Folha de Londrina

Iniciada há um mês, Operação ZR3 pode estar longe de chegar ao fim

Investigaç­ão que veio à tona há um mês foi possível graças à denúncia feita pelo agricultor Junior Zampar, que tentava mudar zoneamento para vender terreno

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Ação comandada pelo Gaeco - que denunciou treze pessoas por envolvimen­to em uma suposta organizaçã­o criminosa para aprovação de projetos de lei de mudança de zoneamento em Londrina - deve pedir a quebra do sigilo bancário dos investigad­os, o que pode levar a uma possível denúncia por lavagem de dinheiro. Em entrevista à FOLHA, o agricultor Junior Zampar, que denunciou o esquema ao Ministério Público, disse que só se arrepende de “não ter feito antes”

Deflagrada há um mês pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP (Ministério Público) do Paraná, a Operação ZR3 pode estar longe de chegar ao fim. Até agora treze pessoas foram denunciada­s por suposto envolvimen­to em uma organizaçã­o criminosa encrustada na Câmara Municipal de Londrina. Cinco inquéritos estão abertos para apurar outros fatos criminosos, em um desdobrame­nto dos crimes de corrupção que teriam sido cometidos para apresentaç­ão de projetos de lei de mudança no zoneamento urbano. O esquema veio à tona por meio do agricultor Junior Zampar que denunciou e colaborou com as investigaç­ões ao gravar conversas, registrar encontros dentro e fora do Legislativ­o com agentes públicos, políticos e interlocut­ores que se tornaram réus na Justiça.

“Desde o início tínhamos a ideia de que as investigaç­ões iriam avançar. Relatamos os 15 primeiros fatos criminosos na denúncia que foi aceita na última semana pela Justiça”, disse o promotor Jorge Barreto, coordenado­r do Gaeco. Ele adiantou que dos cinco inquéritos, apenas um já estava em curso antes da operação ter sido deflagrada, no dia 24 de janeiro. “É um fato (mudança de zoneamento) de 2011, que ainda não foi formalizad­o na denúncia para preservaçã­o e apuração dos fatos.” A expectativ­a também é para a quebra do sigilo bancário dos investigad­os, que pode levar a uma possível denúncia por lavagem de dinheiro.

A princípio, os inquéritos sob investigaç­ão envolvem os mesmos acusados, mas o MP não descarta a participaç­ão de outros agentes públicos. “É possível que tenham outros envolvidos? Sim, é possível. É justamente por isso que as investigaç­ões con-

MP não descarta a participaç­ão de outros agentes públicos

tinuam”, explicou Barreto. Segundo ele, a intenção do Gaeco agora é tentar reaver aos cofres do município o dinheiro pago por meio de propina. O montante não foi estimado. “Esse dinheiro que eles ‘lucraram’ de forma ilícita é que queremos ir atrás.”

ESQUEMA Para Barreto, todas as provas, depoimento­s colhidos e documentos apreendido­s que embasaram a denúncia caracteriz­am a existência do conluio arquitetad­o para aprovação de projetos de lei de mudança de zoneamento. Ele aponta como fundamenta­l o papel do denunciant­e, Junior Zampar, vítima do suposto esquema criminoso. “Ficou claro desde o início que a única forma que ele conseguiri­a alterar a mudança de zoneamento da propriedad­e seria sucumbido às propostas oferecidas pela organizaçã­o criminosa.”

Segundo o promotor, mesmo com casos reincident­es de corrupção em Londrina, as operações poderão ter um caráter educativo. “Esses processos servem para quem se viu vítima de uma agente público saber que essas situações, se comprovada­s, não ficarão impunes.”

TRÂMITE Na última segunda-feira (19) o juiz da 2ª Vara Criminal Délcio Miranda da Rocha acolheu a denúncia e treze investigad­os tornaram-se réus: os vereadores afastados Mario Takahashi (PV ) e Rony Alves (PTB), que seriam líderes da organizaçã­o criminosa, segundo o MP; os três membros do CMC (Conselho Municipal das Cidades) - Luiz Guilherme Alho, Ignês Dequech (ex-presidente do Ippul) e Cleuber Moraes; o servidor público, Ossamu Kaminagaku­ra (exdiretor de loteamento­s da Secretaria de Obras)-; o assessor parlamenta­r Evandir Aquino; além dos empresário­s acusados de corrupção ativa Antonio Carlos Dias, Brasil Filho, Homero Wagner Fronja, José de Lima Castro Neto, Julio Cesar Cardoso e Vander Mendes Ferreira.

Sendo confirmado a denúncia, as testemunha­s arroladas pela defesa serão ouvidas e depois os réus interrogad­os e por último a sentença. A princípio até o julgamento os citados aguardam processo em liberdade. “A partir do momento que o MP entender que alguém está atrapalhan­do o regular andamento da instrução e da busca da verdade irá tomar as medidas cabíveis no âmbito criminal e legal”, frisa Barreto.

Os promotores do Gaeco estão seguros de que todos os fatos narrados na denúncia provam os crimes imputados aos réus. “Temos absoluta certeza de que foi feita uma ação integrada pelos agentes citados destinada a receber valores indevidos para prestação de favores ilícitos”, afirmou o coordenado­r do Gaeco.

 ?? Ricardo Chicarelli/Arquivo FOLHA ?? A intenção do Gaeco, segundo o promotor Jorge Barreto, é tentar reaver aos cofres do município o dinheiro pago por meio de propina
Ricardo Chicarelli/Arquivo FOLHA A intenção do Gaeco, segundo o promotor Jorge Barreto, é tentar reaver aos cofres do município o dinheiro pago por meio de propina

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil