Folha de Londrina

Somos campeões em ‘burrocraci­a’

- CLAUDIO TEDESCHI é presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina

Desde a chegada da família real portuguesa, sob o comando de Dom João VI, em 1808, o Estado brasileiro foi tomando forma.

A muda - que despontou no século XIX e se tornou esta imensa árvore que ora tentamos domar - já dava seus recados.

A comitiva numerosa que aportou no Rio de Janeiro já era regida pelo intento, tão insistente quanto bem-sucedido: fazer a população ser servil à Corte. A ideia encontrou terreno fértil, adubada por uma cultura extremamen­te romântica e pouco racional.

O Estado grande e voraz se fortaleceu e nunca cedeu aos flertes dos que defendiam um contrapont­o, uma inflexão. Por que não constituir um Estado servil à sociedade?

Esta resistênci­a nos custa muito caro. À sombra da imensa árvore estatal, descansa em privilégio - o corporativ­ismo, a corrupção, a ineficiênc­ia, a baixa qualidade do serviço público. Árvore saqueada e exaurida. Ao redor das castas do funcionali­smo e da elite política, uma população desassisti­da e um setor produtivo castigado por impostos e por leis retrógrada­s. A fórmula do fracasso.

Os medidores internacio­nais estão aí para nos lembrar o quão desoladore­s são os resultados deste modelo estatal inchado e oneroso – o mesmo que cria dificuldad­es para vender facilidade­s.

De acordo com levantamen­to da Heritage Foundation, que organiza um ranking global de liberdade econômica, a república caminha ainda hoje com os propósitos da turma de Dom João VI.

Encontrar o Brasil na lista é um exercício de paciência. Do líder Hong Kong até o grandalhão sul-americano é preciso descer muito o cursor. Entre um e outro, são outras 151 nações mais livres que a nossa. No continente americano, estamos praticamen­te na zona de rebaixamen­to: 27º lugar entre 32 países. Nossa pontuação geral fica abaixo das médias regional e mundial.

Paulo Rabello de Castro, na sua obra “O Mito do Governo Grátis”, define o estágio atual do Brasil como uma “selva burocrátic­a e um manicômio tributário”, gerando o que meu amigo Paulo Briguet classifico­u nesta FOLHA como um “genocídio de empresas”.

Esta feroz máquina burocrátic­a, insaciável arrecadado­ra, é especialis­ta também na defesa dos seus inúmeros privilégio­s e se caracteriz­a por uma absoluta ineficiênc­ia.

Quando da última eleição municipal, a Acil e as principais entidades empresaria­is solicitara­m a todos os candidatos, ratificand­o com o prefeito eleito e os eleitos para a legislatur­a da Câmara, três ações prioritári­as, a saber: redução drástica dos prazos para a concessão de alvarás, licenças e outros documentos autorizati­vos; maior integração entre os diversos órgãos da Prefeitura; planejamen­to estratégic­o a longo prazo em todas as áreas.

Há de se reconhecer o esforço do prefeito eleito, que imediatame­nte após a posse, constituiu um grupo de trabalha e que já começa a trazer alguns resultados.

Porém, a teia burocrátic­a dá indícios de que está bem armada, principalm­ente pelos ideólogos de plantão. Ainda resiste a péssima ideia de combater nossa pouca liberdade econômica, algo que temos conquistad­o a duras penas.

Observamos com apreensão alguns movimentos para a criação de organismos de controle e novas instâncias regulatóri­as. Até quando vamos nos resignar diante desta mentalidad­e atrasada?

Gosto sempre de mencionar o pensador Tácito, historiado­r e político romano que nasceu no primeiro século depois de Cristo e morreu no segundo, um sábio que teve a perspicáci­a de entender perfeitame­nte a ordem da relação entre duas coisas que marcam a trajetória humana. Dizia ele: “Quanto mais corrupto o Estado, maior o número de leis”.

É preciso refletir sobre tudo isso para não cometermos novos erros e retroceder­mos mais uma vez em direção à “burrocraci­a”.

Os medidores internacio­nais estão aí para nos lembrar o quão desoladore­s são os resultados deste modelo estatal inchado e oneroso”

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