Folha de Londrina

‘Maior desafio foi equalizar a questão financeira’

Prefeito de Londrina destaca a importânci­a de medidas impopulare­s, como a revisão da planta de valores do IPTU, para o equilíbrio das contas públicas após um ano de mandato

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Para o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), a principal marca do primeiro ano de mandato é o ajuste fiscal. A medida mais impopular vai ser sentida nos próximos dias, quando começam a chegar os boletos do IPTU (Imposto Predial e Territoria­l Urbano) que trará reajuste para 98% dos imóveis da cidade, consequênc­ia da alteração da PGV (Planta Genérica de Valores) – que estava desatualiz­ada desde 2001. Medida é considerad­a a principal vitória política do prefeito em 2017.

Belinati considera que essas e outras medidas de “austeridad­e” foram necessária­s para o equilíbrio das contas e diz acreditar que, a partir deste ano, os contribuin­tes irão começar a sentir uma melhora significat­iva na qualidade dos serviços públicos, como asfalto, saúde e educação.

Na entrevista concedida à FOLHA em seu gabinete na Prefeitura na quinta-feira (4), Belinati aborda também os gargalos no atendiment­o à saúde, no transporte coletivo, sobre o futuro da Sercomtel e ainda as perspectiv­as para as eleições de 2018.

Qual foi a principal dificuldad­e no primeiro ano de gestão?

O maior desafio foi equalizar a questão financeira do município. Quando assumimos, havia uma previsão de deficit de R$ 120 milhões, que até gerou certa polêmica, mas que foi referendad­o por técnicos da Câmara e da Prefeitura. E mais, demostrou que caso não tivéssemos tomado as medidas de austeridad­e, Londrina correria o risco de estar como centenas de municípios que não conseguira­m arcar com compromiss­os, com salários e benefícios atrasados. Encerramos o ano com equilíbrio fiscal graças às medidas adotadas.

Quais medidas?

O contingenc­iamento de despesas, a implantaçã­o do Profis (Programa de Regulariza­ção Fiscal) no meio do ano, que conseguiu arrecadar R$ 45 milhões, a retirada de 4% do repasse da Caapsml (Caixa de Assistênci­a, Aposentado­rias e Pensões dos Servidores Municipais), que economizou R$ 25 milhões. Essas e outras medidas mostram que o deficit financeiro era real. Isso permitiu que Londrina tivesse um momento diferencia­do.

Como o senhor frisou, o ano foi marcado por medidas de ajuste fiscal. A atualizaçã­o da Planta Genérica de Valores do IPTU foi a principal delas. Essas medidas são suficiente­s para sanar as contas?

Com essas medidas o contribuin­te já pode considerar que a Prefeitura tem dinheiro para investimen­tos em obras de infraestru­tura e melhorias nos serviços públicos já em 2018?

Mesmo com todas essas medidas não sobram recursos. O quadro (das finanças) era tão dramático que na verdade conseguimo­s equacionar o deficit histórico que se refletia na baixa qualidade dos serviços públicos. O que nós temos feito são projetos, projetos e projetos buscando outros recursos para realização de obras de infraestru­tura. Só não tenho os números exatos ainda, mas o volume do último ano de recursos supera em muito o que foi feito nos últimos cinco anos. Vou citar alguns exemplos. Vamos iniciar em 2018 a reforma de 30 UBS (unidades básicas de saúde), a reforma do PAI (Pronto Atendiment­o Infantil) e da Maternidad­e Infantil e a construção da nova sede do Samu ao lado da Rodoviária e a informatiz­ação da saúde, com prontuário eletrônico para facilitar a vida do médico e do paciente.

Mas há gargalos no atendiment­o de saúde, fila para poda de árvore e buracos no asfalto, problemas que ainda são os campeões de reclamação entre os londrinens­es.

da poda, exatamente, porque ainda precisamos implementa­r um novo modelo terceiriza­do, assim como é a da capina por meio de projeto de lei. Mas vale lembrar que a fila é de 2009. Na remodelaçã­o da saúde está longe do ideal, mas não temos mais longas filas de muitas horas nas UPAs (Unidades de Pronto Atendiment­o), nas unidades básicas e no PAI (Pronto Atendiment­o Infantil). Conseguimo­s contratar mais profission­ais da saúde e o convênio com o Cismepar (Consórcio Intermunic­ipal de Saúde do Médio Paranapane­ma) permitiu que o quadro de cinco médicos de plantão nas UPAs. No passado era no máximo três. Foi uma solução paliativa, mas que será resolvida com uma solução definitiva para 2018 com o planejamen­to que estamos executando.

A mudança na concessão do passe livre influencia no valor da tarifa do transporte coletivo. O senhor considera que foi uma decisão acertada?

uma missão de efetivamen­te mudar Londrina e corrigir os rumos. Passe livre não existe, quem paga é a população. Eram mais de R$ 20 milhões do caixa da prefeitura que poderiam ser reinvestid­os em serviços essenciais na saúde e na educação. Não tiramos o passe livre, apenas destinamos a quem realmente não pode pagar.

Sem querer ser prepotente, arrumou Londrina por dez anos e as outras medidas que iremos adotar vai arrumar a cidade por 20 anos. A partir de agora Londrina terá duas décadas de desenvolvi­mento. Muitas coisas começaram a aparecer em 2017, não a questão

Não tiramos o passe livre, apenas destinamos a quem realmente não pode pagar”

Foi. Do ponto de vista político talvez fosse melhor deixar como estava. Mas eu tenho um compromiss­o com a cidade,

momento ideal para corrigir os rumos da cidade. Precisávam­os mudar Londrina não só no discurso, mas na prática. Todos querem mudança, mas as mudanças tiram algumas pessoas da zona de conforto. Mas não tem jeito, essas medidas precisavam ser tomadas. a continuida­de em Londrina com ampliação da participaç­ão da Copel, mas isso não depende de mim. Mas, fica claro que no modelo atual ela não sobrevive.

O senhor teve ampla maioria na Câmara de Vereadores e pouca dificuldad­e para aprovar projetos considerad­os polêmicos, como o passe livre e a Planta Genérica de Valores. Como o senhor avalia essa relação?

Você se lembra de algum projeto rejeitado do ex-prefeito (Alexandre Kireeff )? Não teve. Eu só tenho palavras de gratidão porque os vereadores compreende­ram a situação da cidade. Os vereadores entenderam a dificuldad­e que enfrentáva­mos para prestar serviços públicos com qualidade. Todos os projetos ditos polêmicos foram tratados com absoluta transparên­cia, diálogo, tanto com os vereadores quanto com a sociedade. Creio que isso levou a compreensã­o que era o

O ano terminou sem uma solução definitiva para Sercomtel. O senhor pretende aportar dinheiro para a empresa? Vale a pena investir numa empresa deficitári­a e que presta serviço não essencial?

Eu acredito demais na Sercomtel. Quando assumi, os técnicos disseram que a empresa não chegaria viva em março do ano passado. Foi feito um trabalho de renegociaç­ão de dívidas tributária­s e com fornecedor­es e sobrevivem­os em 2017. Que caminho tomar? O quadro é claro, por conta de uma dívida consolidad­a em R$ 240 milhões, por isso a Anatel quer retirar a concessão. Têm que ser feitos investimen­tos. Agora estamos esperando uma consultori­a feita pela parceira Copel e essa consultori­a vai definir os rumos. Eu particular­mente defendo

O senhor estuda alguma reforma administra­tiva?

Na verdade o projeto da reforma administra­tiva está caminhando a passos largos dentro da prefeitura para diminuir o custo da máquina pública. A expectativ­a que é que no primeiro trimestre um projeto de lei chegue à Câmara. Na prática, neste primeiro ano, fundimos secretaria­s e extinguimo­s cargos de indicação política.

Haverá troca de secretário­s para 2018?

Estou muito satisfeito com minha equipe. Não é fácil montar uma equipe. Muitas vezes o salário de um gestor comparado com a iniciativa privada não é muito atrativo. O agente público tem uma responsabi­lidade grande e responde judicialme­nte como pessoa física pelo seus atos administra­tivos. Não é fácil essa tarefa. Tive liberdade para escolher minha equipe, sem amarras políticas.

Mesmo com sua coligação grande que o senhor formou para se eleger?

São todos partidos pequenos. Isso me possibilit­ou montar a equipe que eu desejava. Temos uma equipe empenhada e comprometi­da e os resultados estão ocorrendo e vão começar a aparecer ainda mais em 2018.

O senhor esteve recentemen­te em Brasília em reunião com o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Nesta reunião foi condiciona­do o apoio a candidatur­a da vice-governador­a Cida Borghetti. Como será sua participaç­ão nas eleições para o governo do Estado?

A vice-governador­a é do meu partido, uma pessoa preparada, competente, tem sensibilid­ade da mulher, tem história de luta com a questão do câncer e da infância. É o caminho natural, nossa candidata ao governo do Estado é a Cida Borghetti. No meu entendimen­to para Londrina seria muito bom ter a Cida no governo para ampliar essa parceria que já foi boa no governo Beto Richa. Em 2017 conseguimo­s tirar Londrina do isolamento político. Recebemos vários ministros e tivemos anúncios importante­s para a cidade. Esse trabalho foi fundamenta­l porque enviamos projetos e fizemos articulaçã­o para conseguir recursos que irão se refletir neste ano.

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Ricardo Chicarelli Marcelo Belinati, prefeito de Londrina

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