Folha de Londrina

‘Buscas também cabem no Congresso’

- Folhapress

São Paulo

- O procurador Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, teceu duras críticas nesta terça-feira (20) contra os mandados coletivos de busca e apreensão durante a atuação das Forças Armadas no Rio. Por meio de uma rede social, Dallagnol ironizou a proposta. “Se cabem buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do Congresso”, escreveu.

O procurador afirmou ainda que “as evidências existentes colocam suspeitas muito maiores sobre o Congresso, proporcion­almente, do que sobre moradores das favelas, estes inocentes na sua grande maioria.”

Dallagnol ainda sustentou que o “Código de Processo Penal não autoriza expedição de mandados de busca coletivos ou genéricos. Ao contrário, exige a precisão possível na indicação dos imóveis a serem alcançados.”

“Será muito curioso se, na intervençã­o no Rio, tribunais aceitarem mandados de busca coletivos para bairros ou ruas inteiros, em comunidade­s pobres, onde não moram banqueiros e empresário­s”, reafirmou o procurador.

As críticas de Dallagnol reforçam um coro de especialis­tas em segurança e direitos humanos que temem brechas para possí- veis violações.

A professora Eloisa Machado, da FGV Direito de São Paulo, afirmou que a Constituiç­ão garante a inviolabil­idade da casa e é necessária uma justa causa para que haja um mandado de busca e apreensão. Segundo ela, a existência da intervençã­o federal não altera em nada a garantia dos direitos.

“Para entender o absurdo, é como imaginar que todo um condomínio fosse revistado pela polícia. Tudo faz parte da visão seletiva de que o domicílio das pessoas mais pobres não teria a mesma garantia.”

Para Isabel Figueiredo, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, trata-se de uma medida inconstitu­cional. “A lei obriga a fundamenta­ção do pedido, não pode colocar como suspeita uma comunidade inteira”, disse.

A primeira instância da Justiça fluminense já autorizou, nos últimos anos, buscas coletivas em comunidade­s como Cidade de Deus (zona oeste), Jacarezinh­o e Complexo da Maré (zona norte).

Segundo Lívia Casseres, do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria do Estado do Rio, o órgão adotará medidas judiciais para impedir ações que violem os direitos individuai­s dos cidadãos.

Em nota, o Ministério da Defesa defendeu os mandados coletivos como uma possibilid­ade e disse que as operações não incluem capturas.

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