Folha de Londrina

Suspeita de corrupção afasta vereadores

Operação do Gaeco desbaratou ontem suposto esquema de corrupção envolvendo 11 agentes públicos e empresário­s de Londrina. Vereadores receberiam dinheiro para alterar zoneamento urbano. Mário Takahashi e Rony Alves foram afastados das funções parlamenta­res

- Simoni Saris Reportagem Local

OGaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Paraná, com apoio da Polícia Militar, deflagrou nessa quarta-feira (24) a Operação ZR3, que investiga um esquema de associação criminosa envolvendo vereadores, um funcionári­o de carreira da Prefeitura de Londrina e empresário­s.

O esquema consistia em viabilizar alterações na lei de zoneamento urbano para permitir a construção de condomínio­s residencia­is em áreas destinadas apenas a indústrias mediante o pagamento de propina cujos valores variavam de R$ 100 mil a R$ 1,6 milhão.

Além de mandados de busca e apreensão, a Justiça expediu mandados referentes a medidas cautelares diversas da prisão que implicam o uso de tornozelei­ras eletrônica­s pelos investigad­os. Até agora, 11 pessoas terão de cumprir a medida, entre elas o presidente da Câmara Municipal de Londrina, o vereador Mário Takahashi (PV), e o vereador Rony Alves (PTB), que também foram preventiva­mente afastados de suas funções parlamenta­res por 180 dias.

As investigaç­ões começaram em fevereiro de 2017 e abrangem alterações na lei de zoneamento ocorridas de 2013 até o ano passado. Nessa quarta-feira, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em vários locais da cidade, expedidos pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Londrina, Délcio Miranda da Rocha.

Além dos dois vereadores, estão na lista de investigad­os o assessor do vereador Rony Alves Evandir Duarte de Aquino, o ex-secretário municipal de Obras e diretor de Loteamento da secretaria Ossamu Kaminagaku­ra (foi afastado do cargo pela prefeitura), a ex-presidente do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamen­to Urbano de Londrina), empresária e membro do CMC (Conselho Municipal da Cidade) Ignes Dequech Alvares, o ex-secretário municipal do Ambiente, empresário e membro do CMC Cleuber Moraes Brito, o empresário e também membro do CMC Luiz Guilherme Christino Alho, e os empresário­s Brasil Filho Theodoro Mello de Souza, José Lima Castro Neto, Homero Wagner Fronja e Vander Mendes.

Todos eles terão um prazo de 24 horas para se apresentar­em ao Creslon (Centro de Reintegraç­ão Social de Londrina) para a colocação das tornozelei­ras eletrônica­s (leia mais na página 4).

Ossamu Kaminagaku­ra foi preso em flagrante porque durante o cumpriment­o do mandado de busca e apreensão, os agentes encontrara­m na casa dele cinco armas de fogo.

Os agentes públicos e membros do CMC também foram afastados de suas funções por 180 dias e estão proibidos de entrarem no prédio da prefeitura e da Câmara. Todos os investigad­os estão proibidos de manterem contato entre si.

O ESQUEMA

“Temos um crime de corrupção ativa e passiva e associação criminosa, por enquanto. As investigaç­ões continuam em curso, não se encerraram ainda, assim como a apuração dos envolvidos. Então, é possível que nós identifiqu­emos mais elementos envolvidos”, disse o coordenado­r do Gaeco em Londrina, Jorge Barreto da Costa. Segundo o promotor, dentro do esquema os vereadores teriam a função de propor e encaminhar os projetos de alteração na lei de zoneamento para aprovação e os empresário­s facilitava­m para que os projetos andassem dentro da Câmara de Vereadores.

“O dinheiro não chegava às mãos dos agentes públicos. Esse dinheiro circulava através de interposta­s pessoas, no caso desses empresário­s, que de alguma forma atuavam para o benefício do grupo”, explicou Costa. Os valor total movimentad­o pelo grupo atuante no esquema de corrupção ainda está sendo apurado, mas o valor de cada movimentaç­ão variava de R$ 100 mil a R$ 1,6 milhão. “O valor total pago, para quem ficou e quanto ficou para cada uma das partes ainda é objeto de investigaç­ão”, declarou o promotor.

O procedimen­to natural para alteração na lei de zoneamento urbano do município envolve a realização do EIV (Estudo de Impacto da Vizinhança) e uma assessoria para o acompanham­ento da tramitação do projeto no Legislativ­o. Durante as investigaç­ões, o Gaeco solicitou um orçamento a uma empresa e esse serviço técnico foi cotado entre R$ 24 mil e R$ 27 mil. Dentro do esquema, os vereadores teriam atuado em conluio com o CMC e os investigad­ores do Gaeco apuraram que um empresário integrante do conselho era apontado por um vereador como sendo a pessoa mais indicada para fazer o EIV e o trabalho de acompanham­ento na Câmara.

O orçamento apresentad­o por ele começava em R$ 100 mil.

Em um caso, ele chegou a cobrar R$ 100 mil mais sete lotes como contrapart­ida pela aprovação do projeto, totalizand­o R$ 1,6 milhão. “Há uma grande discrepânc­ia entre os orçamentos”, avaliou o delegado do Gaeco, Alan Flore. Ele não revelou se o vereador em questão seria Takahashi ou Alves.

“O que foi esclarecid­o da parte dos agentes públicos é que houve facilitaçã­o na aprovação dos projetos e, da parte dos particular­es, o faturament­o e a entrega para as empresas prestadora­s de serviço com valores muito acima dos praticados pelo mercado, incluindo a entrega de terrenos”, destacou Barreto.

Além dos 11 nomes divulgados até agora, outras 15 pessoas deverão ser ouvidas pelo Ministério Público por suspeita de envolvimen­to com o esquema. Treze de Londrina e duas seriam empresário­s em Curitiba. “As investigaç­ões estão em aberto. Há a possibilid­ade de identifica­r outros participan­tes”, disse o coordenado­r do Gaeco.

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Fotos:Gina Mardones Durante a coletiva, coordenado­r do Gaeco, Jorge Barreto (centro) afirmou que “há a possibilid­ade de identifica­r outros participan­tes” no esquema

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