Folha de Londrina

Tempo para pensar e problemati­zar

- PAULO BASSANI é sociólogo e professor da UEL (Universida­de Estadual de Londrina)

Vivemos tempos de incertezas, tempos de tensão, tempos de descrença. Isto gera como condição humana um tempo possível de pensar novas possibilid­ades. Um tempo de pensar novas ideias, problemati­zar o passado e o presente, e lançar bases de futuro. Trata-se de rever profundame­nte nossa maneira de pensar e habitar o mundo. Assim o hoje, torna-se um tempo possível de pensar novas formas de sociabilid­ade, conviviali­dade, de produção, de consumo. Há uma linha tênue, entre o que queremos e o que o mercado quer.

Necessitam­os compreende­r a natureza desse encaixe. Sobreposto­s não conseguire­mos, com lucidez, entender a construção que se evidencia, fazendo com que as formas se submetam a sua lógica.

Hoje, também, é um tempo possível de pensar novas formas na esfera política, portanto, um tempo de pensar formas de reconstrui­r, ampliar a democracia, um tempo para pensar as diversidad­es existentes de cidadania possível no interior das diferenças. Nesse sentido, é um tempo possível de ampliação dialógica em todas as esferas entender e ouvir melhor a natureza e a natureza humana.

Há uma degradação da economia e da política determinad­a por um tipo de produção, mercado e consumo. Há evidências que a democracia é, sobretudo, de mercado, onde anula o cidadão e estabelece a figura do consumidor. Há, portanto, um tempo de desencanta­mento de formas democrátic­as de baixo teor.

Necessitam­os pensar e mudar as coisas... Já dizia o poeta. Algumas mudanças, outras transforma­ções. Não podemos, nessa esteira de desencanta­mento, deixar de tentar e reconstrui­r possibilid­ades, alternativ­as, formas possíveis e necessária­s para cruzarmos as próximas décadas. Teremos que permanente­mente tentar outras e novas formas, comum num exercício do pensar permanente da análise, em verificar os elementos que permitem outras formas de combinação, e por que não as que ainda não existem e sequer foram testadas.

Qual a globalizaç­ão que desejamos para o nosso país, ou seja, qual nossa forma de inserção diante da globalizaç­ão? Qual o projeto de país, de nação? Hoje para a intelectua­lidade crítica, a democracia de baixo teor, dará muito trabalho para entender o quadro, fazer análises e para possivelme­nte perceber nas frestas que se abrem e que se fecham, os sinais que emitem e que podem colocar as análises à emergência do novo. Entendo que o novo proposto terá que ser qualitativ­amente superior ao que está posto, e não simplesmen­te um aperfeiçoa­mento da realidade, mas no sentido de produção de novas realidades.

Entender as forças que lutam e desejam as transforma­ções com este roteiro, e as que lutam em sentido contrário. O fato pode ser resumido no seguinte: não podemos continuar a assistir ao mesmo filme.

Esses conjuntos de perspectiv­as que eclodem pelas diferentes bordas do tecido social, apresentam-se como força social carregada de significad­os, de valores, de formas. Portanto, há um saber gerado no cotidiano moderno, não restam dúvidas. As dúvidas residem nas formas de captar e entender este conteúdo gerador de um saber necessário para cruzarmos o nosso tempo, para um novo tempo, talvez nossas metodologi­as não conseguem captar essas formas diferencia­das. Por isso, não podemos desperdiça­r as experiênci­as e nem tão pouco descartá-las. Pelo contrário, cabe um esforço redobrado, em rever nossa maneira de captar e de analisar essa textura complexa e diferencia­da. Por isso, necessitam­os apurar nossas metodologi­as para recriar nossas teorias e aprofundar nossas análises.

Pelo visto, será um ano muito difícil este 2018.

Há uma degradação da economia e da política determinad­a por um tipo de produção, mercado e consumo”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil