Folha de Londrina

AVENIDA PARANÁ

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Os passos da vida de Jesus Cristo, traduzidos nos mistérios do Santo Rosário, são os passos da nossa vida

Quando estava escrevendo sobre os 80 anos do Colégio Mãe de Deus, percebi claramente que os heróis da história — Padre Kentenich, as 12 Irmãs Fundadoras, os pioneiros londrinens­es — percorriam os mesmos passos de Nosso Senhor Jesus Cristo neste mundo. Não por acaso, o livro acabou ficando com 33 capítulos (assim como a nossa espinha dorsal humana tem 33 vértebras).

Agora escrevo simultanea­mente sobre mais duas personalid­ades da nossa história. Os dois livros também terão 33 capítulos, e por um motivo muito simples: somos todos, querendo ou não, imitadores de Cristo. Os passos da vida do Filho, traduzidos nos mistérios do Santo Rosário, são os passos da nossa vida. Podemos admitir a semelhança, e o resultado chama-se Céu. Podemos rejeitar a semelhança, e o resultado tem outro nome.

Anunciação é receber a notícia de uma nova vida dentro de nós.

Visitação é encontrar aqueles que amamos e alegrar-se com isso.

Nascimento de Jesus é contemplar a salvação e descobrir que ela tem o rosto de uma criança.

Apresentaç­ão no Templo é prestar homenagem às alianças mais antigas e primordiai­s.

Perda e reencontro de Jesus é saber que nossas angústias serão recompensa­das com a ciência da verdade.

Agonia no Jardim das Oliveiras é sentir que a dor de viver possui um sentido.

Flagelação é transforma­r os golpes da vida em plena redenção.

Coroação de espinhos é entender que o poder real só se alcança com sacrifício. Subida do Calvário é carregar o peso de nós mesmos. Morte na cruz é descobrir que a defesa do amor e da verdade conduz à mais absoluta solidão.

Ressurreiç­ão é compreende­r que para cada morte que sofremos existe uma vida sem fim, em que todo o bem se realiza para sempre.

Ascensão é perceber que a permanênci­a consiste no reflexo do alto.

Pentecoste­s é achar os dons que acreditáva­mos perdidos ou inacessíve­is.

Assunção de Maria é comprovar que a criatura segue o Criador.

Coroação de Nossa Senhora é dominar o sentido da imagem e da semelhança de Deus.

Batismo é, passando pelas águas da morte, emergir das águas da vida.

Bodas de Caná é selar a aliança e beber o vinho da eternidade. Anúncio do Reino de Deus é não exaltar o reino deste mundo. Transfigur­ação é contemplar o único Rosto. Eucaristia é tornar-se o que se é.

Na primeira leitura da missa deste domingo, emocionei-me mais uma vez com a história de Abraão, a quem Deus pede o sacrifício do seu amado filho Isaac. No último momento, quando o menino já está amarrado e Abraão ergue a faca, Deus impede o sacrifício. Em seguida, um cordeiro, preso à moita pelos chifres (símbolo do poder), é imolado no lugar de Isaac. Sempre pensei que esse cordeiro sem nome é, na verdade, a imagem do Filho que o próprio Deus sacrificou para redenção dos homens. Eis o mistério da fé.

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