NA CONTRAMÃO
Enquanto o País espera recorde histórico de produtividade para a safra 2018 de café, Paraná tem redução de volume e de área de cultivo; produtores mais tecnificados “salvam” o Estado, como é o caso da família Bramé.
Cafeicultores estão otimistas com a safra 2018. Expectativa é de produtividade recorde no País. No Paraná, previsão de retração na colheita varia de 15% a 25%
Início de ano, pés com grãos verdes, carregados, e os olhares do agronegócio já estão atentos à cafeicultura nacional e o seu potencial produtivo para 2018. Expectativas discrepantes quando se analisa os números do Brasil como um todo e o Estado do Paraná, que começa a colheita a partir de abril. A média nacional – por se tratar de safra de bienalidade positiva – projeta uma produtividade estimada em 28,4 a 30,5 sacas por hectare, desempenho que representa um novo recorde histórico das lavouras, de acordo com dados do 1º Levantamento da Safra de Café de 2018, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado este mês.
No total, a primeira previsão tem estimativa entre 54,4 e 58,5 milhões de sacas beneficiadas, crescimento entre 21,1% e 30,1%. A área total atinge 2,2 milhões de hectares, sendo que 1,91 milhão de hectares está em produção. “Esta estimativa é feita ao longo do florescimento cafeeiro. Em alguns locais do Brasil, devido a temperaturas elevadas, houve uma perda de fertilização da flor. Mas logo em seguida a temperatura caiu bastante, portanto essa perda é relativa e pontual, de 5% a 10% em algumas regiões. Com esse volume (projetado), cumpriremos tanto nossos compromissos externos como consumo interno”, explica o chefe geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, em entrevista à FOLHA.
No Paraná, entretanto, o cenário está, digamos, do avesso. Enquanto o País vive a safra de bienalidade positiva, no Estado é ano de baixa, isso porque houve uma inversão produtiva a partir de 2013, após uma geada que castigou as lavouras. Portanto, de acordo com o levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), realizado pelo economista Paulo Sérgio Franzini, a redução da área cultivada gira em torno de 10,8%, de 46,1 mil hectares em 2017 para atuais 41,1 mil hectares.
Com isso, o relatório prevê inicialmente uma produção entre 904 mil e 1,02 milhão de sacas, retração de 15,7% a 25,3% em comparação a quantidade de 1,21 milhão obtida em 2017. “A redução gradativa dos preços recebidos durante os últimos doze meses, muitas vezes não cobrindo os custos de produção, aliada à necessidade de adotar melhor tecnologia de produção com maior grau de mecanização com renovação das lavouras, tem levado muitos produtores a diminuir a área cultivada com objetivo de melhorar a eficiência e obter maior renda”, aponta Franzini.
Gabriel Bartholo, chefe da Embrapa Café, complementa que uma das preocupações para a cafeicultura nacional, inclusive no Paraná, está nas áreas montanhosas, que correspondem a 20% da produção nacional, feita em essência por pequenos produtores. “Não foi estabelecida uma política de renovação parcial desse parque cafeeiro, instalado há 30, 40 anos. Muitos têm espaçamentos inadequados para mecanização e usam cultivares ultrapassadas. Dessa forma, o produtor fica avesso a fazer investimentos.”
Mesmo com essas dificuldades, Bartholo acredita que o Brasil tem evoluído bastante. Ele cita, por exemplo, a cultivar IPR 103, desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que vem se destacando em diversas regiões. “Em testes em São Paulo, Minas Gerais e no Paraná ela foi muito bem. Apesar de uma tolerância média à ferrugem, bem manejada e nutrida, ela produz um café de excelente qualidade. Vale dizer que já estamos chegando num ponto que até os grandes produtores estão produzindo cafés especiais.”
Muitos têm espaçamentos inadequados para mecanização e usam cultivares ultrapassadas. Dessa forma, o produtor fica avesso a fazer investimentos”