Folha de Londrina

Gaeco encontra R$ 295 mil em espécie na casa de conselheir­o do CMC

MP começa a ouvir testemunha­s sobre suposto esquema de corrupção na alteração da lei do zoneamento de Londrina; ex-prefeito Alexandre Kireeff será ouvido como testemunha

- Guilherme Marconi Simoni Saris Reportagem Local politica@folhadelon­drina.com.br

Opresident­e do CMC (Conselho Municipal das Cidades) e presidente do Sinduscon, Rodrigo Zacaria, foi ouvido como testemunha na manhã dessa quinta-feira (25) pelo coordenado­r do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado), o promotor Jorge Barreto no âmbito da Operação ZR-3 que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo 11 pessoas entre empresário­s, vereadores e agentes públicos. Ele está entre as 15 testemunha­s arroladas pelo MP (Ministério Público) do Paraná que começaram a ser ouvidas em oitivas. Também foi ouvido o diretor de planejamen­to do Ippul (Instituto de Planejamen­to e Pesquisa Urbano de Londrina), José Vicente Socorro.

Os integrante­s do CMC estão que estariam envolvidos são: o empresário e ex-secretário do Ambiente Cleuber de Moraes Brito, a ex-presidente do Ippul Ignes Dequech e o empresário Luiz Guilherme Alho. Na casa de Alho foram encontrado­s pelo Gaeco R$ 296 mil em espécie durante a busca e apreensão feita na quarta-feira (24) . “O que levanta alguma suspeita porque é um valor expressivo. Ele (Alho) não foi ouvido oficialmen­te, mas disse que teria como comprovar a origem lícita desse dinheiro”, informou o delegado do Gaeco, Alan Flore. No esquema, o empresário se apresentav­a como prestador de serviço para realização de EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança) e também de atuava como intermediá­rio na negociação entre empresário­s e vereadores em relação aos projetos de alteração de zoneamento urbano, segundo o MP.

Zacaria disse que foi pego de surpresa com o suposto envolvimen­to de três membros do CMC: “Até porque são 24 conselheir­os, é impossível ter controle de tudo”. Ele foi notificado oficialmen­te pelo MP para afastament­o dos três envolvidos e deverá convocar os suplentes para ocupar as vagas. O presidente do CMC informou ainda que a entidade tem caráter consultivo e que todos os projetos de mudança de zoneamento passavam antes pela análise técnica do Ippul. “Toda discussão política tem que ser encarada como normal, trocar argumentos, mostrar fatos. Várias vezes eu fui convidado pela Câmara para mostrar contrapont­os em questionam­entos.” Zacaria alegou ainda que foi questionad­o pelo promotor principalm­ente para entender o funcioname­nto do CMC. “Todas as mudanças de zoneamento que pas- saram pelo meu mandato foram discutidas em audiências públicas.”

O ESQUEMA

Segundo o Gaeco, os envolvidos estabelece­ram uma associação criminosa para dar andamento a um esquema de corrupção ativa e passiva que consistia na cobrança de propina para aprovação de projetos alterando a lei de zoneamento urbano do município. A medida viabilizar­ia a construção de loteamento­s residencia­is em áreas até então restritas ao funcioname­nto de indústrias. Em uma tramitação regular para esse tipo de projeto, o empresário interessad­o na mudança da lei deve contratar uma empresa responsáve­l pela elaboração do EIV e pela assessoria para acompanham­ento da tramitação da matéria no Legislativ­o. Mas o delegado do Gaeco relatou que as investigaç­ões apontam que vereadores agiam em conluio com o CMC, e os parlamenta­res indicavam aos empresário­s um integrante do conselho para fazer o EIV, pelo qual eram cobrados valores bem acima dos praticados pelo mercado.

Na cotação feita pelo MP durante as investigaç­ões, o EIV foi orçado entre R$ 24 mil e R$ 27 mil. O empresário indicado pelos vereadores cobrava, no mínimo, R$ 100 mil. Em um caso, afirmam os promotores, o empresário cobrou R$ 100 mil mais sete lotes como contrapart­ida pela aprovação do projeto, totali- zando R$ 1,6 milhão.

Até agora, 11 pessoas foram apontadas como participan­tes do esquema. Além de Alho, Brito e Dequech, estariam envolvidos o presidente da Câmara Municipal, o vereador Mário Takahashi (PV), o vereador Rony Alves (PTB), o chefe de gabinete de Alves, Evandir Duarte de Aquino, o ex-diretor de de loteamento da Secretaria de Secretaria Municipal de Obras Ossamu Kaminagaku­ra e os empresário­s José Lima de Castro Neto, Brasil Filho Theodoro Mello de Souza, Homero Wagner Fronja e Vander Mendes.

ANÁLISE MINUCIOSA

O ex-prefeito de Londrina Alexandre Kireeff também foi intimado a prestar esclarecim­entos sobre o caso como testemunha. O depoimento dele está marcado para as 11 horas desta sexta-feira (26) na sede do MP. De acordo com o delegado do Gaeco, as pessoas intimadas nesta fase podem contribuir com fatos relevantes para a investigaç­ão. Já os 11 investigad­os serão ouvidos na próxima fase, ainda sem data marcada. “Até porque nós estamos fazendo o trabalho análise do material apreendido e isso pode colaborar decisivame­nte no interrogat­ório deles.”

 ?? Gina Mardones ?? O empresário Luiz Guilherme Alho (esq.), acompanhad­o de seu advogado Guilherme Araújo, afirmou desconhece­r e participar do suposto esquema apontado pelo Gaeco
Gina Mardones O empresário Luiz Guilherme Alho (esq.), acompanhad­o de seu advogado Guilherme Araújo, afirmou desconhece­r e participar do suposto esquema apontado pelo Gaeco

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil