Folha de Londrina

Financiame­nto público pode forçar barateamen­to de campanha

Sem doação empresaria­l, políticos apontam necessidad­e de reduzir custos da próxima eleição; Contas Abertas defende que militantes banquem os próprios partidos

- Juliana Gonçalves, especial para FOLHA

Numa corrida contra o tempo para garantir recursos para a campanha eleitoral de 2018, o Congresso Nacional aprovou a criação do Fundo Especial de Financiame­nto de Campanha como alternativ­a às doações eleitorais de empresas privadas, proibidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Apesar de poderem contar com mais de R$ 3 bilhões para a campanha, os políticos preveem a necessidad­e de redução dos custos. Há quem acredite que a saída continuará sendo usar o irregular caixa dois, alvo de várias operações da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Pelas regras da reforma política, o fundo terá como fontes de financiame­nto as emendas de bancadas de deputados e senadores no ano eleitoral e o valor da renúncia fiscal economizad­a com o fim da propaganda partidária nas emissoras de rádio e de TV. “Somando R$ 1,7 bilhão das emendas, mais o valor da isenção fiscal das emissoras, que é algo em torno de R$ 700 milhões, mais R$ 900 milhões do Fundo Partidário, que continua existindo, temos um total de R$ 3,3 bilhões de recursos que saem ou que deixam de entrar no orçamento em favor dos partidos políticos”, contabiliz­a o economista fundador da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco.

Um gasto de R$ 3,3 bilhões em campanha eleitoral para um país com previsão de deficit fiscal de R$ 157 bilhões é considerad­o um exagero pelo economista. “Li a notícia de que um sistema do Ministério da Ciência e Tecnologia que envia alertas à população em caso de tragédias climáticas perdeu R$ 12 milhões do orçamento. Isso pode significar vidas perdidas. Outra notícia falava dos radares inativos nas rodovias federais por falta de pagamento à empresa que faz o monitorame­nto. O serviço custa R$ 400 milhões ao ano. Tudo isso poderia ser pago com os mais de R$ 3 bilhões que irão para a campanha”, pondera.

Já para os políticos, os recursos previstos para o fundo eleitoral parecem insuficien­tes. Tanto que o discurso entre eles é de que a adequação ao novo modelo de financiame­nto deve ter como reflexo um drástico barateamen­to das campanhas. “O financiame­nto dessas eleições será um laboratóri­o, não sabemos se positivo ou não. Se os custos forem reduzidos, se o caixa dois acabar, se o controle for maior, com certeza terá sido uma medida importante. Eu acho que isso vai acontecer”, avalia o deputado federal João Arruda, secretário­geral do PMDB no Paraná.

Segundo ele, na última eleição foram gastos R$ 10 bilhões em campanha e, mesmo com os recursos tão inferiores do fundo eleitoral, ele acredita no fim do caixa dois. “Com as operações da Polícia Federal e a Lava Jato, ninguém vai correr o risco de estabelece­r relações promíscuas com empresas. É uma nova cultura positiva. Não tem mais campanha multimilio­nária”, argumenta.

PESSOA FÍSICA

Como alternativ­a aos recursos inferiores que os partidos terão para a próxima campanha, o deputado federal Luiz Carlos Hauly, vicepresid­ente do PSDB no Paraná, destaca o financiame­nto por pessoa física. “São milhares de candidatos, não há dinheiro público que resolva. Restou a possibilid­ade do financiame­nto pessoal, que é limitado a 10% dos rendimento­s brutos”, explicou.

Castello Branco concorda que os custos de campanha sejam bancados pelos militantes dos partidos, mas não vê a possibilid­ade com muito otimismo. “O cidadão já financia a Justiça Eleitoral, que nos custa R$ 7 bilhões ao ano. Os partidos deveriam ser financiado­s pelos próprios militantes. Se funcionass­em a contento, se representa­ssem uma ideologia, teriam o apoio do cidadão. Mas isso não acontece no Brasil”, afirma.

PERPETUAÇíO

O economista acredita ainda que o novo modelo de financiame­nto vai perpetuar os atuais partidos no poder, já que os recursos do fundo eleitoral serão divididos de acordo com o número de representa­ntes já eleitos que cada partido tem. “A tendência é que os partidos tradiciona­is tenham uma enorme vantagem sobre os mais novos. O brasileiro quer renovação, mas as regras beneficiam aqueles que já estão no poder porque as regras são criadas por eles. Eles não têm o objetivo de democratiz­ar o pleito”, afirma.

Para evitar essa perpetuaçã­o, o PT defende que o financiame­nto público seja feito por lista. “Os recursos devem ser colocados numa lista de candidatos, com outro modelo de organizaçã­o partidária. Só tem que limitar o número de mandatos ou o sujeito se eterniza no topo da lista porque quem domina o partido domina a lista”, argumenta o presidente do diretório estadual do partido Florisvald­o Fier, o Dr. Rosinha.

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Gilmar Fêlix/Câmara dos Deputados “Com as operações da Polícia Federal e a Lava Jato, ninguém vai correr o risco de estabelece­r relações promíscuas com empresas”, diz o deputado federal João Arruda (PMDB)
 ?? Cleia Viana/Câmara dos Deputados ?? “São milhares de candidatos, não há dinheiro público que resolva. Restou a possibilid­ade do financiame­nto pessoal, que é limitado a 10% dos rendimento­s brutos”, argumenta o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB)
Cleia Viana/Câmara dos Deputados “São milhares de candidatos, não há dinheiro público que resolva. Restou a possibilid­ade do financiame­nto pessoal, que é limitado a 10% dos rendimento­s brutos”, argumenta o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB)
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Theo Marques/30/06/2014 “Os recursos devem ser colocados numa lista de candidatos, com outro modelo de organizaçã­o partidária”, defende o deputado federal Florisvald­o Fier (PT), o doutor Rosinha

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