Folha de Londrina

Quase três fugas por dia

Estado tem 9.700 detentos em carceragen­s, mas apenas 4.400 vagas; Adepol recorreu à Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos para resolver “situação calamitosa”

- Celso Felizardo Reportagem Local geral@folhadelon­drina.com.br

Balanço mais recente da associação dos delegados indica que mais de mil presos fugiram das carceragen­s de delegacias do Paraná este ano. Após 12 escaparem da Cadeia Pública de Cambé, detentos que não conseguira­m fugir provocaram um incêndio.

Em 2017, mais de mil presos fugiram das carceragen­s de delegacias do Paraná, o que correspond­e a quase três fugas por dia. O último balanço divulgado pela Adepol-PR (Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná), no início da semana, era de 1.011 fugas, mas o número não para de subir. Somente nesta quartafeir­a (27), 22 fugas foram registrada­s. Na madrugada, 12 detentos fugiram da Cadeia Pública de Cambé, na Região Metropolit­ana de Londrina. Durante a tarde, outra ocorrência foi registrada na Delegacia de Ibaiti (Norte Pioneiro). Dez presos escaparam por um buraco aberto em um muro da unidade.

Com prédios antigos, mal conservado­s e que não foram projetados para receber presos, a Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria) enfrenta uma das piores situações carcerária­s do País. O Estado abriga hoje 9,7 mil custodiado­s em cerca de 400 delegacias que têm espaço para apenas 4,4 mil vagas, um deficit de 5,3 mil vagas. Para a Adepol, a situação é calamitosa. A entidade chegou a acionar a Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos para tentar encontrar uma solução para o problema.

“Nosso objetivo é levar aos comissiona­dos um estudo completo sobre a situação carcerária do Estado do Paraná, mostrando ao órgão internacio­nal os absurdos e as graves violações de direitos humanos que ocorrem em decorrênci­a da custódia ilegal de presos em Delegacias de Polícia do Paraná”, explicou o diretor jurídico da Adepol, Pedro Filipe de Andrade.

“Estamos travando essa luta com a administra­ção penitenciá­ria desde que iniciamos nossa gestão na Adepol em 2015. Entendemos que já esgotamos as tratativas com todos órgãos e entidades de direito interno; infelizmen­te houve pouco avanço ao longo desses quase três anos, o que nos faz agora recorrer a organismos internacio­nais. O que não podemos e não vamos aceitar é que o Estado do Paraná não tenha competênci­a e vontade política para resolver essa questão”, ressaltou o presidente João Ricardo Képes Noronha.

O vice-presidente da Adepol, Daniel Prestes Fagundes, destacou os impactos que a guarda de presos causa à Polícia Civil. “Quem pisa em uma delegacia sabe que o serviço não é bom. Isso não é culpa do delegado, do escrivão ou do investigad­or. Os servidores estão sob estado de estresse permanente. Eles não são treinados para cuidar de presos. É fuga em cima de fuga”, desabafou. Segundo ele, as fugas causam retrabalho para a polícia e retira os policiais civis da função de investigar.

OUTRO LADO

A Sesp, a direção da Polícia Civil e o Depen (Departamen­to Penitenciá­rio) informaram que estão cientes do problema de superlotaç­ão nas carceragen­s das delegacias do Estado. Mais uma vez, a Sesp lembrou que no início de 2011, cerca de 14 mil presos estavam sob a custódia da Polícia Civil. Segundo o órgão, sete anos depois, a população carcerária foi reduzida para cerca de 9,5 mil presos, uma diminuição de 32%.

A Secretaria também expôs que a cúpula da segurança pública tem trabalhado para zerar o número de presos em delegacias. De acordo com a nota, semanalmen­te, o Cotransp (Comitê de Transferên­cia de Presos), que conta com representa­ntes do Poder Judiciário e do Ministério Público, autoriza a transferên­cia de presos de delegacias para o sistema prisional.

Por fim, a nota cita que, segundo a Sesp, “a solução para o caso de superlotaç­ão são as obras de construção e ampliação de 14 unidades prisionais, que resultarão na abertura de cerca de 7 mil novas vagas. Uma delas é a Casa de Custódia de Londrina, que terá capacidade para abrigar 752 presos”. As obras, no entanto, seguem em ritmo lento.

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Saulo Ohara
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Rei Santos/4.9.2015 “O delegado, o escrivão e o investigad­or não são treinados para cuidar de presos. É fuga em cima de fuga”, diz vice-presidente da Adepol, Daniel Prestes Fagundes

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