LUIZ GERALDO MAZZA
Aberto o campo para o debate do Carnaval sem partido, como já tivemos o da escola sem partido.
Afora as marchinhas que mexem com o ministro Gilmar Mendes e um ou outro destaque do dia a dia, o fato de maior impacto foi no desfile da Paraíso da Tuiuti o presidente Michel Temer de vampiro do neoliberalismo. Concluiu-se que em função dessas charges, comuníssimas na prática momesca, estava aberto o campo para o debate do carnaval sem partido, como já tivemos o da escola sem partido.
Essa caricatura dos costumes, abrangendo os políticos, sempre foi uma constante para apoiar ou denegrir. Marqueteiros de Getúlio Vargas dominavam essas artes e tanto que no esforço de guerra, anos quarenta, fez-se uma em que o brasileiro era confrontado com Hitler. Era assim: “Quem é que usa um cabelinho na testa// e um bigodinho que parece mosca// só cumprimenta levantando o braço// e e e ê palhaço!// Quem tem o G que ficará na história// o V que levará à glória// e um sorriso que nos dá prazer// e e e ê vitória!//
Aquilo que tem pinta de espontâneo não o é tanto assim e isso ficou nítido, depois do exílio de Getúlio com o mandato de senador e sua volta gloriosa nos anos cinquenta, quando massacrou outro mito, o brigadeiro Eduardo Gomes, aquele dos onze do Forte de Copacabana. E veio “O Retrato do Velho”, assim cantada “Bota o retrato do velho// outra vez// bota no mesmo lugar// o sorriso do velhinho// faz a gente trabalhar//”
Inevitável também que essas produções mexessem na questão social como a trajetória do pedreiro Valdemar : “Você conhece o pedreiro Valdemar?// Não conhece? Pois eu vou lhe apresentar// de madrugada toma o trem da circular// faz tanta casa e não tem casa pra morar!”
E assim se caricaturava a carência da população, como a da falta de moradia: “Há muito tempo não tenho onde morar// se é chuva apanho chuva// se é sol apanho sol/ francamente pra viver nessa agonia// eu preferia ter nascido caracol// levava minha casa nas costas muito bem// não pagava aluguel// nem luvas a ninguém// morava um dia aqui// o outro acolá// Leblon, Copacabana, Madureira ou Irajá//” E lá vinha a majestosa geografia do Rio para completar a marchinha.
Com humor, sem sinal de ressentimento, é claro que havia um tom pragmático de conformismo, a sabedoria enfim de que a mudança é lenta e sofrida. Como o é viver hoje no Rio em meio aos tiroteios da guerra urbana, o que não impede o enfrentamento da dura adversidade com alguma reserva de humor,