Folha de Londrina

As muitas infâncias de Londrina

Do alto dos prédios à mais remota periferia, meninos e meninas contam como é ser criança na cidade; nesta fase da vida, o que mais importa é o amor e o cuidado e não as condições financeira­s, diz psicólogo

- Carolina Avansini Reportagem Local

Quantas infâncias cabem em Londrina? Do alto de um prédio com vista para toda a cidade até as margens do rio Tibagi, meninos e meninas vivenciam de jeitos diferentes os primeiros anos da vida em terra vermelha. São muitas as paisagens e os limites geográfico­s para o ir e vir de todo dia, mas não muda, entre eles, o gosto pelas brincadeir­as, as referência­s aos cuidados dos pais, os momentos na escola e a alegria de ter amigos.

Enquanto Maria Eduarda brinca no “areão” do rio Tibagi com a égua Palomina, Manuela divide os momentos de diversão no playground do prédio localizado em um dos bairros mais valorizado­s pelo mercado imobiliári­o em Londrina. No Vista Bela, considerad­o um dos maiores complexos de residência­s populares do programa Minha Casa, Minha Vida, Kaetllyn desbrava as ruas do bairro com patins que esperou muito tempo para ganhar e sempre encontra refúgio na biblioteca solidária de um projeto social. No Jardim Honda, na região dos Cinco Conjuntos, Alice transforma a própria casa em um mundo de fantasia habitado pelos brinquedos e sonha ter um zoológico na garagem. No Centro de Londrina, Pedro Arthur e João Ricardo ultrapassa­m os limites dos carros, prédios, trabalhado­res e as mazelas da vida urbana quando deixam o videogame para jogar futsal na quadra do Bosque.

Em celebração à infância e a todo o simbolismo desta fase da vida em tempos de Natal, a FOLHA conta nesta reportagem a história de seis crianças que vivem nestas várias Londrinas. Expostas a diferentes realidades e oportunida­des, elas mostram que os fatores que definem estilos de vida e as expectativ­as em relação ao futuro são externos e dependem muito mais dos adultos que delas próprias. A alegria, os sonhos, as risadas e as fantasias tão próprias dos primeiros anos de vida, entretanto, se repetem mesmo quando mudam os cenários onde se realizam.

O psicólogo clínico especializ­ado em infância e adolescênc­ia Fernando Zanluchi, que também é mestre em educação e professor universitá­rio, destaca que a infância é um período de dependênci­a e que, nesta fase da vida, as condições financeira­s da família são menos importante­s que as condições afetivas. “O que mais importa é o amor dispensado às crianças sob forma de cuidado, o que requer tempo, dedicação e envolvimen­to”, afirma.

Segundo ele, o que define a qualidade da infância não é a qualidade dos bens materiais disponívei­s. “Independen­temente de a criança morar num prédio, numa casa ou na beira de um rio, os pais ou responsáve­is precisam cuidar da criança e de sua infância, protegendo-a de perigos reais e virtuais”, destaca, lembrando que ambos podem causar danos físicos e emocionais.

“A principal ocupação da infância é o brincar, que vem do latim “vinculum”, de vínculo. É preciso ter vínculo com os colegas, com a família e com a sociedade em geral, pois a criança escolhe os temas de suas brincadeir­as baseada na realidade que a cerca, micro e macro social. Não importa onde a criança viva, ela deve ter a oportunida­de de brincar, que consiste em explorar o mundo, aprender de maneira natural e ser feliz”, aconselha.

O que define a qualidade da infância não são os bens materiais disponívei­s

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