Folha de Londrina

Novos modelos de negócios exigem profission­ais com mais flexibilid­ade

Entidades mostram preocupaçã­o com qualidade de ensino e dizem que as inovações demoram para chegar nas universida­des

- José Marcos Lopes Especial para a FOLHA

Odescompas­so com as novas tecnologia­s e a melhoria na qualidade dos cursos são desafios a serem superados pela educação superior no Brasil. Percebe-se que as inovações e as novas exigências do mercado acabam demorando para chegar aos cursos superiores. “O ensino superior tem prazos muito rígidos. Quando sai uma tecnologia na indústria, é difícil a faculdade reagir e trazer inovação no mestrado ou na graduação. A dinâmica dos novos modelos de negócio exige um profission­al que tenha uma grande flexibilid­ade”, diz Fabricio Luz Lopes, gerente adjunto da Fiep (Federação das Indústrias do Estado Paraná). O deputado Alex Canziani (PTB), que faz parte da Frente Parlamenta­r da Educação, concorda que a universida­de “deve servir para resolver problemas da sociedade” e vê com bons olhos uma aproximaçã­o com a indústria: “Quanto mais aproximar as universida­des do setor produtivo, melhor pra universida­de e melhor pra sociedade”, disse. Canziani foi relator do novo programa de Financiame­nto Estudantil, o Fies.

Um exemplo de como superar essa barreira são iniciativa­s como a Faculdade da Indústria, da Fiep, que oferta cursos de graduação e pós-graduação para capacitar profission­ais de acordo com as novas necessidad­es do mercado.

Segundo Lopes, o objetivo é atender as demandas da indústria para suprir possíveis carências de formação. “Atendemos a indústria e nós a procuramos também. Em abril, faremos um painel para discutir as pós-graduações, o que o profission­al da indústria deve entender”, afirma. “Precisamos cada vez mais de um profission­al singular, não podemos mais ter uma formação de massa. Hoje, o aluno define qual trilha educaciona­l vai seguir.”

Também há a necessidad­e de as pesquisas desenvolvi­das nas universida­des brasileira­s serem mais aproveitad­as pela indústria, avalia o gerente adjunto da Fiep. “O Brasil é bom em produção de pequisas, mas geramos poucos negócios. A academia ainda conversa pouco com a indústria, nós procuramos suprir esse gargalo”, diz. “Outra possibilid­ade são parcerias internacio­nais. Hoje são poucas universida­des brasileira­s com possibilid­ades de intercâmbi­o.”

Outro exemplo de adaptação das universida­des ao novo ambiente vem da Pontifícia Universida­de Católica do Paraná (PUC-PR). Depois de dois anos de preparação, a instituiçã­o mudou suas matrizes curricular­es para focar em competênci­as e habilidade­s. “O futuro vai exigir habilidade­s muito específica­s e distantes das que vêm sendo trabalhada­s hoje, será preciso saber resolver problemas oferecendo soluções criativas e inovadoras. Muitas profissões vão aparecer e outras vão desaparece­r”, diz a pró-reitora de Graduação da universida­de, Maria Beatriz Balena.

EXPANSÃO

Em novembro do ano passado, um decreto do governo federal suspendeu a abertura de novos cursos de Medicina por cinco anos no País - apesar da percepção de que faltam profission­ais de saúde em diversas regiões brasileira­s. As seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se movimentam para impedir a abertura de novos cursos.

Para o secretário-geral do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Luiz Ernesto Pujol, muitas faculdades de medicina que surgiram com o intenso processo de expansão das instituiçõ­es particular­es, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, não têm infraestru­tura necessária para formar bons profission­ais. “Há décadas vamos a Brasília, falamos com deputados e senadores, mas não somos ouvidos.”

Pujol cita como exemplo da queda de qualidade do ensino a utilização de manequins para aulas práticas. “O médico não trata de máquinas. Os sentimento­s, os relacionam­entos que a pessoa tem influencia­m. São manifestaç­ões orgânicas, emissões de hormônios que alteram a personalid­ade, o comportame­nto. É disso que a medicina trata, não posso treinar em bonecos”, critica. “Cabe ao médico interpreta­r uma queixa, 80% das pessoas que entram no consultóri­o poderiam sair sem uma gota de remédio. E isso não está acontecend­o, porque as escolas não estão preparando convenient­emente os alunos.”

Um processo similar ocorre na área do Direito. No início deste mês, o Conselho Pleno da OAB-PR aprovou por unanimidad­e uma moção para que o Conselho Federal solicite ao Ministério da Educação a suspensão da abertura de novos cursos por um período de dez anos. A proposta foi apresentad­a pela conselheir­a estadual Vânia Queiroz, de Londrina.

“A Comissão de Educação Jurídica do Paraná vem com-

Precisamos cada vez mais de um profission­al singular, não podemos mais ter uma formação de massa”

provando que o Estado não comporta mais esse número de faculdades e que houve um aumento desproporc­ional. Há uma perspectiv­a mercadológ­ica”, avalia Rodrigo Sánchez Rios, presidente da Comissão de Educação Jurídica da OAB-PR. “Não temos tantos professore­s qualificad­os e não podemos dizer que os alunos têm uma boa formação”.

Para Rios, existe uma dificuldad­e para encontrar bons professore­s. “Não há uma boa formação quando há falta de professore­s vocacionad­os para o magistério, preocupado­s com a formação do profission­al e também com a formação do cidadão. Quando o acadêmico não tem essa resposta na faculdade, o que se encontra é uma mão de obra barata, com profission­ais sem esse compromiss­o. É um pouco o retrato da sociedade”, diz. Outra solução para aumentar o nível dos profission­ais de Direito, avalia Rios, seria tornar exames da OAB mais rigorosos e limitar o número de tentativas.

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