Folha de Londrina

Percebe-se o quanto estamos atrasados em democracia ao nos agarrarmos em salvacioni­smos.

- LUIZ GERALDO MAZZA

O julgamento do ex-presidente Lula, em Porto Alegre, mostrou que ainda estamos atrasados em processo civilizató­rio pelo tom apocalípti­co, de juízo final, dado ao episódio. Percebe-se o quanto estamos atrasados em democracia ao nos agarrarmos, pela tradição, em salvacioni­smos, às vezes ornados com tons messiânico­s.

Os Estados Unidos nos últimos pleitos tiveram o condão de eleger um negro e reelegê-lo num país ainda agredido pelas diferenças raciais nos sedimentos deixados desde a Guerra da Secessão e agora consagram uma figura agressiva e de impulsos primários, o que é preferível, com tudo o que esse ônus possa representa­r, à nossa mediania, a reprodução dos velhos quadros e hábitos e persistênc­ia do mais abominável dos coronelism­os.

Tinha razão o mestre Rui Cirne Lima ao fazer a analogia do nosso federalism­o ao conceito de estrato feudal e que se reproduz em sociedades novas como a nossa e a das unidades que formam o Brasil meridional. Toda solução, como a proferida na sentença, há de ter um traço provisório em torno do ajuste sucessório.

Fica de toda a experiênci­a vivida como nos grandes traumas desde o suicídio de Vargas, posto como uma nova aurora nas linhas da Carta Testamento, mais as constituin­tes de 1946, passando pelas militares até a de 88, anistia e eleições diretas, marcos de esperanças que não se confirmara­m, ficamos diante, de novo, de uma lição – a de que povo que precisa de salvadores não merece ser salvo.

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