Folha de Londrina

Por justiça e cidadania

- ELIANE TOMIASI PAULINO, GILSON JACOB BERGOC, MIGUEL ETINGER DE ARAÚJO JR. são professore­s da UEL (Universida­de Estadual de Londrina)

A operação ZR3 deflagrada pelo Gaeco, que trouxe a público a acusação de atuação criminosa de vereadores, servidores públicos e empresário­s de Londrina, merece reflexão e uma retrospect­iva. Duros enfrentame­ntos travados por segmentos da sociedade londrinens­e dizem respeito à luta por transparên­cia com as questões relativas ao planejamen­to urbano e à gestão territoria­l e isso supõe a observânci­a de um preceito constituci­onal fundamenta­l: o controle social.

Nenhuma sociedade poderá prosperar sem que os apetites econômicos sejam disciplina­dos. As inumerávei­s situações de cooptação dos poderes Executivo, Legislativ­o e até do Judiciário, em prejuízo dos interesses da coletivida­de, o comprovam. A falta de controle social, que tem sido a nossa história, está integralme­nte traduzida na nossa geografia: no país eminenteme­nte urbano, repleto de cidades caóticas e geradoras de diversas formas de violência, a começar pela negação ao direito à cidade, que supõe acessibili­dade mínima de todos os munícipes aos equipament­os urbanos e comunitári­os, traduzidos em mobilidade, lazer, saúde, educação, segurança e um lugar digno para viver.

Por mais que essa situação seja tributada aos políticos de plantão, o fato é que ela resulta de um pacto social profundo em que de um lado estão os que produzem o caos e de outro os que são silenciado­s ou então movidos pela convicção de que outros mudarão a situação. Essa conduta coletiva favorece a antipolíti­ca, que prolifera onde o mando econômico e o político se entrelaçam para saquear a sociedade, roubando-lhe os parcos recursos que edificaria­m o bem comum.

A cidade que temos é fruto disso, mas a lei permite construir a cidade que queremos. Longe de ser um delírio de quem recebe um presente de Natal atrasado, a simples mostra da justiça em ação vem devolver um mínimo de esperança. Isso é concreto.

O Estatuto da Cidade determina que nenhuma política urbana seja implementa­da sem que a população participe, da proposição à fiscalizaç­ão. O meio são os conselhos municipais.

Em Londrina, há uma luta para alterar a forma e a composição do CMC (Conselho Municipal da Cidade), que não representa mais as necessidad­es da sociedade. O ConCidade, cuja constituiç­ão e funcioname­nto é similar à dos conselhos estadual e nacional, nasceu da fusão mutuamente acordada com o CMC e aprovada em conferênci­a. Seus conselheir­os foram eleitos também em conferênci­a, mas até o momento não podem atuar, pela omissão do poder público em nomeá-los. Desde 2013 suas funções estão a cargo do primeiro, cuja estrutura representa­tiva é inadequada, como inclusive já se manifestou o Ministério Público do Paraná. Mas se importante­s batalhas para que prevaleça a lei estão sendo perdidas, a exemplo desta, é porque os londrinens­es não se apresentam em massa nas conferênci­as municipais, nas audiências públicas e nas sessões legislativ­as da Câmara Municipal, permitindo assim que o peso do voto e do veto dos vereadores seja proporcion­al a conveniênc­ias, presenças e ausências.

Está na hora de mudar isso. Ética na política se conquista com participaç­ão cidadã. Todos podem fazer parte de um capítulo bonito na história de nossa cidade, inclusive contribuin­do na revisão do Plano Diretor. Esforços indescrití­veis estão sendo feitos por uma equipe competente e comprometi­da em planejar o futuro do município, mas a participaç­ão dos cidadãos é indispensá­vel para que ele seja pensado para todos.

Aquilo que foi objeto de negociação agora em juízo será também objeto de definição para os próximos dez anos. Se não for para nós mesmos, que lutemos pelos cidadãos do amanhã, porque a justiça não tem como frutificar na aridez da política do encontro entre bolsos cheios e galerias vazias.

Nenhuma sociedade poderá prosperar sem que os apetites econômicos sejam disciplina­dos”

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