A voz dos sobreviventes
“Estamos perdendo as nossas vidas enquanto os adultos estão brincando”. A declaração, de um adolescente americano a uma rede televisão, mostra a indignação de uma geração diante dos políticos dos Estados Unidos que recebem dinheiro da NRA, a Associação Nacional do Rifle. O estudante que criticou de forma tão dura congressistas e o governo americano é um dos sobreviventes da escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, onde 17 pessoas morreram em um atentado a tiros na semana passada. O ex-aluno da escola Nikolas Cruz abriu fogo contra os colegas usando um fuzil de estilo militar AR-15.
Passados os primeiros dias de dor e trauma, a juventude americana partiu para uma onda de protestos. Independente do partido do presidente dos EUA, o foco das críticas é a política de controle para venda de armas. O que chama atenção é a agilidade e a capacidade de organização da sociedade americana em soltar a voz por uma causa e fazer com que seus políticos e dirigentes prestem atenção em suas críticas. Tanto que o presidente Donald Trump disse que iria se encontrar com estudantes e autoridades da Flórida nesta quinta-feira (22).
O movimento iniciado pelos jovens de Parkland está ganhando espaço pelos EUA e eles deixam claro que estão de olho nos congressistas que tentarão se reeleger nas eleições legislativas deste ano. As vozes que se levantaram após o massacre de Parkland foram as mais inesperadas. Os sobreviventes afirmam que os seus governantes os decepcionaram porque não foram capazes de garantir sua segurança. Jovens brasileiros também têm motivos para fazer a mesma cobrança. Só que no Brasil, o problema é a violência diária. Os EUA viveram muitas tragédias como a de Parkland, a ponto das crianças serem treinadas sobre como agir em situações de atiradores invadirem as escolas. A pronta manifestação dos jovens americanos é uma singularidade, embora não deveria ser uma surpresa.
Aqui, no Brasil, os caras-pintadas da década de 1990 também fizeram história. É sempre inspirador ver jovens se manifestando de maneira responsável e em paz, participando das discussões importantes de suas comunidades e fazendo suas vozes serem ouvidas.