Folha de Londrina

‘Desde o começo eu acreditava que estava fazendo a coisa certa’

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O depoimento que serviu de base para Operação ZR3, deflagrada há um mês, foi do agricultor Junior Zampar, filho de Carlos Eduardo Zampar, proprietár­io de uma área na Gleba Lindoia (zona leste) que estava negociando a venda do terreno para uma loteadora, mas esbarrava na lei de zoneamento. Ou seja, precisava transforma­r a área de ZI-2 (zona industrial) para ZR-3 (zona residencia­l). Em entrevista à FOLHA, o agricultor revelou os bastidores das negociaçõe­s, a tensão vivida pela família e o balanço que faz por ter sido denunciant­e do suposto esquema. “Desde o começo eu acreditava que estava fazendo a coisa certa. Medo? Medo a gente tem porque estava gravando tudo. Mas não tem como essas pessoas dizerem que não era bem isso. Eu só me arrependo de não ter feito antes”, revela.

A venda da área estava sendo negociada com uma empresa do setor imobiliári­o interessad­a em lotear área. “Somos agricultor­es, estávamos apenas tentando vender nosso terreno com uma condição melhor e não tem nada de ilegal em agregar valor a nossa área”, disse ao lembrar das dificuldad­es que a família passou durante as negociaçõe­s.

Segundo Zampar, em 2012 ele foi apresentad­o a Mario Takahashi por um primo. Era em período eleitoral e toda família teria dado apoio na campanha. “Eu cheguei a colar adesivo dele no meu carro.” No ano seguinte, com interesse de entender o processo de mudança de zoneamento, Zampar conta que em novo encontro com Takahashi (junto com seu primo, no Jardim Ideal), o vereador pediu R$ 1 milhão de reais para poder ajudá-lo na tramitação do projeto de lei. “Ele foi bem direto ao ponto, disse que a coisa pública é assim mesmo não anda. É complicado. Na mesma hora eu disse não, não pago. Para mim foi uma surpresa, não estava preparado para isso”.

Em 2014, a família Zampar tentou protocolar o pedido de mudança de zoneamento, sem ajuda de vereadores, mas a solicitaçã­o não prosperou na Câmara.

Já em fevereiro do 2017, o agricultor foi procurado pelo Ministério Público e passou a colaborar com as investigaç­ões da Operação ZR3, gravando todas as conversas com os envolvidos. “Nossos vizinhos (empresário­s, réus da ação) disseram que o caminho para mudança seria através do Luiz Guilherme e o vereador Rony”. A partir daí os encontros ocorriam no gabinete do vereador, junto com o assessor parlamenta­r Evandir Aquino. “Foi quando pediram o orçamento do EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança) R$ 100 mil mais sete terrenos (que somavam R$ 1,6 milhão) para fazer a coisa andar. Esse trabalho político que não tem que ter na verdade”, disse.

Segundo Zampar, o servidor público Ossamu Naminagaku­ra (diretor de loteamento­s da Secretaria de Obras) “criava dificuldad­es para vender facilidade­s”. “Fomos duas vezes lá e ele não explicava os reais motivos que não permitiam mudar o zoneamento da área, sendo que temos vizinhos que conseguira­m mudar para ZR3”, conta.

Para o agricultor, a conversa mais compromete­dora gravada foi com a ex-presidente do Ippul, Ignês Dequech. Ele conta que ela se apresentou e foi até a fazenda da família no dia 2 de outubro do ano “Quem escancarou tudo foi a Ignes que contou que tinha propina no esquema.” Ele alega que Ignês pediu R$ 120 mil mais 1% dos terrenos, o que daria ao menos R$ 3 milhões para realizar o EIV.

Somente a esposa, o pai e um amigo próximo sabiam que Zampar estava colaborand­o com as investigaç­ões do Gaeco e o apoiaram como denunciant­e, vítima do suposto esquema de corrupção. “Alguns primos não estão conversand­o comigo porque acham que agora teremos mais dificuldad­es para vender o terreno. Eu acho justamente o contrário. É difícil para quem é sem vergonha. Para quem é honesto, é possível fazer as coisas pelos trâmites certos. Estávamos negociando a venda com uma empresa idônea. Não justifica pagar propina. Mas empresário­s desse setor ficam refém desses vereadores e agentes públicos. Isso porque do contrário a coisa não anda.”

O denunciant­e cobra justiça também na Câmara e revela que está disposto a depor como testemunha. “O mínimo que os demais vereadores devem fazer é cassar os mandatos desses vereadores, o mínimo”, concluiu. O processo protocolad­o na Câmara para pedido de abertura de Comissão Processant­e está na Mesa Executiva, que abriu prazo para defesa dos vereadores afastados.

Para quem é honesto, é possível fazer as coisas pelos trâmites certos. Não justifica pagar propina” (G.M.)

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