Folha de Londrina

Boeing poderá se limitar à compra de 35% da Embraer

Para adquirir um pedaço maior da empresa, seria necessária a benção do governo, que já descartou esta possibilid­ade

- Economia@folhadelon­drina.com.br Fernanda Guimarães, Luciana Collet Letícia Fucuchima Agência Estado

A Boeing poderá ter que se contentar a ficar com uma fatia de 35% da Embraer. Partindo da premissa de que o governo não tem interesse de aprovar a venda da fabricante de aeronaves para sua rival, dada a ligação da companhia à segurança nacional e o desgaste político que enfrentari­a ao dar aval para a transação, a companhia americana poderá se satisfazer com a participaç­ão máxima permitida em estatuto, sem que a bênção do governo para o negócio seja necessária.

No Estatuto Social da Embraer, no artigo 54, está previsto que qualquer acionista, ou grupo de acionistas, que adquira 35% ou mais do total das ações da empresa terá que submeter a transação à União, para que possa realizar uma oferta pública de ações para aquisição da totalidade das ações de emissão da companhia.

O governo, que já descartou a perda de controle da empresa, tem o poder de barrar, neste momento, a negociação por conta da golden share, que nada mais é do que uma ação de classe especial que é retida pelo poder público após uma privatizaç­ão. Se for permitida que a oferta pública aconteça, a integralid­ade da companhia poderá ir para as mãos da Boeing, visto que dependerá de cada acionista da Embraer a decisão de aceitar ou não o valor por ação ofertado pela Boeing, preço que tende a ser atrativo.

A maior parte da fatia da União na empresa é via o braço de participaç­ões do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvi­mento Econômico e Social), o BNDESPar, que possui pouco mais de 5% da companhia.

A Embraer é uma corporatio­n, ou seja, tem capital pulverizad­o, sendo que além do BNDESPar, estão entre os principais acionistas a gestora americana Brandes, como a maior acionista individual, com 15% do total, a Mondrian, com cerca de 14%, e a gestora BlackRock, com outros 5%. Os demais 64,5% estão dispersos no mercado. Além de ações listadas na bolsa brasileira, a Embraer possui ADRs na Bolsa de Nova York, que são recibos de ações estrangeir­as, sendo que 51% estão concentrad­as na Nyse e 53% na B3.

Embora as informaçõe­s publicadas até agora deem conta de que, para ajudar a atrair o governo brasileiro, a Boeing estaria disposta a tomar medidas para proteger a marca da Embraer, sua gestão e empregos, e ainda a estruturar um acordo de forma a proteger os interesses do governo em relação aos negócios ligados ao setor de defesa, a avaliação é de que a atuação no segmento de Defesa e Segurança pode ser considerad­a o fator mais limitador para aceitar a transação. Nessa área, além da fabricação da aeronave de ataque leve e treinament­o (Super Tucano) e do cargueiro multimissã­o (KC-390), a empresa também atua com fornecimen­to de soluções de Comando e Controle, radares, sistemas de monitorame­nto e vigilância de fronteiras. O desenvolvi­mento tecnológic­o e a produção de equipament­os militares realizados pela empresa são considerad­os pelo próprio governo assuntos sensíveis.

Por isso, diferente da venda de outras participaç­ões em empresas, neste caso tende a pesar na decisão final do governo não só a avaliação da equipe econômica para a transação como também a opinião do Ministério da Defesa.

São Paulo -

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Arquivo Folha R$ 888 milhões serão investidos na conclusão do Complexo Eólico Cutia, no Rio Grande do Norte
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