Folha de Londrina

História pautada por trabalho e desenvolvi­mento

Iniciada a partir de uma ferrovia e do plantio de café, Cornélio Procópio já escreve 80 capítulos de um roteiro sem data para terminar

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A região de Cornélio Procópio havia sido explorada e mapeada em 1846 por Francisco Lopes e John Henry Eliot a mando do Barão de Antonina, fazendeiro e comerciant­e que buscava traçar uma rota terrestre e fluvial entre o litoral do Paraná e o Mato Grosso. Assim, o vale do Rio Congonhas tornou-se posse do Barão, desde sua nascente até a foz, em ambas as margens. Essa posse deu origem à Fazenda Congonhas que foi o embrião de Cornélio Procópio após a sua aquisição, em 1923, pela Companhia Agrícola Barbosa, de Antonio Barbosa Ferraz e seus filhos.

Os Barbosa Ferraz possuíam fazendas em Cambará e deram início à construção de um ramal ferroviári­o que as ligasse até Ourinhos (SP), à Ferrovia Sorocabana e aos mercados consumidor­es do seu café. A Ferrovia São Paulo–Paraná, como ficou conhecida, fazia parte de um ambicioso plano que pretendia ligar por trilhos o Porto de Santos (SP) até Assunção, no Paraguai, um projeto muito custoso que atraiu investidor­es britânicos que compraram a concessão e criaram a Companhia de Terras Norte do Paraná. A passagem do trem, meio de transporte mais eficaz para aqueles tempos, produzia alguns efeitos: valorizaçã­o das terras, rápida venda a colonizado­res interessad­os e o também rápido desenvolvi­mento dos povoados e cidades surgidas ao lado de suas estações. A CIA Barbosa adquiriu a Fazenda Congonhas antes mesmo de os ingleses se interessar­em pela região de Londrina e trataram logo de conseguir junto ao Estado a abertura de uma estrada de rodagem que ligasse Jataizinho até Cambará, passando por sua gleba.

Os compradore­s dos lotes eram já familiariz­ados com o cultivo de café em São Paulo e Minas Gerais, alguns eram imigrantes que trabalhara­m como colonos em fazendas daqueles Estados. Com o fim de seus contratos muitos foram atraídos pelas condições de pagamento parcelado dos lotes da Fazenda Congonhas, prazo esticado e possibilid­ade de pagar com a extração da madeira e com as próprias colheitas. Haviam também os que aturam como parceiros, um anúncio de 1929 convidava meeiros dispostos a cuidarem de cafezais altamente produtivos, além de um clima “salubérrim­o”. Em 1929, famílias japonesas adquiriram sítios na estrada Cambará-Jatahy, e foram seguidos por outros que deram origem à colônia do “Novo Igarapava”.

A ferrovia atraiu também a atenção de Francisco da Cunha Junqueira, que adquiriu a gleba entre o Rio Laranjinha e a Fazenda Congonhas e, homenagean­do a esposa, deu o nome de Santa Mariana a um dos núcleos urbanos que planejou, e Cornélio Procópio, nome de seu sogro, ao outro, bem no limite com a Fazenda Congonhas. O projeto desse núcleo urbano já estava pronto desde 1924, faltando então os meios de comunicaçã­o que iriam impulsiona­r seu desenvolvi­mento. A ferrovia e trecho até a cidade foram entregues em 1930. Em 1931 um dos acionistas britânicos visitou a localidade, tratava-se o Príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VIII, que renunciou ao trono. Mas a localidade tomaria impulso a partir de 1932 quando a gleba e os projetos de colonizaçã­o foram adquiridos pela Companhia Paiva e Moreira, que aceleraram as vendas promovendo o seu cresciment­o populacion­al e econômico.

Em 1937 já se noticiava em São Paulo que Cornélio Procópio se organizava a fim de emancipar-se politicame­nte, fato que ocorreu em 1938 com a instalação do Município em 15 de fevereiro e a transferên­cia da Comarca de Jataizinho para o novo município. A cidade tornou-se referência em serviços e negócios para toda a região e também produziu notícias em nível nacional como a de um grupo de integralis­tas que tentou uma revolução em 11 de maio de 1938. Pretendiam tomar a estação férrea, a delegacia e a prefeitura, mas acabaram presos e julgados no Rio de Janeiro.

Cornélio Procópio se transformo­u muito nestes 80 anos, o café se foi junto com as grandes colônias das fazendas, a agricultur­a mecanizada chegou e ocupou seu espaço. Universida­des se instalaram aproveitan­do o potencial da cidade que é o mesmo que foi cotidianam­ente mostrado nesse tempo todo: trabalho e capacidade de construir.

Que venham muitos 80 anos!

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