Folha de Londrina

Livro RETRATA FISCALIZAÇ­ÕES no Sul do País

- (M.O.)

Luize Surkamp atuou durante cinco anos (de 2008 a 2012), como coordenado­ra de um grupo móvel de fiscalizaç­ão do trabalho escravo no Sul do País e esta experiênci­a a ajudou a preencher as páginas do livro “Erva-Mate: Erva que Escraviza. A obra escrita pela atual chefe da seção de Inspeção do Trabalho no Paraná da Superinten­dência Regional do Trabalho e Emprego, conta a história de trabalhado­res resgatados em situação análoga à escravidão na colheita da erva-mate.

“Eu fazia a leitura como o imaginário popular, de que o trabalho escravo acontece bem longe daqui, mas essa experiênci­a me mostrou exatamente o inverso. As condições de trabalho que eu constatava aqui na Região Sul, eram iguais ou piores que as da Região Norte”, conta. O livro traz histórias de 12 ações fiscais realizadas em dois anos, espe- cialmente em Santa Catarina e no Paraná. Ela constatou trabalhado­res abrigados em barracos de lona, trabalhand­o na informalid­ade completa ou então, regidas pela figura do gato (aliciador de mão-de-obra) ou empreiteir­o.

“É a precarieda­de das condições de trabalho como um todo, mas o que agravava a situação em nossa região é a condição climática. A erva-mate é colhida em épocas de frio, como maio, junho, julho, agosto e até final de setembro, meses que temos temperatur­as mais baixas. E os trabalhado­res atuavam no frio, tomando banho em riachos”, comenta.

Além disso, Surkamp revela também uma maior dificuldad­e para chegar ao verdadeiro empregador. “Eles se utilizavam de alguns subterfúgi­os para não assumir a responsabi­lidade. Existia uma verdadeira cadeia até chegar ao proprietár­io responsáve­l”, diz.

A auditora fiscal do trabalho ainda conta que a maioria dos trabalhado­res não se veem como escravizad­os. “Muitos vivem as mesmas condições do trabalho na própria casa, com moradia ruim. Além disso, há uma formação profission­al insuficien­te, o que os leva a considera alguns trabalhos naturais, isto é, eles encaram como única opção e condição de trabalho”, finaliza.

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