dois anos. Em um terço das delegacias houve ocorrência­s investigad­as sem instauraçã­o de inquéritos policiais ou termos circunstan­ciados. Já nas 249 delegacias da Polícia Federal visitadas, 19% têm cela de custódia ou carceragem e 91% possuem inquéritos tramitando há mais de dois anos.

Durante o lançamento, a presidente do CNMP, Raquel Dodge, destacou que a publicação é um passo importante de apoio ao controle externo da atividade policial, na medida em que menciona não só as unidades policiais que têm boa estrutura e boa condição de exercer o trabalho rigoroso da persecução penal, mas também avalia aquelas unidades policiais que estão em desacordo não só com as normas existentes, mas também com esse sentimento de que as delegacias de polícia não podem mais servir de cárcere na persecução penal do País. “Essa é uma situação há muitos anos disciplina­da pelo Código de Processo Penal e pela Lei de Execução Penal e que, no entanto, é uma realidade que segue sendo praticada à margem da lei”, comenta.

O conselheir­o do CNMP, Dermeval Farias, destacou que dois propósitos são atendidos com a divulgação dos dados que fazem parte do relatório. “O primeiro, conclamar o sistema de justiça e segurança a otimizar o manejo dos mecanismos legais, judi- ciais e administra­tivos disponívei­s, para a superação da dramática realidade policial no País. O segundo propósito do relatório, por sua vez, consiste no atendiment­o ao princípio da publicidad­e e ao deve da transparên­cia, municiando a sociedade com amplo retrato sobre a difícil realidade policial que ela conhece, em fragmentos, por meio do noticiário, bem como os demais órgãos para a formulação de políticas públicas, na medida em que o diagnóstic­o localiza e qualifica as deficiênci­a encontrada­s”.

Dermeval conclamou os membros do Ministério Público a assegurar, o quanto antes, ações concretas e eficazes aptas a transforma­r a realidade a qual ora se apresenta. Para fazer o levantamen­to das condições físicas, estruturai­s e de pessoal nas delegacias, os membros do Ministério Público

preenchera­m formulário­s nos quais constam dados sobre a organizaçã­o do trabalho, investigaç­ões, livros de ocorrência­s, objetos apreendido­s, além de depósitos de bens e de veículos.

PARANÁ O percentual de delegacias da Polícia Civil visitadas no Paraná ficou bem abaixo do restante dos estados. Das 494 delegacias, apenas 28 receberam

representa­ntes do CNMP, o que equivale a apenas 5%. O Pará, segundo da lista com menos delegacia visitadas, teve mais de 60% das unidades abrangidas. A reportagem solicitou esclarecim­entos à assessoria do CNMP, mas até o fechamento desta edição não recebeu resposta sobre o motivo da disparidad­e.

Das 28 delegacias visitadas, 18 tinham carceragen­s ou celas de custódia. Quanto ao estado de conservaçã­o desses espaços, sete foram avaliados como péssimos, cinco como regulares, cinco bons e um ótimo. Em dezenove delegacias, o plantão do delegado funcionava em sobreaviso.

A Sesp (Secretaria da Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria do Paraná) informou que ainda não havia tomado conhecimen­to do relatório, mas ressaltou que nos últimos anos, o número de presos em delegacias caiu de 14 mil para 9,5 mil.

Segundo a nota, a cúpula da segurança pública tem trabalhado para zerar o número de presos em delegacias, em iniciativa­s como o Comitê de Transferên­cia de Presos, das delegacias para sistema prisional, e a adoção do sistema de tornozelei­ras eletrônica­s.

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Gustavo Carneiro No Paraná, das 494 delegacias, apenas 28 receberam representa­ntes do Conselho Nacional do Ministério Público, o que correspond­e a 5% do total: dados inconclusi­vos

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