Incidente de percurso levará o governo a contorcionismos oratoriais para garantir reformas indispensáveis.
Exclusão por método
Temos, seguidamente, nos referido à exclusão regional que atinge os governos municipal da capital e o do Paraná regidos por Rafael Greca e Beto Richa sob o fundamento de um ajuste fiscal que parece não ter fim. Ocorre que a tendência é mais abrangente, já que alcança o país conforme a última sondagem do mercado de trabalho (Caged) relativa à carteira assinada: em novembro foram fechadas nada mais nada menos do que 12 mil vagas depois de meses sucessivos de ganhos estatísticos a indicar sinais de recuperação. Da mesma forma que tivemos aumento do mercado alternativo sem registro (e no caso do Paraná com queda apreciável da renda desse extrato em cerca de 3,9%, conforme a PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Contínua do IBGE), é visível que se trata de efeito da reforma trabalhista que iria, segundo seus defensores, justamente criar mais vagas por força da terceirização e da pejotização, novas normas flexibilizadoras. Claro que é cedo ainda para diagnosticar como permanente essa patologia, da mesma forma que as mudanças no chamado entulho da CLT implicaram, num primeiro momento, em queda apreciável das demandas na Justiça do Trabalho, o que afinal pode ser transitório. De qualquer forma, não há sintonia entre esse quadro e as sinalizações anteriores que levaram porta-vozes do sistema a indicar que entraríamos em breve em novo salto de progresso e desenvolvimento ao ponto de o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, imaginar-se ungido para representar como candidato presidencial a herança de Michel Temer. Claro que esse inesperado incidente de percurso levará o governo a contorcionismos oratoriais para garantir que o rumo da recuperação não se desvincula, em momento algum, das reformas indispensáveis ao nosso progresso.
Derrota discreta
O Ministério Publico, órgão que mais pega no pé do governo (Publicano e Quadro Negro), pleiteou e obteve do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, ontem, medida que proíbe o Executivo de manipular recursos de fundos como os da Juventude e Adolescência, do Consumidor e dos Presídios. Estava elástica demais a tolerância. Já houve em exercícios anteriores o mesmo tipo de questionamento da Procuradoria da Justiça bem alicerçado na melhor doutrina. A folga do Executivo reclama que os freios e contrapesos constitucionais voltem a funcionar para o bom equilíbrio institucional.
Subserviência sublime
Há níveis de sublimidade em certas formas de adesão ao governo como a do engajadíssimo ministro Carlos Marum, da Secretaria do Governo, ao afirmar que a liberação de recursos da Caixa Econômica Federal a governadores para que pressionem deputados a votar pela reforma previdenciária seria um ato de governo e não uma chantagem. O mesmo estilo moral de sempre aplicado na defesa do presidente Michel Temer e do seu mandato na denúncia da Procuradoria da República. Marum foi leal até o fim na defesa de Eduardo Cunha.
Subiu
A recuperação do varejo se acentuou no movimento de Natal: desempenho, segundo Serasa, é o melhor desde 2011 depois de três anos de acentuada queda. O indicador de atividade da Serasian Experian de 18 a 24 de dezembro mostrou que as vendas nominais (descontada a inflação) cresceram 5,6% em relação a igual período do ano anterior. No final da semana de Natal, de 22 a 24 de dezembro, registrou-se aumento de 0,8% no comércio de todo o país em analogia com igual semana do ano anterior. Em São Paulo, nesse período, as vendas subiram em 5,2%. Nos shoppings, o movimento foi de R$ 51,2 bilhões. No ano, as lojas de shoppings faturaram R$ 147,5 bilhões.
Contra fogos
Está muito difícil emplacar a campanha contra os fogos de estampido em defesa dos delicados ouvidos dos cães. Inimaginável o réveillon do Rio de Janeiro ou da Austrália bloqueados por esse tipo de fundamento. Mas parcialmente as vereadoras de Curitiba, ligadas ao tema, têm uma vitória parcial pelo menos neste fim de ano no Parque Barigui no qual a Guarda Municipal monitorará o lançamento de fogos de estampido. O au au agradece.
Absolvição
Um ato liberador do ministro Gilmar Mendes pode não ser inteiramente favorável ao beneficiário no ângulo político e psicossocial. É o caso de Beto Richa liberado no mesmo dia em que a mulher de Sergio Cabral ganhava habeas corpus e se livrava da tornozeleira eletrônica.
Campanha
A notícia de que cada aposentado federal já custou ao contribuinte R$ 63,4 mil é parte de uma linha de choque, com tonalidade terrorista, em defesa da reforma da previdência. Que até pelos escalões que alcança - a hierarquia fiscal, magistrados, procuradores - revela que não é fácil de remover como pedra de prefeitura. No mínimo, teremos ranger de dentes.
Folclore
Justiça pode cassar o mandato de Maluf, sem ouvir, a Câmara Federal? A pena política é um dado acessório (que segue o principal como fundamento jurídico) e que não operou no caso de Dilma Rousseff em sua cassação por desatenção ou doutrina nova do poder judicante. Não pode ser cassado, porém não escapa da cadeia. Isso é, estará mais na cela do que numa cadeia de tevê como normalmente acontece com ele e os demais.