Uma família, três nacionalidades
O casal Gustavo Adolfo Montes, 28, e Laura Daniela Camacaro, 21, veio para o Brasil com a filha Ashly Sofia, de um ano e dois meses, em 2017, em busca de uma vida melhor do que a que tinham em seus países de origem. Montes é colombiano e conheceu a esposa na Venezuela, onde ela nasceu. Os dois estão juntos há sete anos e tiveram a filha enquanto moravam no Peru. A crise econômica, a violência e o desemprego explicam a família constituída por três nacionalidades distintas.
Montes concluiu o ensino médio e um curso técnico em agricultura e foi servir o exército na Colômbia. Na volta, sem emprego, foi ajudar a tia, proprietária de um bar, em troca de casa e comida. Mas a falta de perspectiva levou-o à Venezuela, onde conheceu a mulher. Em 2014, ele veio sozinho ao Brasil. Morando em Curitiba, trabalhava sem registro e sem carteira de habilitação como motoboy, mas sofreu um acidente de trânsito, precisou amputar parte do pé direito e decidiu retornar à Colômbia. Em 2015, novamente deixou o país natal e partiu para o Peru, onde Camacaro foi encontrá-lo. O casal teve a filha e partiu novamente para a Colômbia. Tempo depois, Montes decidiu retornar ao Brasil e depois de quatro meses a mulher também veio com Ashly.
Primeiro Montes morou em São Paulo, onde trabalhava como entregador de material publicitário de porta em porta. Por meio de um amigo soube que em Londrina teria oportunidade de trabalho e migrou para o Norte do Paraná, onde também ganha a vida distribuindo anúncios. A vida não é fácil, mas aqui o casal sente que tem chances de melhorar de vida. Os dois estão em processo de regularização da documentação para viverem legalmente no País.
Além da barreira do idioma, no Brasil o casal tem que contornar outras dificuldades. “Percebo que quando vou comprar alguma coisa muita gente quer cobrar mais caro de mim só porque sou estrangeiro. E no prédio onde moramos, temos muita dificuldade de nos aproximar dos vizinhos. Alguns deles até conversavam com a gente antes, mas de uma hora para outra passaram a nos evitar. Não sabemos por quê”, comenta Montes. “A Colômbia é conhecida pela violência, pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e pelo Pablo Escobar também, e acho que muita gente pensa que somos um povo violento, o que não é verdade.”
Camacaro diz que por várias vezes já se sentiu menosprezada por ser estrangeira e lamenta a atitude porque gostaria de ter mais contato com os brasileiros não só para ampliar seu círculo de convivência, mas também para poder aprender o português. Por enquanto, ela se dedica aos cuidados com a filha, mas pensa em conseguir um emprego mais para a frente para poder ajudar a família dela, que está na Venezuela. “Meu pai tem 57 anos, é hipertenso, não tem acesso a remédios e não pode deixar de trabalhar para garantir o sustento da família. Quem tem dinheiro compra remédios na Colômbia, mas com a nossa moeda desvalorizada, precisa de muito dinheiro para isso e minha família não tem. Comida também falta. Há muito tempo que minha família tem se alimentado apenas de banana e mandioca. Eles comem uma vez ao dia e, se muito, duas vezes”, conta. “Na Venezuela estão violando todos os direitos humanos e ninguém pode protestar porque vai preso ou morre”, emenda Montes.
“A situação na Colômbia também está muito ruim. O país está indo pelo mesmo caminho da Venezuela. Eu saí de lá porque as guerrilhas estavam matando muita gente. Fui para a Venezuela, mas lá também está difícil. Aqui no Brasil há uma crise, mas é menor. Aqui estamos muito felizes. Você trabalha, não ganha muito, mas consegue sustentar a família”, afirma Montes.