Folha de Londrina

Cadê o piloto?

-

O governo brasileiro está comemorand­o os resultados obtidos pela economia e tentando vender uma imagem de que os problemas econômicos ficaram para trás. As postagens do presidente Michel Temer e do ministro Henrique Meirelles na rede social e microblog Twitter destacam a recuperaçã­o do mercado de trabalho, cresciment­o econômico, aumento das exportaçõe­s de veículos e inflação e juros baixos em 2017. Temer até indica que com uma inflação menor o país terá mais emprego, o brasileiro mais comida na mesa e a poupança terá maior rendimento.

Tudo isto não passa de uma tentativa desesperad­a de vender ilusões para o povo brasileiro. Tivemos, sim, a menor inflação dos últimos 19 anos. Menor até do que a meta do Banco Central do Brasil, que era de 3%. Só que este evento tem muito pouco a ver com as ações de política econômica do governo e muito a ver com o alto nível de desemprego, renda real disponível reduzida, endividame­nto das famílias ainda em patamares elevados e um cenário de incertezas e inseguranç­a muito grande com relação ao futuro político e econômico de nosso país.

As medidas desesperad­as do governo em reduzir a taxa de juros básica da economia, a Selic, como uma ferramenta para incentivar o cresciment­o do PIB, na prática contribui para o aumento da inflação. Portanto, a inflação menor de 2017 é resultado de uma combinação de eventos que pouca relação tem com as ações intenciona­is do governo.

Na verdade, a economia brasileira está melhor do que na era Dilma, só que ainda está agonizante, em crise e gera muitos cuidados especiais. O nível de desemprego não reduziu e as finanças públicas continuam desarranja­das e estas são as principais causas para que a economia não esteja melhor. Alternativ­as para a solução existem, mas nossos agentes políticos não têm interesse e muito menos coragem de tomar as medidas necessária­s para estancar o deficit fiscal para caminhar para o equilíbrio nas contas públicas.

É necessário reduzir muitas despesas que todos sabemos que são desnecessá­rias, efetuar uma alteração na Constituiç­ão Federal para reduzir os recursos que devem ser repassados para os outros poderes, além de reduzir outras vinculaçõe­s constituci­onais, praticar efetivamen­te os tetos constituci­onais de remuneraçã­o de servidores públicos e ter um maior controle sobre a execução das despesas decorrente­s de emendas parlamenta­res para os municípios.

Neste contexto, está a iniciativa de acabar com a gastança que se tem com as atividades parlamenta­res em nosso país. Se contabiliz­armos todos os recursos que são gastos com assessoria­s de deputados e senadores, além das verbas de ressarcime­nto e de gabinete, já é possível reduzir os repasses para estes poderes e contribuir para a redução do deficit.

É óbvio que os resultados macroeconô­micos de 2017 foram bons, mas eles se resumem à redução da inflação e à melhora dos indicadore­s do setor externo, porém a questão fiscal não foi resolvida. É muito provável que o governo Temer não consiga fazer as reformas e ações necessária­s para melhorar a questão fiscal e mudar a realidade econômica de nosso país.

Estas ações deverão ficar a cargo do próximo governo. E ficam as apostas se o governo que elegeremos em 2018 irá aceitar e enfrentar os custos políticos de se efetuar as reformas estruturai­s que nosso país tanto necessita. Coisas que não acredito que aconteça consideran­do o perfil atual dos nossos políticos. Portanto, os brasileiro­s podem ir “apertando os cintos” porque os nossos possíveis “pilotos” não querem ou não sabem “pilotar”. ROGÉRIO RIBEIRO é pró-reitor de Administra­ção e Finanças e professor na Universida­de Estadual do Paraná no campus de Apucarana

Os brasileiro­s podem ir “apertando os cintos” porque os nossos possíveis “pilotos” não querem ou não sabem “pilotar”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil