Quem tem ouvidos de ouvir?
Nesta semana, exatamente um dia após o Natal, os cristãos católicos celebraram a festa de Santo Estêvão, primeiro mártir da Igreja. A história de Estêvão é contada no capítulo 6 do Livro dos Atos dos Apóstolos. Ele foi um dos primeiros diáconos da Igreja nascente, atuando na assistência aos desamparados e na pregação da Palavra.
Pouco tempo após a crucificação de Jesus, Estêvão se tornou famoso pela eloquência com que anunciava a mensagem cristã em Jerusalém. Acusado de blasfêmia por algumas autoridades, foi morto por apedrejamento. Em seu julgamento sumário, Estêvão revelou grande conhecimento das Escrituras e respeito pelos Profetas e a Lei, mas os acusadores não lhe deram crédito, chegando mesmo a tapar os ouvidos para não escutar suas palavras.
Não é por acaso que a festa de Santo Estevão se comemora logo depois do Natal. A escolha das datas não se deve à cronologia (como insistem alguns militantes da descrença), mas à simbologia profunda. O martírio de Estêvão nos mostra que o nascimento de Jesus leva necessariamente ao escândalo, à ofensa e à perseguição. Hoje em dia mais de 100 mil cristãos são mortos anualmente por causa de sua fé, enquanto outros milhões, nos países ocidentais, são humilhados, politicamente instrumentalizados e progressivamente reduzidos ao silêncio. Os donos do mundo — estados, fundações, redes sociais, partidos, movimentos ideológicos — deliberadamente omitem o nome de Jesus na esfera pública, e protestam quando ele é mencionado. Nem o Vaticano escapa: neste Natal, uma “ativista” de topless quis arrancar o Menino Jesus do presépio montado em Roma, aos gritos de “Deus é mulher!”
Diante de notícias semelhantes, é impossível não lembrar as palavras de Santo Agostinho no século V da era cristã: “Todos os tempos são de martírio. Não se diga que os cristãos não sofrem perseguição; a sentença do Apóstolo não pode falhar [...]: ‘Todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição’ (2 Tim 3, 12). Todos, diz; não excluiu ninguém, não excetuou ninguém. Se queres verificar se