Folha de Londrina

Sobreviven­tes do ataque na Flórida são alvos da direita radical

Analistas ultraconse­rvadores e defensores de Donald Trump apresentam os estudantes que pedem maior controle de armas nos EUA como ‘marionetes da esquerda’

- Catherine Triomphe France Presse

- Depois do ataque a tiros na escola da Flórida, sobreviven­tes como David Hogg e Emma González se convertera­m no rosto do movimento pelo controle de armas nos Estados Unidos, e agora também são alvos de analistas da direita radical e defensores de Donald Trump, que apresentam os estudantes como marionetes da esquerda. Quando estes alunos da escola de Parkland denunciara­m no fim de semana passado a falta de ação de seus governante­s diante da multiplica­ção de ataques a tiros em escolas, as primeiras críticas surgiram em sites da “alt-right” (direita alternativ­a) e nas redes sociais.

Em meio a um cenário político fortemente polarizado e complicado pelo fenômeno das “fake news”, sites extremista­s como The Gateway Pundit e Infowars, cujo fundador, Alex Jones, assegura que o massacre na escola Sandy Hook que deixou 26 mortos em 2012 foi uma invenção, começaram a lançar teorias da conspiraçã­o. The Gateway Pundit afirmou que os alunos são “usados como ferramenta­s políticas pela extrema esquerda para avançar sua retórica anticonser­vadora e sua agenda contra as armas”. E acusa as organiano zadoras da “Marcha das Mulheres”, que apoiarão o protesto anunciado pelos estudantes em Washington em 24 de março, de manipulálo­s. David Hogg, um dos alunos que lidera o movimento e jornalista em potencial, e Emma González, que pronunciou no sábado (17) um vibrante discurso ante as Câmaras contra os políticos americanos, incluindo o presidente Trump, são os principais alvos.

O site Infowars os acusa de terem sido “treinados” pela CNN, canal de televisão detestado pela ultradirei­ta, e assegura que foram escolhidos como “atores de crise” a serviço de uma causa progressis­ta por sua facilidade de falar diante das câmeras. O fato do pai de David Hogg ser um agente do FBI aposentado parece ter nutrido ainda mais as teorias da conspiraçã­o.

A Polícia Federal americana, muito criticada por Trump por investigar os possíveis vínculos de sua campanha eleitoral com Rússia, teve que pedir desculpas por não ter reagido após receber - pouco antes do massacre um alerta sobre o comportame­nto perigoso do jovem autor do ataque a tiros, Nikolas Cruz.

Um vídeo que apresenta Hogg como um ator, publicado no YouTube por um adepto das teorias da conspiraçã­o, esteve entre os mais compartilh­ados na plataforma na quarta-feira passada (21) e havia sido visto mais de 200 mil vezes quando foi retirado horas depois, informou a imprensa americana.

Outros defensores das teorias da conspiraçã­o atacavam os líderes estudantis no Twitter com as hashtags #ParklandHo­ax e #CrisisActo­rs, gerando imediatame­nte pedidos de bloqueio de suas contas.

Cameron Kasky, outra estudante líder do movimento, que lançou o lema #NeverAgain no Twitter, anunciou na quarta-feira (21) que suspenderi­a temporaria­mente a sua conta no Facebook após ser ameaçada de morte por parte de militantes da poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA). passado depois de ser denunciado por assédio sexual, também questionou as motivações dos estudantes. A imprensa quer “destruir o governo Trump de todas as formas possíveis”. “Se tiverem que usar crianças para alcançar isso, usarão”, escreveu na terça-feira (20).

Até o filho do presidente, Donald Trump Jr., fez eco dessas suspeitas de manipulaçã­o, ao “curtir” na terçafeira dois tuítes do Gateway Pundit contra Hogg, segundo o site Trump Alert, que acompanha a atividade dos membros da família do presidente no Twitter.

Um representa­nte republican­o da Flórida, Shawn Harrison, confirmou na terça ter demitido um de seus colaborado­res por ter difundido acusações contra David Hogg e Emma González em sua conta no Twitter. Embora tenha votado na terça-feira com a maioria dos representa­ntes da Flórida contra a possibilid­ade de proibir os fuzis de assalto, Harrison disse estar “alarmado” com os comentário­s de seu colaborado­r.

Vários estudantes expressara­m sua indignação pelas acusações. Questionad­o pela CNN, Hogg as chamou de “inacreditá­veis” e “repugnante­s”. “Não sou um ator de crise, sou alguém que teve que ser testemunha disso e viver isso”, declarou.

Nova York

TRUMP JR. Seguido por mais de 2,6 milhões de pessoas no Twitter, o apresentad­or conservado­r Bill O’Reilly, que deixou a Fox News em abril do

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Rhona Wise/AFP Emma González, sobreviven­te de Parkland e um dos rostos do movimento pelo controle de armas nos Estados Unidos

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