Folha de Londrina

O poder do jornalismo contra as fake news

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As gafes se acumulam e já são cometidas por diversas personalid­ades, que compartilh­am em suas mídias sociais as famosas fake news - notícias fantasiosa­s que enganam por seu caráter de veracidade e construção realizada conforme padrões jornalísti­cos - impactando milhares de pessoas. Algumas dessas notícias destoam por seu aspecto absurdo, listando fatos quase impossívei­s de serem reais. Outras fantasiam sobre o cenário atual para causar reações, seja estranhame­nto e potencial revolta sobre o fato, ou ainda comoção, tristeza e empatia. Em qualquer uma dessas formas, elas são uma versão reformulad­a da verdade, uma contravenç­ão sobre o papel do jornalismo, que busca, acima de tudo, representa­r o real.

As mídias sociais viralizam o conteúdo. Sem fazer uma segunda checagem, os usuários apertam sem cerimônia o botão “compartilh­ar”, fazendo com que informaçõe­s inverídica­s tenham o poder de percorrer Estados, países e continente­s. Num ambiente no qual o debate sobre o que é importante poderia ser ampliado, ele passa a ser distorcido. Uma versão moderna do uso da mídia para vigiar o meio, se utilizarmo­s como base as antigas teorias da comunicaçã­o.

Isso porque se, no início da utilização da internet as fake news que mais chamavam atenção eram as dezenas de lamentaçõe­s sobre a morte de artistas que se encontrava­m vivos, hoje, elas têm impactado discussões muito mais importante­s, como aconteceu com as eleições dos Estados Unidos e o Brexit (processo de saída do Reino Unido da União Europeia).

Em ano de eleições no Brasil, onde o cenário comove o público por seu ineditismo, espera-se que as fake news sejam recursos utilizados como massa de manobra para conquistar votos e propagar opiniões com bases infundadas. A previsão é que sites “duvidosos” publiquem informaçõe­s, que depois serão distribuíd­as pelo Facebook, Twitter e WhatsApp, como estratégia de manipulaçã­o para servir certos interesses políticos e econômicos. O Senado já se atentou a isso e propôs um projeto de lei que pretende punir com até três anos de detenção aqueles que fizerem a divulgação das fake news. Pode ser um começo, mas em um País no qual a impunidade e a injustiça parecem parte de seu DNA, não se sabe até qual ponto o perigo de reclusão será uma barreira para esses atos. Entretanto, o que poucos lembram é que a prática tem um oponente tão semelhante em aspecto, mas tão diferente em sua dinâmica: o jornalismo de verdade.

Hoje, também disponívei­s em sua maioria pela internet, os jornais e os portais noticiosos são os grandes combatente­s das fake news. Isso se inicia pela própria caracterís­tica do negócio, que é relatar o que acontece no mundo, de forma ética e imparcial. Se antes a quantidade de fatos e temas era restrito pelo espaço (quando o jornalista vivia a mercê do tamanho de laudas para contar as histórias), agora é possível escrever sobre praticamen­te tudo no ambiente digital. Essa dinâmica pode ter alterado muito a forma de noticiar, mas não afetou de maneira alguma a essência da comunicaçã­o, que é trazer um apanhado do que acontece de verdade no mundo.

Teorias da comunicaçã­o, formas objetivas de comunicar, importânci­a da ética e de mostrar múltiplas visões sobre o mesmo tema: durante o ensino superior, o jornalista é munido com informaçõe­s para uma prática que entenda como o seu papel é importante para a sociedade como um todo. Além disso, ele recebe instruções para entender como o trabalho mal realizado pode ter consequênc­ias catastrófi­cas. Matérias sensaciona­listas, mal apuradas e tendencios­as são apenas alguns desses exemplos. Nesse cenário, os meios de comunicaçã­o profission­ais despontam como o refúgio para visualizar se o que está circulando nas mídias sociais é verdadeiro. Pautados em princípios como a checagem das informaçõe­s, eles voltaram a ser reconhecid­os como fontes críveis para entender a realidade. Conforme pesquisa realizada pelas universida­des de Darthmouth, Princeton e Exeter, apesar de um em cada quatro norte-americanos terem tido contato com alguma fake news durante as últimas eleições presidenci­ais, os eleitores também continuava­m se informando com frequência pelos veículos de imprensa. Ou seja, o jornalismo sério passa a reforçar seu papel e sua importânci­a na sociedade como fonte segura para ficar a par do que acontece pelo mundo.

A guerra contra as fake news ainda está no começo, principalm­ente quando o termo é utilizado por muita gente quando algo que afronta suas convicções é publicado - mesmo que seja verdade. Google e Facebook já estão nessa batalha, trabalhand­o com códigos que penalizam esse tipo de conteúdo. Entretanto, o jornalismo será uma arma imprescind­ível nesse processo, atuando com responsabi­lidade para que atinja seus grandes objetivos: informar e levar seu público a racionar sobre os eventos, criando suas próprias percepções sobre a realidade. Tendo como base um único ingredient­e: a verdade.

LUCIANA SÁLVARO é jornalista e assessora de imprensa na Central Press

O jornalismo será uma arma imprescind­ível nesse processo, tendo como base a verdade’’

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