Sinalização confusa
Com a posse do ministro extraordinário da Segurança, Raul Jungmann, a gestão Temer deu em poucos dias a segunda sinalização de que o tema se tornou a prioridade do governo – a primeira, é claro, foi o decreto de intervenção federal na área no Rio de Janeiro. Não há como criticar, quando se lembra que o estudo Mapa da Violência apontou que houve um crescimento de 415,1% no número de brasileiros mortos anualmente com armas de fogo entre 1980 e 2014, enquanto a população do País no mesmo período teve expansão de apenas 65%.
Em discurso no Palácio do Planalto, Jungmann enfatizou a necessidade de “combater o crime organizado dentro da lei” e da União “ampliar as suas responsabilidades em coordenar e promover as ações entre os entes federativos”, além de alegar que o Brasil “prende muito, mas prende mal”, já que o “sistema carcerário cresceu 171% e o deficit de vagas hoje se encaminha para 400 mil vagas”.
Ao destacar o “dentro da lei”, o ministro deixa claro que o Estado brasileiro em geral (não apenas o governo federal) não pode perder de vista que o cansaço da população diante do cenário de violência desenfreada não representa brecha para violações dos direitos humanos. Em um país de democracia historicamente recente, que no passado teve governos que adotaram violências de todo tipo em nome de uma suposta manutenção da ordem e que no presente mantém milhares de presos em condições degradantes, esse tipo de alerta nunca é excessivo. Ainda mais considerando que aventureiros ganham força política com discursos de “bandido bom é bandido morto”, a mesma erva daninha que não para de crescer em redes sociais e áreas de comentários de sites de notícias.
Ao mesmo tempo em que diz prezar o respeito à lei e aos direitos humanos por parte do próprio Estado, entretanto, a gestão Temer colhe a reação indignada de entidades e especialistas diante do anúncio de que os mandados coletivos de busca e apreensão seriam uma das estratégias durante a intervenção no Rio. A sinalização, portanto, existe, mas é confusa. É um luxo que não pode ser permitido em um país há muito atrasado na lição de casa do combate à violência.
Aventureiros ganham força política com discursos de “bandido bom é bandido morto”