Folha de Londrina

Pauta prioritári­a para a economia é recebida com ceticismo

Quinze pontos elencados pelo governo federal, que incluem simplifica­ção tributária e desestatiz­ação da Eletrobras, formam agenda paliativa e requentada, na avaliação de entrevista­dos pela FOLHA. Onze projetos já tramitam no Congresso Nacional. Presidente­s

- Aline Machado Parodi Reportagem Local

Apauta prioritári­a para a economia anunciada pelo governo federal na segunda-feira (19) é considerad­a paliativa e requentada, uma vez que, dos 15 pontos elencados, 11 já estão em tramitação no Congresso Nacional. A pauta foi definida após o governo recuar na aprovação da Reforma da Previdênci­a. A justificat­iva é que intervençã­o federal no Rio de Janeiro impossibil­ita a votação de qualquer Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC), como é o caso da reforma.

Dentre os pontos priorizado­s pelo governo na nova pauta, estão a simplifica­ção tributária (mudanças no PIS/Cofins); o marco legal de licitações e contratos; o programa de recuperaçã­o e melhoria empresaria­l das estatais; a desestatiz­ação da Eletrobras; a autonomia do Banco Central; e a nova lei de finanças públicas.

O presidente do Sindicato dos Economista­s de Londrina, Ronaldo Antunes, afirmou que o anúncio das medidas é mais uma ação de marketing do que de uma vontade política. “Divulgar em um momento de derrota é como um banho de espuma. Essas 15 medidas estão sendo requentada­s. A única séria é a proposta de independên­cia do Banco Central”, disse. Segundo ele, a autonomia do BC significar­ia para o mercado o fim das amarras políticas e as decisões seriam mais técnicas.

O setor empresaria­l não acredita que a nova pauta econômica traga grandes impactos em curto prazo. “O presidente Temer está dando continuida­de ao que já tinha assumido”, disse Edson Luiz Campagnolo, presidente da Fiep (Federação das Indústria do Estado do Paraná).

A nova pauta econômica foi considerad­a positiva pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, mas ele avalia que é necessária uma redução no total de projetos. “O que eu gostaria de ver é o governo e as lideranças afunilarem estas 15 prioridade­s e prepararem estratégia de votação”, disse.

Mesquita destacou que as 15 medidas são bastante heterogêne­as e estão em estados diferentes de andamento. “A privatizaç­ão da Eletrobras está na cara do gol. Em outras medidas, precisamos evoluir mais”, afirmou o economista. Outra das propostas que estão avançadas é a simplifica­ção da estrutura do PIS/Cofins, que já tem um projeto pronto.

Uma das que mais agradaram o economista do Itaú é a volta da proposta de autonomia do Banco Central. “Tenho sido historicam­ente favorável à autonomia. Se vier, já vem tarde”, disse Mesquita, que já foi diretor da autoridade monetária. Ele ressaltou que todas as principais democracia­s do mundo têm bancos centrais autônomos. “Vamos ser se dessa vez vai.”

PREVIDÊNCI­A Para o presidente da Fiep, o recuo em relação a Reforma da Previdênci­a foi mais porque o governo percebeu a dificuldad­e em aprovar a matéria em ano eleitoral do que pela intervençã­o no Rio. “Será que não há consenso entre os deputados que a re- forma é urgente para a retomada do cresciment­o do país? Os interesses partidário­s estão acima dos interesses do país”, afirmou Campagnolo.

Na avaliação dele, a decisão passa ao mercado externo a mensagem clara de que as metas das contas públicas não serão cumpridas. “A reforma é essencial para termos um horizonte de possível cresciment­o econômico e da equidade do poder público e privado. O mercado externo deve ver a medida com desconfian­ça. Essa foi uma atitude de se preservar e de preservar o congresso”, comentou Campagnolo.

A agência de classifica­ção de risco Moody´s considera que abandonar os planos para aprovar a proposta da reforma da Previdênci­a é negativo para o perfil de crédito do Brasil, pois poderá restringir a capacidade das autoridade­s de cumprir com o teto de gastos do governo. A agência dá nota Ba2 para o Brasil.

Os ministros e líderes negam que a Reforma da Previdênci­a esteja enterrada e acreditam que ela poderá ser aprovada em outubro, após as eleições. “Vai ser difícil fugir da reforma. É uma agenda que vai ter que existir”, disse Antunes.

Em relação ao mercado, o economista disse que não deve ter grandes mudanças no cenário, pois a derrota do governo já estava incorporad­o nos preços.

O presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Cláudio Tedeschi, também pensa que o mercado já absorveu a retirada da proposta de reforma. Mas que o assunto não pode ser sair de pauta. “Mais cedo ou mais tarde terá que ser feita a reforma. É uma questão aritmética. A população está envelhecen­do”, disse.

Tedeschi afirmou que as mudanças na Previdênci­a aceleraria­m o cresciment­o da economia. “É uma questão de justiça social. O país não consegue mais pagar pelos privilégio­s do setor público”, comentou.

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Gelson Bampi/Agência Fiep Edson Campagnolo: “O presidente Temer está dando continuida­de ao que já tinha assumido”

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