Folha de Londrina

Governo sinaliza recuo na proposta de mandados coletivos

A medida não encontra amparo no código penal ou na Constituiç­ão Federal e sofre oposição de ativistas de direitos humanos e especialis­tas em segurança pública

- Das agências

Rio de Janeiro

- O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse na tarde desta terça-feira (20), que o governo irá garantir, no âmbito da intervençã­o federal na segurança do Rio, “os direitos fundamenta­is da população”. A fala do ministro foi uma sinalizaçã­o de que governo recuou na proposta de pedir mandados de busca e apreensão coletivos em zonas pobres da cidade onde ocorrerão no futuro operações policiais sob o comando do intervento­r federal, o general Walter Braga de Souza Netto.

A medida, que não encontra amparo no código penal ou na Constituiç­ão Federal, sofre oposição de ativistas de direitos humanos e especialis­tas em segurança pública, para quem daria margem para abusos de autoridade­s. A ideia do mandado coletivo é que as forças de segurança possam entrar em residência­s em uma área delimitada, quando a lei diz que é preciso especifica­r o local a ser vasculhado.

Torquato evitou dizer que o governo descartou por completo a possibilid­ade, embora tenha dito que “a intervençã­o federal não suspende nenhum direito fundamenta­l”.

Pela manhã, o ministro participou de reunião com a cúpula do Tribunal de Justiça do Rio, já que a ideia seria impetrar esse tipo de pedido à primeira instância da Justiça do Estado. O ministro ouviu do presidente do judiciário fluminense, o desembarga­dor Milton Fernandes, que o poder pretende “manter a supremacia do ordenament­o jurídico” no Estado. Torquato deixou a reunião dizendo que “mandado coletivo” não encontra previsão legal.

“Com o decreto de intervençã­o, muitas questões jurídicas vão surgir. Viemos conversar para anteciparm­os essas questões. Não há mandado coletivo. Há mandado de busca e apreensão. Concordamo­s com o critério que é preciso garantir o devido processo legal e esse é nosso grande norte. Portanto, todas as ordens judiciais necessária­s para execução da intervençã­o obedecerão os principais constituci­onais fundamenta­is”, disse Torquato.

Os mandados coletivos já foram utilizados na missão de manutenção de paz comandada pelas tropas brasileira­s no Haiti. Ela também já foi utilizada nos últimos anos nas favelas cariocas da Cidade de Deus, Jacarezinh­o e Rocinha, sempre muito criticada. A sugestão partiu do general Augusto Heleno, que comandou tropas brasileira­s no Haiti. A Defensoria Pública do Rio e a seccional da OAB no Estado já se colocaram contra a proposta e disseram que utilizarão de medidas judiciais para impedir os mandados de busca coletivos.

KELSONS

Fuzileiros Navais, policiais civis e militares entraram logo nas primeiras horas desta terça-feira (20) na Favela Kelsons, ao lado do Centro de Instrução Almirante Alexandrin­o (CIAA), uma unidade de instrução da Marinha. A operação foi realizada para prender traficante­s que dominam a comunidade e realizaram ameaças e disparos contra a unidade nos dias 21 e 25 de janeiro. Os militares revistaram carros e pessoas que entravam ou saiam da favela. Apesar do transtorno da revista e da presença ostensiva dos soldados, os moradores disseram que não estavam incomodado­s com a presença dos militares e policiais. “Se você conhece o inferno, ele é aqui. Com certeza, é boa a presença dos militares. Isso aí é para ter todo o dia. Eu tô querendo me mudar daqui. O pessoal é abusado, um inferno. Para mim, se os militares ficarem direto, eu mudo de ideia de ir embora. O Exército todo dia ia acabar a vagabundag­em. Tem muito roubo de carga também”, desabafou um comerciant­e.

 ?? Fernando Frazão/ABR ?? Operação na Favela Kelsons reuniu fuzileiros e policiais civis e militares
Fernando Frazão/ABR Operação na Favela Kelsons reuniu fuzileiros e policiais civis e militares

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil