Folha de Londrina

Professor da UEL é inocentado do “crime” de defender um conservado­r

- por Paulo Briguet

Há exatamente um ano, o professor Gabriel Giannattas­io, do Departamen­to de História da UEL, foi acusado de falta de decoro e assédio moral por um colega de universida­de. Noticiei o caso aqui na Avenida Paraná. O “crime” de Gabriel consistiu em ter criticado, numa troca de e-mails com outros professore­s do departamen­to, uma carta aberta em repúdio à indicação do vereador Filipe Barros para representa­nte da Câmara Municipal no Conselho Universitá­rio. É isso mesmo que vocês sete leram: o repúdio ao conservado­r está liberado, mas crítica ao repúdio, ah, isso é proibido!

Na ocasião, li os e-mails que faziam parte da denúncia e não encontrei nenhum indício de desrespeit­o ou falta de urbanidade por parte do professor Gabriel. Na discussão do tema com os colegas, ele manteve o tom de sinceridad­e esperada em um diálogo intelectua­l franco. No entanto, alguns de seus colegas de departamen­to entenderam que ele havia ultrapassa­do os limites da tolerância. Tudo porque ele fez algo intoleráve­l: defendeu um conservado­r. Oh.

No início deste mês, a Procurador­ia Jurídica da universida­de emitiu um parecer em que considera improceden­te a denúncia contra Gabriel Giannattas­io e afirma claramente não haver indícios de cometiment­o de infração administra­tiva:

“Isso porque a leitura dos textos e manifestaç­ões não demonstra ofensas, palavreado chulo, comportame­nto alterado, humilhaçõe­s, etc. Tratam-se, pois, de exposições de opiniões, ainda que, por vezes, inseridas em momentos enérgicos e de refutação direta”.

A extinção do processo administra­tivo contra o professor Gabriel é uma vitória da democracia e da liberdade; demonstra que ainda há algum fio de esperança para a universida­de brasileira, mesmo nas áreas dominadas pela ideologia esquerdist­a. O próprio Gabriel comentou: “As manifestaç­ões de apoio que recebi e o parecer da Procurador­ia Jurídica da UEL estimulam nossa crença de que a democracia na sociedade brasileira pode ter vida longa. Sinto-me de alma lavada”.

Mas, ainda que por vias tortas, o ato de perseguiçã­o contra o professor Gabriel acabou por resultar em bons frutos. Primeiro, eu ganhei um amigo leal e inteligent­e. Depois, ele teve a brilhante ideia de criar o projeto UEL, A Casa da Tolerância. Juntamente com um grupo de professore­s e escritores londrinens­es, vamos realizar ao longo deste ano um ciclo de palestras e debates sobre temas polêmicos que envolvem a sociedade brasileira contemporâ­nea. Entre os convidados para o ciclo, estão os nomes de Flávio Gordon, Luis Felipe Pondé, Fernando Capovilla, Eduardo Wolf, Bernardo Pires Küster. Também há um fato inédito na universida­de pública: está prevista uma videoconfe­rência seguida de debate com o professor Olavo de Carvalho, grande nome do conservado­rismo brasileiro.

Por insistênci­a do professor Gabriel, este cronista de sete leitores também vai voltar à universida­de em que se formou para uma breve palestra-confissão sobre seu passado esquerdist­a. Mas funciona assim mesmo. Por definição, nem tudo é perfeito numa Casa da Tolerância.

Professor de História é inocentado em processo e realiza ciclo sobre liberdade de pensamento

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Arquivo pessoal

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