Folha de Londrina

Em 1990, uma reunião de estranhos senhores na velha República da rua Humaitá.

Em Davos, presidente americano pregou respeito ao multilater­alismo desde que “regras sejam revistas”

- AVENIDA PARANÁ

Precedido por uma fanfarra no palco, Donald Trump vendeu à plateia do Fórum Econômico Mundial em Davos os atrativos dos EUA para os negócios, pregou seu respeito ao multilater­alismo - desde que as regras sejam revistas - e exortou líderes de outros países a defenderem os interesses de seus países em primeiro lugar, assim como ele faz com os EUA.

Trump também mostrou disposição dos EUA em negociar com os países da Parceria Transpacíf­ico, acordo comercial fechado por Barack Obama que ele rompeu nos primeiros dias de governo. “São países importante­s. Podemos negociar bilateral- mente ou em grupo, mas temos que rever as regras”, disse diante da plateia de 1.500 assentos, lotada.

Foram cerca de dez menções do presidente a pedidos para que empresário­s investisse­m nos Estados Unidos.

O presidente americano também voltou a criticar a imprensa, ao ser indagado pelo fundador do Fórum, Klaus Schwab, sobre qual de suas experiênci­as anteriores o preparou melhor para a Casa Branca, Trump respondeu que foi a dos negócios - “sou muito bom em fazer dinheiro” - e, em seguida, lamentou não ser mais bem tratado pela imprensa como era antes.

“Como homem de negócios eu sempre fui bem tratado pela imprensa. Até eu ser eleito presidente e ver quão má, nojenta, perversa e ‘fake’ a imprensa é”, afirmou. Houve uma surpresa na plateia, com um princípio de vaia que não chegou a se concretiza­r.

Trump se mostrou muito à vontade no palco e arrancou risos do público em diversos momentos, quebrando rapidament­e a tensão da expectativ­a mesmo nos momentos em que suas frases eram críticas de práticas em vigor no sistema internacio­nal. Esta é a segunda vez que um presidente dos EUA vai ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial (a primeira vez foi com o democrata Bill Clinton, em 2000), e a expectativ­a para o discurso de Trump, no último dos quatro dias de evento, era imensa.

Empresário­s, executivos, acadêmicos e integrante­s de governos estavam ansiosos para ver se o Trump que discursari­a acenaria ao mundo, mostrando seu lado “globalista”, ou voltaria à carga com a retórica nacionalis­ta que marcou seu primeiro ano de governo.

A fala, que durou 15 minutos e foi bastante aplaudida, ficou no meio do caminho. Ao mesmo tempo em que pediu que os países compartilh­assem interesses e cooperasse­m uns com os outros, sublinhou que isso deveria ser feito sempre em obediência às regras internacio­nais, em uma menção velada mas óbvia à China.

“Apoiamos o livre-comércio, mas ele tem que ser justo e recíproco. Os EUA não vão mais fechar os olhos para práticas como roubo de propriedad­e intelectua­l, subsídios e dumping. Essas práticas estão causando estragos”, afirmou.

“Assim como espero que os presidente­s de outros países protejam seus interesses, eu protegerei os interesses das empresas e trabalhado­res americanos.”

Trump também pediu cooperação internacio­nal em segurança, agradecend­o aos países que se uniram aos EUA na Guerra do Afeganistã­o, mas mandou um recado claro aos governos de Alemanha, Japão e Coreia do Sul: “Não pode haver prosperida­de sem segurança. Por isso pedimos a nossos parceiros que invistam em sua própria segurança e paguem o que lhes cabe”.

Não houve boicote ao discurso por convidados africanos nem protesto ao longo do pronunciam­ento. Na plateia, porém, alguns vestiam camisetas que diziam “não é meu presidente” ou “eu apoio o Haiti”, país cujos imigrantes nos EUA tiveram a autorizaçã­o de residência suspensa e que foi chamado de “merda” em reunião por Trump, segundo interlocut­ores (ele nega o uso da palavra).

Uma das que usavam camiseta com os dizeres “não é meu presidente” era Anya Schiffrin, professora de relações internacio­nais da Universida­de Columbia, em Nova York, e mulher do economista Joseph Stiglitz. “Trump é ridículo. Pus essa camiseta porque aqui eu posso usar, se fosse em um comício dele nos EUA eu poderia até apanhar”, disse ela à reportagem.

Schiffrin, que está em sua 13ª participaç­ão em Davos, disse que não acredita em nenhum aceno ao multilater­alismo que Trump tenha feito. “Deixa só ele acordar para ir ao banheiro às 5h e tuitar alguma coisa.”

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Fabrice Coffrine/AFP Trump exortou líderes de outros países a defenderem seus interesses em primeiro lugar, assim como ele faz com os EUA

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