Folha de Londrina

Marcam o Carnaval

Temer também não escapou das críticas e foi alvo de ironia na festa que segue politizada

- France Presse

As escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro incendiara­m o sambódromo no domingo, na primeira das duas noites de desfile, que teve conotação de crise política e social.

Carros que criticavam o prefeito evangélico Marcelo Crivella, que cortou a verba para os desfiles, ou exibiam o presidente Michel Temer como um vampiro foram alguns dos destaques da noite.

Sete das 13 escolas do Grupo Especial desfilaram na noite de domingo (11), e outras seis desfilaram na segunda-feira (12), até o amanhecer. A primeira a desfilar, Império Serrano, abusou da criativida­de com uma homenagem à China, expressand­o sua admiração pela cultura milenar que se tornou uma nação líder no século XXI.

Os carros alegóricos representa­ram um pagode gigante, um dragão, um Buda e a Grande Muralha, enquanto as alas exibiam alegorias sobre a Rota da Seda ou a guarda imperial das antigas dinastias.

No ano passado, o carnaval carioca coroou duas escolas, que terminaram empatadas: Portela e Mocidade Independen­te de Padre Miguel. As normas de segurança foram reforçadas este ano, e os motoristas dos carros alegóricos tiveram que submeter, pela primeira vez, a testes para detectar o teor de álcool no sangue.

Carnaval de crise - Mas a segurança não é um tema que se resume ao sambódromo. Cerca de 17 mil policiais foram mobilizado­s na cidade, que vive uma onda de violência centrada na guerra entre traficante­s de drogas nas favelas, com operações militares para tentar recuperar o controle da situação.

Para complicar as coisas, as escolas de samba tiveram que lançar mão da criativida­de depois que o prefeito Marcelo Crivella, ex-bispo evangélico, reduziu pela metade o subsídio municipal, alegando o impacto da crise financeira.Após a polêmica, Crivella adotou um tom mais conciliado­r e reconheceu, na última sexta-feira, que a celebração, que atrai mais de 1 milhão de turistas para a cidade e gera mais de 1 bilhão de dólares, poderia “devolver o otimismo” à população.

O desfile da Mangueira, que aconteceu de madrugada, teve o tema “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco”, e proclamou, provocante: “Pecado é não se divertir no carnaval”.

Presidente Drácula - Outra escola, Paraíso do Tuiuti, apresentou um enredo com o tema “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, que lembrou que, este ano, completams­e apenas 130 anos desde fim desta forma de exo ploração humana no Brasil, sem que suas sequelas tenham sido eliminadas.

Várias alas foram dedicadas a lembrar este fato, como o alto nível de desigualda­de social, a exploração do trabalho rural e em oficinas industriai­s, e o trabalho informal. Também denunciara­m a recente reforma trabalhist­a, que flexibiliz­ou as normas de contrataçã­o e demissão. Em um dos carros alegóricos, uma figura de “Drácula” ganhou os traços do presidente Michel Temer.

O protesto “é um caminho que as escolas retomam, porque têm um papel social: reivindica­r a voz das pessoas mais pobres”, disse o professor de história Leo Morais, 39, que interpreto­u o Drácula.

Para a segunda noite de desfiles, a Beija-Flor anunciou um enredo inspirado em “Frankenste­in”, “com reflexões sobre desgraças como a corrupção, violência e intolerânc­ia”.

O carnaval também reúne milhões de pessoas em outras capitais do Brasil, como Salvador e Recife, onde a estrela é o folclore regional ao ritmo de blocos de samba-reggae, frevo e maracatu.

Não há loucos mais importunos do que os tagarelas.”

(Duque de La Rochefouca­uld)

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