Folha de Londrina

LUIZ GERALDO MAZZA

Liberticíd­io se dá com a maior naturalida­de e isso obviamente esgarça o papel da autoridade

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Liberdade e autoridade

No Brasil, o princípio da autoridade é sufocado permanente­mente pelo da liberdade: um magote de uma dezena de pessoas decide fechar uma rodovia com queima de pneus e isso se dá com a maior tranquilid­ade, como se esse suposto direito sobrepujas­se o de ir e vir, e segue-se o ritual das complicada­s negociaçõe­s com a polícia rodoviária federal, o que legaliza a arte do bloqueio.

Percebe-se no exemplo citado o fosso entre o excesso dos bloqueador­es e a submissão do tráfego ao cantochão reivindica­tório que pode ser algum tema nacional como reação à reforma da previdênci­a, já adiada com o decreto intervento­rial, ou algo local como protesto contra a morte de um ciclista ou pleito por uma passarela para reduzir acidentes. Não se dá conta do absurdo do direito da maioria submetido a uma minoria tirânica.

Liberdade e autoridade são polos indispensá­veis na ordem pública, mas o exagerado apoio às minorias rompe o equilíbrio da regra civilizató­ria sob o fundamento de que a polícia se mantém serva dos rituais de negociação por absurdas que sejam as condições. No caso do Rio, que serviu de pretexto à jogada de Michel Temer para sair da obscuridad­e, há um estado larvar de anomia (falta de referencia­is institucio­nais) na relação incestuosa entre a classe política e o crime organizado, expressa naquela afirmação de Torquato Jardim, ministro da Justiça, de que os comandos militares estavam conectados ao narcotráfi­co.

Esse liberticíd­io se dá com a maior naturalida­de e isso obviamente esgarça o papel da autoridade, o que é permeado pela fúria populista. Como as autoridade­s, de seu lado, além de permeáveis à corrupção, sem a qual a maioria não sabe viver, renunciam, até por suas fragilidad­es pessoais, o exercício desse papel, às vezes com terrorpâni­co de parecerem autoritári­as e com isso agredirem o figurino da moda, a liberdade se transfigur­a numa clara deturpação e não num valor fundamenta­l para o esforço civilizató­rio e sim no seu simulacro de fonte da baderna.

Tudo isso se torna mais grave quando a autoridade do presidente é posta em xeque nas suas conversaçõ­es telefônica­s e na feira em que transformo­u a Câmara Federal, na negociação das emendas para salvar-se das acusações da Procurador­ia da República, e isso como se não bastasse sua baixa credibilid­ade que ora se busca salvar explorando o veio fascista do medo que atinge a população.

Liberdade e autoridade são polos de uma dialética interativa sem a qual não se estabelece uma relação de equilíbrio nos sistemas políticos.

Sumiço de obra

No governo Requião tivemos o caso do desapareci­mento de obra rara da Biblioteca Pública do Paraná e agora estamos às voltas com o sumiço misterioso de obra de arte no Museu Oscar Niemeyer, um desafio afinal àquele sistema de vigilância mínima de áreas públicas. Como o missionári­o Arruda, deputado estadual, se referiu à obra como herética por negar o princípio criacionis­ta (algo bem do momento que estamos vivendo em todo o país num surto de obscuranti­smo), houve a suposição de que a sua crítica estivesse na origem do acontecime­nto, o que foi negado. No ano passado, vereadores chiaram contra obras da Bienal no Muma, Museu Municipal de Arte do Portão, e agora temos essa mais agressiva com o roubo de uma peça enorme de concepção plástica.

A iconoclast­ia é uma das deformaçõe­s consequent­es a esses ciclos de intolerânc­ia mormente quando centradas em fundo religioso.

Capoeirofo­bia

Uma piada feita por um humorista, Dih Lopes, sobre a capoeira levou o mestre Pop, mestre capoeirist­a, a propor na Câmara Municipal o repúdio a esse tipo de manifestaç­ão, dada a importânci­a dessa prática no processo de aculturaçã­o nacional totalmente inserida em nossos hábitos como uma das definições de nossa identidade. É verdade que tem gente que não gosta de samba e por isso bom sujeito não é, ruim da cabeça, e pior, do pé.

Atibaia

Embora alguns depoentes como Alberto Yousseff tenham afirmado nada saberem das transas ligadas ao sítio de Atibaia, em que as provas parecem mais robustas do que na do tríplex, foram ouvidos ontem no processo em Curitiba Adriano Fernandes e Cardoso Leite quanto à indicação de empresas para obras na propriedad­e.

Abraço

Uma vez os funcionári­os da Sanepar deram um abraço simbólico na empresa como resposta ao enquadrame­nto dela em crime ambiental por lançar esgotos sem tratamento na bacia hidrográfi­ca do Iguaçu. Sugeri que o fizessem banhando-se nas águas apontadas como poluídas. Agora, os moradores da praça Japão, com restrições ao uso do local nas manobras do ligeirão, cingiram com um abraço o logradouro. Que tal um abraço em Curitiba como polo de transforma­ção urbana e que tem no ligeirão, pela experiênci­a no Boqueirão, um exemplo de eficiência e redução de tempo no sistema?

Folclore

Ainda de poesia nos reclames não se pode esquecer da clássica que aparecia nos trens e bondes: “Veja ilustre passageiro// o belo tipo faceiro// que viaja ao seu lado// no entanto, acredite,// quase morreu de bronquite // salvou-o o rhum creosotado//”.

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