CRÍTICA E VITORIOSA -
Escola de Nilópolis ficou apenas um décimo à frente da Paraíso do Tuiuti, que também levou para o Sambódromo um enredo de conotação política, com críticas à reforma trabalhista e a Michel Temer
Comunidade de Nilópolis fez a festa com o triunfo da Beija-Flor no Carnaval do Rio. Agremiação levou para a Sapucaí enredo sobre as mazelas do País, com destaque para a corrupção. Campeã do Grupo Especial superou a Paraíso do Tuiuti por apenas um décimo. Salgueiro, Portela e Mangueira completaram o time das cinco primeiras colocadas. Grande Rio e Império Serrano foram rebaixadas.
A escola de samba Beija-Flor de Nilópolis é a grande campeã do Grupo Especial do Carnaval 2018 do Rio, com um enredo sobre as mazelas do Brasil e destaque para a corrupção. Com 269,6 pontos na apuração, a BeijaFlor ficou apenas um décimo à frente da Paraíso do Tuiuti, escola que desfilou com um enredo também de conotação política, com críticas à reforma trabalhista e ao presidente Michel Temer, retratado como vampiro. Salgueiro, Portela e Mangueira completam o time das cinco primeiras colocadas. Grande Rio e Império Serrano foram rebaixadas.
O cantor Neguinho da Beija-Flor, principal intérprete da escola de Nilópolis, disse que a crítica social foi o destaque da escola que encerrou os desfiles da segunda-feira de carnaval. “A crítica do que acontece no nosso País, a desigualdade (foi o melhor da escola). Muitos sem nenhum e poucos com muitos”, disse Neguinho, ainda na Praça da Apoteose, onde as notas dos jurados são lidas na cerimônia de apuração.
O tom de protesto tomou conta da cerimônia de apuração. Enquanto as notas das escolas de samba eram lidas pelo locutor da Liga Independente das Escolas de Samba
Rio -
CATIVEIRO SOCIAL
(Liesa), com transmissão ao vivo na tevê, foram entoados, algumas vezes, gritos pedindo “Fora Temer”.
Completando 70 anos neste 2018, a Beija-Flor, que a cada ano se supera nos quesitos luxo e imponência, fez um desfile atípico. Crítica das mazelas brasileiras, a apresentação em alguns momentos remeteu o público que acompanha carnaval ao histórico “Ratos e urubus, larguem minha fantasia” (1989), do carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011) - que tratava de luxo, lixo, pobreza e festa e até hoje é um dos mais lembrados da história do sambódromo.
A escola fez um paralelo entre o Frankenstein, de Mary Shelley, personagem que está completando 200 anos, e os “monstros nacionais”: a corrupção, as agressões à natureza, o uso indevido de impostos, as disparidades sociais. Foram retratados favelas com traficantes “armados”, brigas de casal e até uma mãe velando um filho policial morto. A chamada “farra dos guardanapos”, episódio do esquema de corrupção do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), foi encenada.
Componentes vestidos de pastores evangélicos, católicos e muçulmanos se juntaram contra a intolerância religiosa. Pablo Vittar foi destaque no carro anti-LGBTfobia. No geral, a plateia comprou o discurso de indignação da escola de Nilópolis, na Baixada Fluminense, que encerrou sua passagem com a simulação de uma passeata popular, seguida pelo público saído de frisas e camarotes.
Já a Paraíso do Tuiuti, alçada ao grupo de elite das escolas de samba do Rio em 2017, levou para o Sambódromo um enredo sobre a escravidão no Brasil e defendeu a ideia de que ela ainda não acabou, apenas mudou de forma. O carnavalesco Jack Vasconcelos partiu dos navios negreiros do século 16 e chegou ao “cativeiro social” dos dias de hoje, marcado por desigualdades sociais e precarização do trabalho. As últimas alas e o último carro alegórico, bastante aplaudidos, faziam críticas à reforma trabalhista e traziam a imagem do presidente Temer como vampiro.