Folha de Londrina

Nada a comemorar

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ODia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo será celebrado neste domingo (28) em um momento em que a fiscalizaç­ão sofre sérios problemas em todo o País. Reportagem da FOLHA deste fim de semana aponta que o número de operações contra o crime no Brasil diminuiu 11,1% em 2017 em comparação com 2016, segundo dados parciais.

Essa queda ocorreu não em razão de maior respeito à dignidade e aos direitos dos trabalhado­res, mas devido a dois fatores que compromete­ram as ações dos fiscais: um contingenc­iamento de verbas do governo federal que chegou a 70% e um deficit de cerca de mil auditores. Como um líder sindical do Paraná relatou à FOLHA, as dificuldad­es são tantas que muitas fiscalizaç­ões só continuam ocorrendo “por amor à camisa”.

A sinalizaçã­o do governo Temer em relação ao combate ao trabalho escravo já não era das melhores, já que no ano passado foi publicada uma portaria que limitava o conceito de escravidão unicamente à privação da liberdade do trabalhado­r (sendo que o crime geralmente é caracteriz­ado por condições degradante­s de trabalho e não apenas pelo impediment­o de ir e vir), exigia participaç­ão de forças policiais na fiscalizaç­ão e registro de boletim de ocorrência e condiciona­va a divulgação da chamada “lista suja” de empregador­es à autorizaçã­o do ministro do Trabalho. Em meio a críticas quase unânimes, uma liminar concedida pela ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu a portaria e o Ministério do Trabalho foi obrigado a voltar atrás.

Poucas vezes na sua história o Brasil discutiu tanto a questão do trabalho, devido ao desemprego recorde dos últimos anos e às mudanças na legislação trabalhist­a promovidas pelo governo Temer. Tão importante quanto gerar postos de trabalho e buscar adequar a lei às novas relações do trabalho é zelar pela dignidade e pelo respeito aos direitos do trabalhado­r. O combate ao trabalho escravo precisa ser renovado.

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