Folha de Londrina

RETA FINAL

Em entrevista exclusiva à FOLHA, governador Beto Richa revela planos para últimos meses de gestão, sobre disputa ao Senado e faz críticas ao secretário de Segurança

- Francielly Azevedo Especial para a FOLHA

“As metas são as grandes obras”, diz Beto Richa, em entrevista exclusiva à FOLHA, sobre os planos para os últimos meses de governo

Na reta final da sua gestão como governador, após quase oito anos, Beto Richa (PSDB) faz um balanço positivo sobre sua trajetória no comando do Paraná. O tucano recebeu a reportagem da FOLHA em seu gabinete no Palácio Iguaçu, na última quinta-feira (25), e revelou quais os planos para esses últimos meses de governo, além da possível disputa ao Senado.

Richa também comentou sobre a provável reforma no secretaria­do, com a saída de Wagner Mesquita da Sesp (Secretaria de Segurança Pública e Administra­ção Penitenciá­ria). De acordo com o governador, existiu uma “indisposiç­ão” entre a Sesp e o comando da Polícia Militar.

Entre outros assuntos, falou sobre as operações Publicano e Valor, relação com Osmar Dias (PDT)e Gustavo Fruet (PDT) e rebateu o senador Roberto Requião (MDB). Além disso, o primeiro londrinens­e a chefiar o Executivo estadual destacou as obras já entregues e que serão feitas em sua cidade natal e desafiou: “Não teve governo no Paraná que investiu tanto em Londrina quanto o meu”.

Beto Richa foi eleito ao governo em 2010, em primeiro turno, com 52,43% dos votos. Na reeleição, o tucano passou novamente em primeiro turno, com 55,7% do eleitorado.

O senhor fica no governo até o fim do mandato?

Essa pergunta a cada dia eu tenho respondido com mais frequência. Não é nenhuma dissimulaç­ão, é com muita franqueza, é uma decisão muito difícil. O meu governo, por exemplo, está no melhor momento, muitos recursos, muitas obras. Se você perguntar para qualquer prefeito, dos 399 municípios do Paraná, todos vão afirmar: nunca viram tantos recursos, nunca viram tantos investimen­tos e obras como estão acontecend­o em seus municípios. Esse é um aspecto que eu tenho levado em consideraç­ão. Eu não tenho, já disse isso ao longo da minha trajetória política, nenhum apego, vaidade, por ocupar cargos, títulos ou posições. Eu tenho sim honra em governar o Paraná e merecer a confiança dos paranaense­s. Eu vou avaliar no momento oportuno, daqui um mês e pouco, com meu partido, com meu grupo político, o que seria mais convenient­e: ficar até o fim do governo ou deixar o governo para concorrer ao Senado, porque teria que renunciar agora começo de abril.

Qual a expectativ­a para esse seu último ano de gestão? E quais as principais metas?

As metas são fazer as grandes obras. É curioso que o que sempre foi problema em outros governos, em outras administra­ções, não só no Paraná, mas no resto do Brasil, é o problema de recurso. Aqui não, nós temos recuralgum­as sos, mas muitas vezes o Estado não dá conta de fazer todos os projetos e todas as licitações pelos entraves burocrátic­os. A nossa angústia é dar conta de todas essas demandas que estão programada­s para acontecer. E, a par e passo, estamos conseguind­o lançar todas essas importante­s obras, muitas obras mesmo. Hoje temos um grande investimen­to em infraestru­tura.

Ainda em relação ao Senado, se o senhor não for candidato mesmo, qual seria teu futuro político, ministro?

Como falei anteriorme­nte, eu reafirmo: não tenho apego a cargos não. Nunca trabalhei para ser indicado a isso ou aquilo, as coisas acontecera­m de forma natural e eu sempre acreditei que ninguém pode ser candidato de si próprio. Então, estou com serenidade, centrando meus esforços, a minha energia, o meu tempo, em cumprir bem o meu mandato, honrar com os meus compromiss­os, retribuir a larga confiança que recebi dos paranaense­s para ser governador. Se por ventura, eu ficar até o fim do mandato, evidenteme­nte, fico sem cargo porque não disputei a eleição. Mas se amanhã ou depois tiver que sair da carreira política, saio sem nenhum ressentime­nto, só agradecime­ntos por tudo que realizei, pois deixo o Estado muito melhor do que recebi do meu antecessor.

Senador tem foro privilegia­do, o senhor está sendo investigad­o, abriria mão dessa prerrogati­va e ficaria sem um cargo?

Não tem investigaç­ões ainda. Estou muito tranquilo, absolutame­nte tranquilo, até em uma posse do TRE, que eu participei, ouvi um ministro do STF dizer o seguinte: é raríssimo um político que passou por um cargo executivo não ter pelo menos um processo. Hoje tem ações populares, qualquer um pode entrar com uma ação de investigaç­ão, de um ato administra­tivo, de uma licitação realizada, faz parte da democracia. O problema são os excessos, que nos tomam tempo e nos chateiam bastante em ter que nos defender. Mas tudo bem, faz parte, é a realidade que vivemos hoje. Acho que tudo deve ser investigad­o, ninguém está acima da lei, mas ninguém está abaixo dela. A Justiça é feita para punir culpados, mas também para absolver inocentes.

Existem rumores da troca de secretaria­do, com a possível saída do Wagner Mesquita da Secretaria de Segurança. Isso procede?

Nós estamos tentando, não é segredo, não vou aqui dissimular, não é do meu feitio. Todos sabem de alguma indisposiç­ão que veio recrudesce­ndo entre a direção da Secretaria de Segurança e o comando da Polícia Militar, associaçõe­s de classe da PM, com a condução da Secretaria de Segurança. Coincidiu também, isso eu não aceito, um corpo de uma pessoa por 12 horas largado na rua e não foi recolhido para o IML, faltava o carro, o rabecão, para retirar essa pessoa, é uma situação desumana. É inaceitáve­l essa situação que ocorreu. Cobrei também em relação a coletes balísticos. Até porque, se faltasse dinheiro na Secretaria vá lá, mas não é o caso, dinheiro nós temos, fizemos grandes investimen­tos. Então, nós estamos discutindo ainda nesse momento tudo o que ocorreu e ver se é possível contornar essa situação e reparar esses erros.

Agora, questões mais pontuais em relação a Londrina. Existe uma previsão para o início da duplicação da PR445, entre Londrina e Irerê?

Por falar em PR-445, se você me permite eu quero partir do início. A maior obra que Londrina aguardava há muitas décadas era a duplicação da PR-445 no perímetro urbano. Eu assumi como compromiss­o meu. Tivemos problema de atraso, problemas na estrutura com rachaduras, mas nós ficamos ali vigilantes e hoje a obra está recuperada e entregue. Nós vamos fazer as obras até o trevo de Mauá, mas por trechos. O primeiro trecho agora até Guaravera e Irerê já está em licitação, o edital já foi lançado. E, nos próximos, quero anunciar lá em Londrina o vencedor das obras e dar a ordem de serviço para o início da duplicação.

E o Jardim Botânico de Londrina, existe uma previsão para retomada das obras?

Abrimos vários espaços para visitação das pessoas. O projeto está pronto, desta nova etapa das obras, e o processo de licitação vai até 20 de fevereiro. Eu vou além até, acho que dá para desafiar, não teve governo no Paraná que investiu tanto em Londrina quanto o meu. E eu lanço esse desafio.

Como o senhor avalia as operações Publicano e Valor?

Eu não gostaria de fazer avaliações. Mas que houve excesso ali, houve. Eu não posso imaginar 60 ou 70 auditores fiscais presos. Pessoas aposentada­s, pessoas de idade, foram execradas, algemadas. Depois, as instâncias superiores da Justiça botaram essas pessoas em liberdade por absoluta falta de provas para a prisão, uma situação extrema, uma desonra a pessoas, uma desonra a famílias. Não estou dizendo que a operação não deveria ocorrer, não me entendam mal. Acho que todo indício deve ser investigad­o. As pessoas têm honra a ser defendida, se não há provas, não se pode partir para uma situação extrema, só isso que eu ponderaria.

O mundo político dá voltas, Greca foi aliado, virou adversário, hoje é aliado novamente. Como está sua relação com Osmar Dias e Gustavo Fruet?

O Gustavo eu não vi mais, nunca mais, nem notícias tive. O Gustavo eu lamentei o fato dele ao não ser o indicado do nosso partido, ou melhor, ele que optou em sair. Nós tínhamos o Luciano Ducci e o Gustavo, que tinham interesse em ser candidato. Fizemos uma proposta muito democrátic­a, muito apropriada, de quem estivesse melhor nas pesquisas, mas o Gustavo se apressou em sair e se unir com o PT, aqueles que ele recriminav­a o tempo todo. Lamento esse comportame­nto dele. O Osmar Dias também já há mais de anos não tenho nenhum contato. Ele tem conversado com algumas pessoas do meu grupo, meu chefe da Casa Civil, mas não tive contato.

Por fim, qual é o balanço desses oito anos de gestão?

O balanço é extremamen­te positivo. Peguei um governo totalmente desorganiz­ado e esse é o estilo do ex-governador que tocava o governo na gritaria, nas bravatas, palavras de ordem, aquele estilo atabalhoad­o, e não se preocupou com a questão administra­tiva, tocou iminenteme­nte de forma política. Me deixou o governo com R$ 3,5 bilhões de dívidas e nós saneamos todas as finanças, estruturam­os o governo, modernizam­os o governo. Copel, Sanepar e Porto de Paranaguá estavam desestrutu­rados. E eu posso exemplific­ar com dados concretos, porque ele fala com uma facilidade tremenda e não fica nem vermelho quando mente. Eu apresento dados, entidades de respeito e conceituad­as que atestam esses números. A Sanepar, por exemplo, foi reconhecid­a nos últimos anos como a melhor companhia de saneamento do país pelo Instituto Trata Brasil. A Copel nos últimos cinco anos foi apontada a melhor distribuid­ora de energia do país pela Abradi e, há cerca de um mês, foi reconhecid­a em Medelín como a da América Latina. Eu não trabalho com populismo fiscal, não trabalho com demagogia, faço o que é preciso ser feito. Estou aqui governando o Paraná sem olhar a próxima eleição.

Acho que tudo deve ser investigad­o, ninguém está acima da lei, mas ninguém está abaixo dela” Não aceito um corpo de uma pessoa por 12 horas largado na rua e não foi recolhido para o IML”

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Francielly Azevedo

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