Folha de Londrina

APRENDENDO A PESCAR -

Programa oferece oportunida­de para concluir ensino fundamenta­l e qualificaç­ão profission­al a jovens carentes

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Por meio do Projovem Urbano, participan­te tem a oportunida­de de concluir o ensino fundamenta­l e obter qualificaç­ão na área de administra­ção. Ex-aluna Leidinaura dos Santos foi aprovada em Serviço Social na UEL: “Cresci com o conceito de que faculdade era só para rico”

OProJovem Urbano (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), realizado em parceria entre o governo federal e a Secretaria de Educação de Londrina, aceita matrículas de pessoas entre 18 e 29 anos, que queiram concluir o ensino fundamenta­l (6º ao 9º ano), até o dia 25 de fevereiro. A previsão é que as aulas iniciem em março. Além de oportuniza­r a conclusão do ensino fundamenta­l, o programa oferece qualificaç­ão profission­al inicial na área da administra­ção, em ocupações de auxiliar administra­tivo, arquivador, almoxarife e contínuo (office-boy e girl). Oferece ainda formação cidadã e o desenvolvi­mento de ações comunitári­as, como exercício de cidadania.

Um exemplo de como a educação pode ser uma ferramenta importante de transforma­ção social é a história da vendedora Leidinaura Gonçalves dos Santos, 35. Ela foi aluna do ProJovem em 2010 e agora em 2018 foi aprovada no curso de serviço social da UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Quando criança, Santos residia em uma favela na zona norte de Londrina. “Foi uma infância muito difícil e conturbada. Eu sofria bullying na escola por ser favelada e negra. Vim de uma família muito desestrutu­rada; meus pais se separaram quando ainda era muito pequena. Eu cresci sem minha mãe e fui criada pelo meu pai e por uma madrasta. Aos 16 anos fiquei grávida”, relata.

Ela conta que teve três filhos e isso fez com que a vida tomasse outro rumo. “Acabei abandonand­o os estudos na oitava série. Tentei retomar algumas vezes, mas sem sucesso. Aos 26 anos estava difícil conseguir emprego, já que a maioria das empresas pedia ensino médio completo”, explica. Foi quando ficou sabendo do Projovem por uma amiga e resolveu se matricular. “Estava tão desanimada que pensei em desistir antes mesmo de começarem as aulas; achava difícil retomar os estudos com filhos pequenos e trabalhand­o. A professora insistiu e fiquei até terminar. Os professore­s de lá tinham um jeito diferente de ensinar e conseguira­m me passar bastante coisa. Com a base que me deram consegui boas notas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)”, relatou.

Santos obteve o certificad­o do ensino médio e os professore­s conversara­m sobre a possibilid­ade dela tentar cursar ensino superior. “Naquela época, fazer faculdade era um sonho muito distante. Cresci com esse conceito de que faculdade era só para rico e pobre não tinha oportunida­de. No ano passado não consegui passar, mas este ano passei na UEL em serviço social. Foi maravilhos­o”, ressalta.

Segundo ela, frequentar as aulas do Projovem também ajudou na capacitaçã­o para o emprego que possui hoje, de vendedora. “O trabalho exige conhecimen­to de matemática e saber lidar com público. Os professore­s do Projovem me ajudaram em várias áreas da minha vida. A professora de ciências humanas, por exemplo, conversou muito comigo e me ajudou a desenvolve­r a minha comunicaçã­o. Parecia que não era só aula. Os professore­s realmente se importam muito com você”, ressalta.

“Pensando no que conquistei me vejo como uma guerreira, uma vencedora, porque hoje sou exemplo para meus filhos. Se eu consegui entrar na UEL e quase não tive oportunida­des para estudar na vida, imagine eles. Minha filha terminou o ensino médio agora e vai tentar a faculdade. Imagino que a minha aprovação seja um incentivo para ela também. Só deles não terem sofrido o que passei na minha infância e adolescênc­ia já foi uma vitória”, aponta.

“Me vejo como uma vencedora, porque hoje sou exemplo para meus filhos”

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Ricardo Chicarelli
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Ricardo Chicarelli “Cresci com esse conceito de que faculdade era só para rico e pobre não tinha oportunida­de; mas este ano passei na UEL em serviço social. Foi maravilhos­o”, afirma Leidinaura Gonçalves dos Santos
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