Percebe-se o quanto estamos atrasados em democracia ao nos agarrarmos em salvacionismos.
O julgamento do ex-presidente Lula, em Porto Alegre, mostrou que ainda estamos atrasados em processo civilizatório pelo tom apocalíptico, de juízo final, dado ao episódio. Percebe-se o quanto estamos atrasados em democracia ao nos agarrarmos, pela tradição, em salvacionismos, às vezes ornados com tons messiânicos.
Os Estados Unidos nos últimos pleitos tiveram o condão de eleger um negro e reelegê-lo num país ainda agredido pelas diferenças raciais nos sedimentos deixados desde a Guerra da Secessão e agora consagram uma figura agressiva e de impulsos primários, o que é preferível, com tudo o que esse ônus possa representar, à nossa mediania, a reprodução dos velhos quadros e hábitos e persistência do mais abominável dos coronelismos.
Tinha razão o mestre Rui Cirne Lima ao fazer a analogia do nosso federalismo ao conceito de estrato feudal e que se reproduz em sociedades novas como a nossa e a das unidades que formam o Brasil meridional. Toda solução, como a proferida na sentença, há de ter um traço provisório em torno do ajuste sucessório.
Fica de toda a experiência vivida como nos grandes traumas desde o suicídio de Vargas, posto como uma nova aurora nas linhas da Carta Testamento, mais as constituintes de 1946, passando pelas militares até a de 88, anistia e eleições diretas, marcos de esperanças que não se confirmaram, ficamos diante, de novo, de uma lição – a de que povo que precisa de salvadores não merece ser salvo.