Eleições sem exageros
Nas últimas décadas, o brasileiro assistiu campanhas eleitorais extremamente caras e os maiores financiadores delas eram empresas privadas. E, conforme comprovou a Operação Lava Jato, muitas delas tinham interesses dentro do Estado. As investigações apontaram uma relação imoral entre empresas e políticos, com caixa 2 e dinheiro público abastecendo campanhas. As doações eleitorais de empresas privadas acabaram proibidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha foi a alternativa aprovada pelo Congresso Nacional para assegurar recursos para as campanhas de 2018. Serão destinados R$ 1,7 bilhão em recursos públicos para o próximo processo eleitoral. Pelas novas regras, o fundo terá como fontes de financiamento as emendas de bancadas de deputados e senadores no ano eleitoral (R$ 1,7 bilhão), mas em entrevista à FOLHA, neste fim de semana, o economista fundador da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, lembra que há mais duas fontes de verbas: o valor da renúncia fiscal economizada com o fim da propaganda partidária nas emissoras de rádio e de TV, em torno de R$ 700 milhões, além de R$ 900 milhões do Fundo Partidário que, afirma Castello Branco, continua existindo. Somando tudo, pode chegar a mais de R$ 3 bilhões de recursos. O tema ainda é motivo de reclamações e polêmicas. Enquanto entidades como Contas Abertas consideram um exagero a quantia, alguns políticos afirmam que os recursos serão insuficientes e outros concordam que a mudança pode representar uma cultura positiva de economizar e dar adeus às campanhas milionárias. As eleições do ano que vem deverão mesmo funcionar como uma experiência, considerando a novidade do fundo de financiamento. O processo eleitoral não é barato e os recursos financeiros são importantes no sentido de informar o eleitor. O problema é o exagero nos gastos, o toma lá da cá, o caixa 2 e os privilégios. O brasileiro pediu por mudanças e mesmo que as medidas não signifiquem uma reforma política impactante, ao menos obrigou os políticos a refletirem sobre a vontade do cidadão.