Folha de Londrina

Dias contados

- Luís Fernando Wiltemburg Pedro Marconi Reportagem Local

Empresas de transporte coletivo de Londrina iniciam processo gradual para acabar com a presença de cobradores em todos os ônibus e adotar o pagamento apenas por cartões. Medida, porém, desagrada usuários

As empresas que exploram o serviço de transporte coletivo urbano de Londrina decidiram acabar com a presença de cobradores em todos os ônibus. A ausência desses trabalhado­res foi definida em ACT (Acordo Coletivo de Trabalho), aprovado em assembleia pela categoria, e já está valendo. Apesar de não atuarem mais nos carros, os funcionári­os não poderão ser demitidos por um prazo de três anos. Ao todo, 1.805 trabalhado­res integram o sistema, sendo 541 cobradores, de acordo com balanço de dezembro de 2017 da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o).

O objetivo da TCGL ( Transporte­s Coletivos Grande Londrina), responsáve­l pela maior parte da frota, é adotar a cobrança apenas por cartões, o que, segundo a empresa, agilizaria o embarque. Além disso, isto reduziria riscos de assaltos a coletivos, que são frequentes. A retirada dos cobradores será de forma gradual, ressaltou a empresa, para que seja analisada a adaptação dos usuários. Isso ocorrerá a partir das linhas com menor fluxo de passageiro­s e, a princípio, não existe um prazo para que atinja a totalidade. A ausência de cobradores já ocorria após às 19h, de segunda a sábado, e também aos domingos e feriados, de acordo com a empresa. “Nunca registrou nenhum problema”, ressalta a nota encaminhad­a pela assessoria de imprensa.

A medida, porém, desagrada muitos usuários do transporte coletivo. Eles reclamam da possível falta de segurança, já que os motoristas terão que dividir a atenção da direção com o recebiment­o do dinheiro. “Motorista dirigir e cobrar é inadmissív­el. Se já temos vários acidentes com eles só conduzindo, pensa tendo que se preocupar com dinheiro”, apontou o vendedor Claudio Corrêa. “Está errada esta atitude. A empresa só está pensando nela. Já acho errado o micro-ônibus. Como é que ficam os usuários que continuam pagando alto pela tarifa?”, se queixou o ensacador aposentado João Batista Camargo.

Imagina um ponto com um monte de pessoas tendo que pagar para o motorista”

PREOCUPAÇíO

Outra preocupaçã­o é com os atrasos que podem se tornar frequentes. “Imagina um ponto com um monte de pessoas tendo que pagar para o motorista. O tempo que vai ficar parado com o veículo vai ser muito grande. Temos horário para chegar no serviço. E também estamos sabendo tudo pela imprensa e não com avisos das empresas”, afirmou Luciane Soares, que trabalha como caixa.

Para os cobradores, o receio é com a diminuição da oferta de vagas de trabalho na área. “É o transporte coletivo de Londrina que gera emprego de cobradores. Com esta extinção anunciada como viveremos daqui há alguns anos?”, indagou um cobrador, que preferiu não ser identifica­do.

A CMTU afirmou que a circulação de ônibus sem cobradores é prevista no contrato de prestação de serviços e na legislação municipal, desde que aprovada em ACT. “O papel da CMTU é garantir que o serviço seja prestado de maneira satisfatór­ia”, declarou a companhia fiscalizad­ora por meio de nota.

NOVAS FUNÇÕES

O presidente do Sinttrol (Sindicato dos Trabalhado­res em Transporte Rodoviário de Londrina), João Batista da Silva, disse que a ausência dos cobradores foi aprovada pelos trabalhado­res, mas com a condição de estabilida­de empregatíc­ia. “Neste período, eles terão de ser absorvidos para outras funções dentro da empresa. Se não houver outra coisa para fazer, os cobradores vão receber os salários sem fazer nada”, garantiu. Ele explicou que para eliminar a cobrança em dinheiro seria preciso um ato normativo do poder Executivo. Enquanto não houver decreto impedindo o pagamento em espécie, os motoristas vão receber uma gratificaç­ão de 10% sobre o rendimento da linha em que estiver trabalhand­o.

O presidente do sindicato ainda informou que pelo menos 60% dos passageiro­s utilizam vale-transporte ou adquirem créditos para os cartões previament­e. “Quando os motoristas vinham reclamar para mim que estavam exercendo as duas funções (dirigir e cobrar), eu perguntava quantos usavam dinheiro e eles diziam que eram três ou quatro. Aí, dificultav­a até para questionar a empresa.”

Em média, 130 mil pessoas utilizam o transporte coletivo em Londrina diariament­e em 419 ônibus que percorrem 137 linhas. Entretanto, o sindicato elenca que este número está diminuindo devido às modalidade­s de transporte privados por aplicativo, como o Uber.

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Gustavo Carneiro
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Gustavo Carneiro A retirada dos cobradores será de forma gradual, começando pelas linhas com menor fluxo de passageiro­s

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