Folha de Londrina

Filmes aprofundam a fé e a compaixão

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No cinema, o tema natalino também é abordado com frequência. Dentre os clássicos ambientado­s na data, o diretor e roteirista Rodrigo Grota destaca a obra realizada pelo cineasta ítalo-americano Frank Capra (1897-1991), o filme “A Felicidade não se Compra” (It’s a Wonderful Life, 1946), com James Stewart. “A trama acompanha George Bailey na noite de Natal - ele, que sempre ajudou a todos, é injustamen­te responsabi­lizado pela falência da empresa em que trabalha. Bailey passa a rever em sua mente tudo o que viveu, recorda a sua infância, o seu desejo de viajar e conhecer o mundo, e contempla finalmente o suicídio. Até que um anjo o salva e o faz revisitar a sua vida sob outra perspectiv­a. Na época de lançamento o filme não fez sucesso. Mas, com o passar dos anos, acabou se tornando um clássico absoluto de Natal. Capra era um cineasta voltado para a emoção, para as nuances, os detalhes que geralmente não notamos”, diz.

Segundo Grota, filmes com a temática natalina geralmente abordam relações familiares, descrevem ou citam personagen­s da cultura cristã, e aprofundam questões como a fé e a compaixão. “Os mais procurados nesse período são os filmes religiosos e aqueles voltados para o público infantil, todos centrados na temática do nascimento de Cristo ou das festividad­es associadas ao Natal. Entre os religiosos, os meus preferidos são “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), do italiano Pier Paolo Pasolini (19221975); e “A Última Tentação de Cristo” (1988), do norteameri­cano Martin Scorsese. Entre os filmes que abordam a infância em meio ao Natal, destaco a última obra para cinema do sueco Ingmar Bergman (1918-2007): o filme “Fanny & Alexander” (1982). No cinema brasileiro, tivemos o filme “Feliz Natal” (2008), estreia de Selton Mello na direção”.

Nas obras deste período, o diretor diz que é difícil desvincula­r a temática cristã, já que o Natal é um marco desta cultura. “Há um filme francês, por exemplo, “Um Conto de Natal” (2008), de Arnaud Desplechin, que é um bom exemplo para essa questão. Esse filme acaba por falar de valores cristãos, mesmo sem ser diretament­e religioso (aliás, alguns dos personagen­s são bem céticos). O filme acompanha o reencontro de familiares em uma noite de Natal mostrando como a relação entre alguns deles ainda está mal resolvida. Acredito que ao falar de tópicos como amor ao próximo, o ato de perdoar, a esperança e a compaixão é muito difícil se afastar da temática cristã, pois foi justamente essa religião que consolidou esses valores morais na cultura ocidental”.

Se o tema é explorado há muitos anos, parece que ainda não está esgotado, já que todos os anos surgem títulos novos ambientado­s no Natal. “O universo do Cristianis­mo apresenta um potencial dramático muito rico para uma narrativa. Na narrativa clássica, aquela consolidad­a pelo Cinema Americano nos anos 1930 e 1940, o espectador tende a se identifica­r com o protagonis­ta do filme. Essa suspensão da descrença o leva a acompanhar determinad­o percurso narrativo como se fosse o da sua própria vida”. E, segundo ele, como o cristianis­mo fala do humano em essência, da nossa origem e possível fim, trata-se de um conjunto de valores morais perfeitame­nte adaptável a uma narrativa que discuta tópicos como o nascimento e a morte, a fé e a descrença, o amor e o ódio, a esperança e a amargura. “Nesse sentido, um certo cinema clássico está muito próximo aos valores do cristianis­mo e um pouco distante da cultura do trágico apresentad­a pelos gregos”.

(M.T.)

Filmes com a temática natalina geralmente abordam relações familiares”

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Fotots: Reprodução “Um Conto de Natal” (2008), de Arnaud Desplechin, aborda valores cristãos, mesmo sem ser diretament­e religioso
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“A Felicidade não se Compra”, de Frank Capra (1946), traz um homem que sempre ajudou a todos, sendo injustamen­te responsabi­lizado pela falência da empresa

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