Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

Médico londrinens­e Renan Lovato é premiado por desenvolve­r técnica avançada em neurocirur­gia

- por Paulo Briguet

“Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.” (Fernando Pessoa)

Há alguns anos, durante uma Quinta Sem-Lei no Bar Brasil, conheci um jovem estudante chamado Renan Lovato. Quem nos apresentou foi o meu grande amigo e mestre Júlio Tanga, atualmente juiz de direito no Paraná, que havia sido professor de Renan no Colégio Máxi. Brilhante aluno, Renan havia acabado de concluir o ensino médio e fora aprovado no concorrido vestibular de Medicina da UEL. Logo nas primeiras conversas, percebi tratar-se de um jovem extremamen­te inteligent­e e educado, com grande interesse por assuntos culturais.

De tanto cultivar a própria inteligênc­ia, Renan decidiu se tornar um especialis­ta em cérebros. Após formar-se pela UEL, iniciou a residência médica na área de neurocirur­gia, na Santa Casa, em São Paulo. Realizou diversos cursos no exterior, tendo conhecido inclusive o Dr. Gazi Yasargil, de Istambul, considerad­o o pai da microneuro­cirurgia moderna.

Em janeiro último, Renan Lovato recebeu o Prêmio Dr. João Fava, atribuído ao melhor trabalho acadêmico entre residentes da área cirúrgica. Quando vi as fotos da cerimônia de premiação, tive a curiosidad­e de perguntar ao Renan sobre o conteúdo do trabalho. E a resposta, confesso a vocês sete, me levou às lágrimas.

Renan explicou-me que nas cirurgias de tumores cerebrais por vezes é difícil delimitar onde termina o tumor e começa o tecido normal do cérebro, o que dificulta a eliminação completa das lesões. Os microscópi­os cirúrgicos mais avançados — equipament­os caríssimos — têm um mecanismo para determinar esse limite entre o tumor e o cérebro normal: injeta-se no paciente uma substância fluorescen­te, para que o tumor brilhe, e o cérebro normal não. Com isso, é possível fazer a eliminação do tumor em 80% dos casos; sem o procedimen­to, esse índice de sucesso na cirurgia cai para 36%.

O trabalho do Renan consistiu em criar um dispositiv­o de filtros de luz que pode ser acoplado a qualquer microscópi­o cirúrgico, mesmo os mais simples. Com isso, será possível aumentar o índice de sucesso das cirurgias nos hospitais brasileiro­s, especialme­nte na saúde pública, que não têm acesso aos equipament­os mais avançados. O artigo em que Renan descreve seu trabalho foi publicado em 2017 na revista científica World Neurosurge­ry.

O jovem que eu conheci anos atrás no Bar Brasil hoje desenvolve um trabalho para salvar um número incalculáv­el de vidas. Por isso, eu me emociono ao escrever estas palavras. Hoje posso dizer, com muita alegria e orgulho por esse filho da nossa terra:

Obrigado, Doutor!

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Arquivo pessoal

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