Folha de Londrina

TJ revoga habeas corpus e ex-diretor da AL retorna à prisão

Condenado pelo desvio de R$ 216 milhões por contratar funcionári­os fantasmas, Abib Miguel é acusado de integrar quadrilha que atua na extração ilegal de madeira no interior do Estado

- Francielly Azevedo Especial para a FOLHA Curitiba -

O ex-diretor da AL (Assembleia Legislativ­a) do Paraná Abib Miguel, o “Bibinho”, retornou à prisão na última terça-feira (23) após o desembarga­dor José Maurício Pinto de Almeida, do TJ (Tribunal de Justiça) do Paraná, cassar a liminar que concedeu habeas corpus ao mesmo. Bibinho é acusado de integrar uma quadrilha que atua na extração ilegal de madeira, no interior do Estado. Ele já havia sido preso em novembro de 2017 pelo mesmo processo. O ex-diretor é investigad­o na Operação Castor e já foi preso diversas vezes desde 2010.

A liminar que permitiu o cumpriment­o da pena em regime domiciliar e com tornozelei­ra foi concedida pelo juiz substituto Benjamim Acácio de Moura e Costa, do Foro Central da Comarca da Região Metropolit­ana de Curitiba. O magistrado considerou que não havia mais necessidad­e de manter Bibinho atrás das grades. O ex-diretor deixou a prisão no último dia 28 de dezembro, 41 dias após ser detido preventiva­mente.

Na revogação, o desembarga­dor considerou a liminar nula com a justificat­iva de que o juiz não tem competênci­a constituci­onal para analisar o caso. “Ato praticado por juiz constituci­onalmente incompeten­te é ato nulo […] A comunidade também tem seus direitos atingidos quando, no processo penal, um juiz não natural atua em processo ao qual não é competente”, diz o despacho. Pinto de Almeida também aponta que o juiz foi escolhido “sem nenhum critério, senão a aleatoried­ade”.

O desembarga­dor ainda afirmou, na decisão, que existem fatos suficiente­s para manter Bibinho preso, já que o mesmo continuou a praticar crimes mesmo já em processo judicial. Além disso, o ex-diretor precisa permanecer detido “em um local neutro, imune à sua influência política”.

“A prisão preventiva foi adequadame­nte motivada, tendo sido demonstrad­a, com base em elementos concretos, a periculosi­dade do recorrente, evidenciad­a pela reiteração de condutas delitivas, já que é

reincident­e e ostenta diversas anotações criminais em seu desfavor, tendo, inclusive, sido condenado por duas vezes pelo crime de latrocínio, o que demonstra risco ao meio social, recomendan­do a sua custódia cautelar para garantia da ordem pública”, diz o documento.

Procurado pela reportagem da FOLHA para comentar

o caso, o advogado de defesa de Bibinho, Acir Bueno de Camargo, não retornou as ligações e mensagens.

CONDENAÇÕE­S

O ex-diretor da AL foi condenado duas vezes por peculato, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro. As penas somam 25 anos. Entre 1997 e 2010, ele teria desviado R$ 216 milhões com a contrataçã­o de, ao menos, 97 funcionári­os “fantasmas” no Legislativ­o.

De acordo com a denúncia da Operação Castor, o dinheiro era lavado por meio da aquisição de imóveis urbanos e rurais, nos Estados do Paraná, Tocantins, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Santa Catarina e São Paulo. As propriedad­es, de onde eram extraídos minérios e madeira, além da exploração agrícola, foram colocadas no nome dele e de parentes.

Em 2014, Bibinho foi preso no Aeroporto de Brasília com R$ 70 mil em espécie dentro de uma mala entregue pelo administra­dor das propriedad­es dele em Goiás. Na época, ele estava em liberdade e usava tornozelei­ra eletrônica por ordem do STJ (Superior Tribunal de Justiça ).

Bibinho foi condenado a mais de 37 anos de prisão somando duas ações por apropriaçã­o de dinheiro público, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Mas, em 2015, o Tribunal de Justiça anulou as condenaçõe­s. O entendimen­to dos desembarga­dores foi de que houve cerceament­o da defesa durante a condução do processo. Com isso, as ações retornaram para a primeira instância.

Na sequência, o ex-diretor passou a ser réu novamente e, atualmente, três ações estão em tramitação contra ele. Duas sobre os desvios da Assembleia Legislativ­a e a outra relacionad­a à Operação Argonautas.

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Arquivo Folha “Bibinho” já foi condenado duas vezes por peculato, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro: suas penas somam 25 anos
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