Folha de Londrina

O poderoso chefão

De infância simples a empresário de sucesso, Oswaldo Pitol revela sua história de luta e ascensão, entre os desafios de quem escolheu Londrina para trabalhar e viver

- Lais Taine Reportagem Local

Afoto do perfil em uma rede social demonstra um senhor com ótimo senso de humor: um rosto abarrotado de adesivos, um bigode e um sorriso maroto ao lado da neta. É o mesmo homem que sustenta um elegante Studebaker Erskine Six, de 1930, que teve trabalho para importar. Da infância pobre ao privilégio de ter fundado uma das maiores empresas da região. Aos 72 e “com corpinho de 60”, vive a vida trabalhand­o porque acredita ainda ter muito para contribuir e desfrutar.

Oswaldo Pitol senta-se atrás da mesa em uma sala particular. Ao fundo, o cenário de uma Londrina cosmopolit­a transpassa os vidros que dividem a sala da sacada. A imagem icônica poderia ter sido escrita para o cinema, cujo personagem principal é um homem de negócios sério e formal, mas o olhar calmo, sorriso fácil e trajes confortáve­is amenizam o peso da cena e do bigode. O empresário - agora londrinens­e honorário – transformo­u, junto com três sócios, o investimen­to de 2 mil dólares em grande companhia que faturava ao ano 500 mil dólares, quando foi vendida.

Mas para chegar nessa história, Pitol viaja no tempo e relembra uma infância no subúrbio de São Paulo, onde nasceu. “Meu pai era mecânico e quando eu era moleque, vinha sujo de graxa da oficina com ele. Eu entendo bastante”, daí a paixão por carros antigos. O original Studebaker Erskine Six, de 1930, o único no Brasil, havendo apenas seis no mundo, circula por Londrina quando Pitol se entusiasma. “Por onde eu vou, muita gente pergunta sobre ele. Já ganhei prêmios com ele porque é exclusivo”, afirma. Para desfrutar do veículo, recorda a burocracia na importação e toda a documentaç­ão que deixou pronta para não ter problemas.

Uma realidade diferente da do pai, que, mesmo mecânico, só pode usufruir de um veículo quando o filho mais velho lhe deu um. “E ele dirigiu até os 100 anos de idade”, destaca o vigor do pai, que viveu até os 103 com lucidez e alegria. A despedida veio por conta de complicaçõ­es nos rins e ocorreu em um domingo de passeata contra um personagem da política brasileira. “Todo mundo foi no velório de camiseta amarela... Foi esquisito”, recorda em tom de compreensã­o.

Pitol sempre teve participaç­ão ativa na política, desde a presidênci­a no Diretório Acadêmico, enfrentand­o a Ditadura Militar, quando estudava agronomia na Universida­de Federal Rural do Rio Grande do Sul até as contribuiç­ões sociais voluntária­s em conselhos de diversas instituiçõ­es. Além disso, destaca a participaç­ão na derrubada da Lei da Muralha e também na modernizaç­ão dos sistemas de tecnologia da Prefeitura de Londrina. “Esse tipo de trabalho desgasta muito, porque tem retaliação, muitos perguntava­m se eu sairia para prefeito ou governador, mas não sou filiado a partido nenhum. Isso não está no meu projeto de vida. Na política, você entra de uma forma e corre o risco de sair de outra. Eu vim de militância”, explica-se.

Da militância à realidade. A primeira casa própria que morou foi construída tendo o pai como pedreiro e a mãe de servente. “Meu pai não tinha muito estudo, mas tinha noção da importânci­a de estudar, por isso fez muito empenho para que eu e minhas duas irmãs finalizáss­emos os estudos”, afirma. Quando o primogênit­o completou 12 anos, a família mudou-se para o Rio Grande do Sul a convite de uma ferrovia que prometia um bom emprego ao pai. Quatro anos depois, o desemprego levou o patriarca a trabalhar como caminhonei­ro e Pitol a fazer o curso de técnico agrícola, em Viamão (RS). “Escolhi porque tinha comida, cama e estudo”. Finalizado o curso, entrou para a universida­de em período integral, dando aulas de matemática à noite.

Dedicado, passava as férias estagiando nas empresas, tentando se aprimorar para garantir o emprego no fim do estudo. E conseguiu. Dois anos trabalhand­o em uma multinacio­nal aprendeu tudo sobre herbicidas, mas tinha ambição e impaciênci­a de menino. “Eu percebi que eles nomeavam pessoas de fora para serem nossos chefes, nunca colegas que tinham competênci­a e experiênci­a. Vi que demoraria muito para crescer. Não teria futuro”, relembra.

Então decidiu, com mais três colegas, fundar a Herbitécni­ca Defensivos Agrícolas, em 1970. Por conta do novo trabalho, mudou-se de Bauru (SP), onde ficava a matriz, para Londrina, onde a empresa se desenvolve­u. Pitol casou-se em 1972 e teve três filhas, todas criadas e educadas na nova cidade de terra fértil, local em que a Herbitécni­ca se tornou Milênia Agrociênci­as, em 1998, e foi adquirida pela israelense Makhteshim Agan, em 2001.

Após a venda, decidiu que não iria trabalhar durante os próximos seis meses. Promessa que descumpriu em 60 dias. Hoje preside o Grupo Empresaria­l Seven, atuando no desenvolvi­mento de empresas, e não pretende parar. “Se as pessoas tivessem noção que dá para começar uma nova profissão após 60, 70 anos... Nessa idade elas têm ainda 30 anos até morrer perto dos 100”, anima-se e orienta: “se você se aposentou, comece uma nova atividade. Vai aprender música, vai estudar russo. Comece a vida de novo e daqui 30 anos ela vai valer diferente.”

Esse é o entusiasmo de quem vai fazer 73 anos em março, mas que sustenta um “corpinho de 60”, como ele brinca, fazendo atividade física três vezes na semana, “odeio, mas faço”, e por isso aguenta andar e subir escadas como um menino. Porém, sabe diminuir o ritmo. “Agora reservo um tempo para mim, eu adoro ler. Aprendi a trabalhar melhor, não tomo mais decisão sozinho. A decisão é coletiva e a cobrança também”, ressalta. O ritmo diminui, mas a atividade continua porque sabe que está na melhor fase da vida. “Uma pessoa de 70 anos vai fazer melhor que uma de 50”, defende-se.

De espírito jovem, ri sobre a tecnologia, da qual usa e tem pavor ao mesmo tempo. “Aquilo é um ladrão de tempo”, referindo-se às redes sociais e smartphone­s. No entanto, reconhece que com as inovações, consegue controlar o trabalho de qualquer lugar do mundo. “Eu me lembro uma vez que eu fui pra fora, a trabalho, e me pediram um dado da empresa que eu não tinha. Eu precisa entrar em contato, o dado que eu pedi de manhã, veio no fim do dia. O telex era uma maravilha! O fax uma coisa sensaciona­l, que além da resposta rápida, fazia fotos dos documentos, ficou muito mais fácil”, recorda.

Marido, pai de três filhas e avô de sete netos. O coração divide-se entre São Paulo, Estados Unidos e Londrina, onde uma das netas tem o privilégio de ter o avô para buscála todos os dias na escola. Em setembro de 2017, Oswaldo Pitol recebeu o título de Cidadão Honorário do Município, em que proferiu discurso homenagean­do a cidade onde formou sua família. “Eu, felizmente, cheguei naquilo que queria. Eu sempre quis ser pé-vermelho e agora sou com muita honra. Londrina foi a cidade que escolhi.”

Se você se aposentou, comece uma nova atividade. Vai aprender música, vai estudar russo. Comece a vida de novo e daqui 30 anos ela vai valer diferente”

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Aos 72 anos, Oswaldo Pitol não pretende parar de trabalhar. “Se as pessoas tivessem noção que dá para começar uma nova profissão após 60, 70 anos... Nessa idade elas têm ainda 30 anos até morrer perto dos 100”. Veja vídeo utilizando a tecnologia de...
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