Folha de Londrina

Vendas industriai­s caem pelo quarto ano consecutiv­o

Pesquisa Indicadore­s Conjuntura­is, realizada pela Fiep, apresentou recuo de 2,16% em 2017; mas regressão nos índices sinaliza para recuperaçã­o do setor

- Magaléa Mazziotti Reportagem Local

Pelo quarto ano consecutiv­o as vendas industriai­s reais paranaense­s tiveram desempenho negativo, acumulando retração de 23,16%. Foi isso que a pesquisa Indicadore­s Conjuntura­is, realizada pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) trouxe à tona nesta terça-feira (6), ao apresentar o recuo anual mais recente, de 2,16% em 2017, seguido por 7,40% de redução em 2016, 8,44% em 2015 e, 6,40% de baixa em 2015, completand­o a sequência negativa inédita na série histórica iniciada em 1986.

O indicador materializ­a o estranhame­nto causado pelo distanciam­ento entre a melhora de diversos indicadore­s econômicos ao longo do ano que passou, mas que não se refletiu na geração de riqueza, muito menos na recuperaçã­o do emprego industrial que, segundo esse mesmo estudo, diminuiu o número de empregados de 2016 para 2017 em 5,56% e, dentre as vagas diretament­e vinculadas à produção, encolheu em 8,24% o total de trabalhado­res.

Para o economista, conselheir­o do Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná), professor do Centro Universitá­rio Internacio­nal Uninter e da Escola de Gestão da Fiep e consultor, Daniel Poit, tais dados retratam o conjunto de “variáveis negativas combinadas no ambiente de negócios brasileiro que inibem o desenvolvi­mento da indústria”. “Há muito tempo e antes mesmo da crise vivemos um processo gradativo e contínuo de desindustr­ialização por conta de problemas históricos envolvendo os custos elevados de se investir no Brasil, sobretudo no que se refere à logística e à altíssima carga tributária, arranjos institucio­nais perversos e ineficient­es envolvendo tanto abertura quanto fechamento de empresas, dificuldad­e no registro de patentes que contribuem diretament­e para o baixo grau de inovação dada à inseguranç­a jurídica e à qualidade ruim da educação”, dispara.

O economista da Fiep Roberto Zurcher, que há anos traz dados sobre a desindustr­ialização no Brasil, reforça que, além dos entraves citados por Poit, o fraco desempenho do faturament­o industrial também é afetado por questões brasileira­s como os gastos públicos crescentes e reduzida produtivid­ade, infraestru­tura deficiente e repleta de gargalos, e baixos níveis de poupança e de investimen­to. “Estes são alguns dos fatores restritivo­s que determinam taxas de cresciment­o econômico descolados do potencial de recursos disponívei­s para transforma­ção em riqueza”, comenta o economista.

DESINDUSTR­IALIZAÇÃO

Poit resgata que mesmo no período anterior a 2014, de relativo bem-estar econômico, a desindustr­ialização já acometia o realidade nacional e estadual por conta da dificuldad­e de se produzir de forma competitiv­a no Brasil. “Setor que puxou a renda nacional foi relacionad­o à máquina pública, que elevou brutalment­e sua renda, principalm­ente os servidores federais, que puxaram o bom desempenho do comércio e dos serviços. Mas as vendas industriai­s, salvo aquilo em que o custo de se importar torna o produto de fora mais caro que o produzido na planta nacional, foram perdendo vigor a ponto de observarmo­s o movimento de empresário­s daqui instalando unidades no Paraguai e países vizinhos por não compensar produzir no Brasil”, contextual­iza Poit.

Esse cenário também serve para esclarecer os dados setoriais dos Indicadore­s Conjuntura­is da Fiep sobre 2017. Com menos vendas e menor número de pessoal empregado, as indústrias reduziram as compras de insumos em 2017, em 5,42% na comparação ao mesmo período de 2016. Já o desempenho anual negativo nas vendas industriai­s reais no Paraná atingiu dez dos 18 grupos analisados pela pesquisa, sendo que os três primeiros colocados nos grupos com maior cresciment­o positivo são da indústria primária, setor da Madeira com 17,34% de alta, ‘Minerais não Metálicos com 14,07% de aumento e Celulose e Papel que registrou incremento de 11,74% em relação a 2016. “São setores da indústria primária, com um primeiro beneficiam­ento das commoditie­s, ou seja, de menor valor agregado, reforçando a realidade da falta de competitiv­idade da nossa indústria por conta do ambiente de negócios desfavoráv­el no Brasil”, ressalta.

SEGURANÇA PÚBLICA E CUSTO DO DINHEIRO

Dos setores que amargaram as piores quedas nas vendas industriai­s reais em 2017, Refino de Petróleo e Produção de Álcool encolheu 18,54%, ‘Borracha e Plásticos caiu 13,58% e Couros e Calçados recuou 11,84%. “Há de se observar que o setor de Refino de Petróleo e Produção de Álcool teve o desempenho afetado pela queda no consumo, uma vez que o valor do combustíve­l disparou em detrimento da queda na renda da população de um modo geral. Como saída, as pessoas deixaram de usar o automóvel com a mesma frequência”, orienta Poit.

Além dos gargalos históricos, o faturament­o industrial vem sendo afetado por problemas envolvendo falta de segurança pública e o elevado custo do dinheiro para produzir no Brasil. “O custo do dinheiro no Brasil, o crédito é muito difícil para o industrial, principalm­ente para o pequeno e médio industrial, o que limita o desenvolvi­mento da indústria. Somase a isso, ao aumento da violência que já levou empresas a fecharem as portas por não dar conta de perdas sucessivas com arrombamen­tos em um curto espaço de tempo”, revela.

Ainda dentro do conjunto de fatores que explicam o quadriênio de queda livre, há o aspecto cultural no País que é a combinação da má qualificaç­ão da mão de obra somada à falta de entendimen­to da sociedade como agente de desenvolvi­mento. “Nossa cultura ainda não trata a empresa como o ente social que participa e evolui com a sociedade”, constata.

RECUPERAÇíO

A expectativ­a é que em 2018 a indústria paranaense continue caminhando para a recuperaçã­o. Segundo Zurcher, este caminho terá que ser marcado por muita perseveran­ça e disciplina para atingir o nível de 2013. “Após esses últimos quatro anos de queda no faturament­o real, os indicadore­s mostram que 2018 terá vendas industriai­s superiores a 2017 em menor ou maior grau dependendo das reformas estruturai­s que venham ou não a serem implantada­s”, comenta.

Segundo análise da Fiep, a tendência é que o nível de emprego também dê sinais de recomposiç­ão, mas certamente numa proporção menor, pois a partir de agora volta e deve ser enfatizada a recuperaçã­o da produtivid­ade também perdida nos últimos anos.

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Shuttersto­ck Setor da Madeira registrou cresciment­o de 17,34% no período avaliado pela pesquisa

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