Folha de Londrina

NEGLIGÊNCI­A

A transferên­cia dos alunos deixou para trás um cenário de abandono na Escola Municipal América Sabino Coimbra, na zona norte de Londrina. Construído em peroba-rosa e inaugurado em 1968, imóvel foi depredado e tomado por moradores de rua. Secretaria de Edu

- Simoni Saris Reportagem Local (S.S.)

Perto de completar 50 anos, a Escola Municipal América Sabino Coimbra, no jardim Paulista (zona norte de Londrina), é o retrato do descaso com o patrimônio público. A instituiçã­o de ensino funcionou no local até o final de 2017, mas neste ano foi transferid­a para a nova escola do Residencia­l Vista Bela e o antigo prédio está abandonado. O cenário é desolador. Vândalos invadiram o local, arrombaram salas, reviraram caixas que armazenava­m papeis separados para a reciclagem, furtaram parte do mobiliário e até os vidros das janelas foram levados. O mato também toma conta das áreas verdes. “Virou mocó”, resumiu um morador do bairro.

O imóvel é uma das escolas da rede municipal construída­s em madeira que ainda resistem ao tempo. A estrutura é toda feita em peroba rosa e logo na entrada uma placa indica o seu valor histórico. Construída em novembro de 1968 com recursos doados pela Cia. Cacique de Café Solúvel, o nome da escola foi uma homenagem à mãe de Horácio Sabino Coimbra, fundador da indústria de café. A placa também traz a frase “Uma extensão de seu lar”, completame­nte deslocada da realidade atual do imóvel.

“A molecada do bairro entra todos os dias para jogar bola na quadra e também vem gente de fora mexer aí. Depois que a escola fechou, não veio mais ninguém fazer ronda. Nem polícia nem guarda municipal”, reclamou uma moradora das imediações. “E ainda tem o problema da dengue porque aí dentro está cheio de mato e lixo. Estamos muito descontent­es com essa situação. A gente sente muito porque educação é importante”, acrescento­u ela.

Em novembro de 2017, quando o governo do Paraná entregou a obra do Colégio Estadual Vista Bela, a secretária de Educação de Londrina, Maria Tereza Paschoal de Moraes, anunciou uma parceria com a secretaria estadual de Educação que consistia na cessão de dez salas de aula ao município para que as crianças do bairro pudessem estudar perto de casa a partir de 2018. Até o ano passado, 980 crianças do Vista Bela eram transporta­das diariament­e, pela prefeitura, para mais de 20 escolas municipais de outros bairros da zona norte. Uma dessas escolas era a América Sabino Coimbra.

A partir deste ano, das 980 crianças que estudavam longe de casa, 520 conseguira­m uma vaga no Colégio Estadual Vista Bela. Entre elas, as cerca de 60 crianças da escola América Sabino Coimbra, que deu nome à escola municipal que funciona no prédio do Estado. “Transferim­os para cá (turmas de) 16 escolas municipais inteiras e a turma de primeiro ano da Escola Municipal Professor Leônidas Sobriño Porto, no jardim Santa Rita. Sessenta por cento dos alunos da escola América Sabino Coimbra eram moradores do Vista Bela. O restante morava no jardim Paulista e foi transferid­o para escolas da vila Recreio, conjunto Milton Gavetti e jardim Paraíso”, explicou a diretora da Escola Municipal América Sabino Coimbra, Marly Sander, que atua na função deste 2002.

“A estrutura da nossa escola era precária, mas organizada. Com a chuvarada tivemos vários problemas. O parquinho estava interditad­o porque o muro estava caindo. Os bombeiros não davam mais autorizaçã­o de funcioname­nto. Para as crianças, foi um grande ganho porque elas deixaram de ser transporta­das todos

A secretária de Educação de Londrina, Maria Tereza Paschoal de Moraes, disse que o município não tem planos para ocupar o prédio da antiga escola América Sabino Coimbra e que também não há um projeto de recuperaçã­o da estrutura de madeira. “Tivemos uma conversa preliminar com a Secretaria Municipal de Assistênci­a Social no final do ano passado para que aquele imóvel possa ser usado como centro de convivênci­a de idosos ou adolescent­es, mas foram conversas bem preliminar­es, ainda não avançaram. Não sei o que vai ser feito lá”, disse Moraes. “O imóvel não tem alvará dos bombeiros, tem vários problemas.”

Segundo a secretária, primeiro deve ser definida uma destinação para o imóvel e, só depois, o tipo de intervençã­o mais adequado. “O prédio não pode ficar desocupado porque quando isso os dias para a escola, num ambiente estressant­e, e para a comunidade em geral também foi um ganho porque os moradores têm uma escola no bairro”, contou a diretora. Ainda há cerca de 460 crianças do Vista Bela estudando em outros bairros e a nova escola tem uma lista de espera de cerca de 200 nomes. acontece acaba sendo ocupado por outras pessoas, com outras intenções. Mas não vai ser mais utilizado como escola”, reforçou.

“Sinto uma tristeza muito grande de ver a escola naquela situação. A gente zelava por aquilo, vivia brilhando”, comentou Leonor Bueno Correia, uma das zeladoras da escola e moradora antiga do jardim Paulista. “Moro em frente à escola desde 1969. A escola era nova quando me mudei para lá. É muito difícil ver tudo abandonado.”

Parte do mobiliário que permanece no imóvel ainda deverá ser transporta­da do local e esse trabalho deve demorar entre dez e 15 dias. “Já pedimos para a Guarda Municipal fazer o patrulhame­nto na escola e vamos reforçar o pedido”, disse a secretária. A reportagem não conseguiu contato com a Guarda Municipal.

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Gina Mardones
 ?? Fotos: Gina Mardones ?? O imóvel é uma das escolas da rede municipal construída­s em madeira que ainda resistem ao tempo: cenário desolador
Fotos: Gina Mardones O imóvel é uma das escolas da rede municipal construída­s em madeira que ainda resistem ao tempo: cenário desolador
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Escola do Vista Bela, inaugurada em 2017, recebeu turmas de várias unidades municipais

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