‘É pior do que aparece na TV ’
Há seis meses no Brasil, a venezuelana Natasha de Lima, 23 anos, diz que deixou seu país por causa da violência e da escassez de alimentos e produtos básicos. Ela foi de ônibus até Roraima, vendeu produtos de maquiagem na capital Boa Vista e juntou dinheiro para comprar uma passagem de avião até Curitiba. Ela estudava Medicina na Venezuela. Hoje, estuda Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“Cheguei ao Brasil com R$ 30 no bolso. Quando saí da Venezuela, a polícia já tinha matado 180 estudantes que protestavam contra o governo. Eles protestavam porque não tínhamos comida”, lembra. “Procurei na internet uma cidade com um grande número de universidades e encontrei Curitiba. E fica perto da Argentina, pensei que, se não desse certo de ficar no Brasil, me mudaria para a Argentina. Tive que aprender o português bem rápido para trabalhar e sobreviver, cheguei aqui com R$ 300 reais, era questão de vida ou morte.”
Lima diz que a situação começou a piorar quando Nicolás Maduro chegou à presidência do país, em 2013. “Na época do (ex-presidente) Hugo Chávez já era ruim, não tínhamos roupas para comprar, mas ainda tinha comida. Não tinha arroz, não tinha macarrão, mas sempre tinha alguma outra coisa”, conta. “Agora não tem nada, e se tem é muito caro. Agora só comem mandioca com sardinha. Minha mãe é professora e ganha 300 mil bolívares por mês, um quilograma de carne custa 350 mil bolívares”.
Segundo a venezuelana, também houve uma escalada da violência nos últimos anos. “É pior do que aparece na TV. Até julho do ano passado, 180 estudantes foram mortos por protestar. E tem muito malandro. Não tem trabalho, não tem o que comer e muita gente rouba. Tem saques em padarias e supermercados”. Natasha diz que não sentiu preconceito por parte dos brasileiros. “Curitiba tem muitos imigrantes, japoneses, haitianos e colombianos. Não sentimos muito preconceitos”.
Outra refugiada, que preferiu não ter a identidade revelada, chegou há um ano e três meses. Maria (nome fictício) foi para Curitiba com o mesmo motivo: estudar. “Saí do meu país por causa da crise humanitária. O mundo inteiro está em crise, mas é difícil dizer o que ocorre na Venezuela. É uma guerra civil controlada, uma ditadura”, afirma a estudante, que é da cidade de Mérida. “Tem escassez de produtos, inflação, fila para comprar qualquer coisa. Eu passei por isso sei que isso é verdade. E a delinquência cada vez maior. Estão roubando até diplomas de faculdade.”
A maior dificuldade para se adaptar, conta Maria, foi com a língua portuguesa. “Só que um dos motivos para eu vir para o Brasil foi aprender português. Sou formada em idiomas, falo francês e inglês e queria estudar português”, conta. “Quando cheguei, passei um mês sem conversar com ninguém porque não conseguia falar. Eu só falava em inglês com algumas pessoas.”
A venezuelana diz que foi bem acolhida em Curitiba. “Minha experiência tem sido muito boa, tenho conhecido pessoas muito compreensivas. Só é difícil explicar o que realmente está acontecendo na Venezuela”, comenta. “Voltar é a opção que a gente espera ter. Eu saí do meu país mas eu não fechei as portas para o meu país, eu gostaria muito de voltar. Mas por enquanto estou fazendo vida no Brasil, quero crescer pessoalmente a profissionalmente”. Atualmente, Maria é solicitante de refúgio. Com isso, conseguiu tirar CPF e carteira de trabalho.
( J.M.L.) ‘Quando saí da Venezuela, a polícia já tinha matado 180 estudantes que protestavam contra o governo. Eles protestavam porque não tínhamos comida